Tuesday, December 25, 2007

NATAL

Acordo e é Natal.
Sem chaminé.
Sem os meus pais.

E é Natal
O Manuel, septuagenário (o menino ainda dorme)
Eu com uma tíbia partida
Os meus filhos, sempre meninos, acrescidos do Paulo e da Ana
Os meus netos
Os meus sobrinhos
Os amigos
A casa desarrumada
As mensagens de telemóvel
Os e mails
Os que me vão visitando por aqui
Os meus vizinhos todos
O mundo a entrar pela televisão

E é Natal
A deixar-nos dizer
a deixar-nos ser o melhor que há em nós

ORAÇÃO EM NOITE DE NATAL

Nasce, Menino Deus,
Nas nossas mãos vazias.

Nasce
No gesto que não tivemos,
Enquanto Te esperámos.

Nasce nos passos que não demos.
E nas palavras que, às vezes,
Tantas vezes, Te negaram.

Nasce nos silêncios que foram cobardia.

Pressinto que nos aceitas como somos,
E és a nossa única Esperança,
Quando a dúvida e o medo
Encharcam nossos dias.

Pressinto e sei.

E tento.
Tento quando entrego aqui e ali
Um quase nada,
Nesta forma frágil
A que chamamos uma lembrança de Natal.

Tão pobre este dizer!
Mas é assim que Te proclamo presente,
Menino Deus,
Príncipe da Paz.

Monday, December 24, 2007

uM BEM HAJA ENORME


Antes de me deitar com o meu amor septuagenário,


quero dizer a todos um bem haja enorme.


A Festa do Manel foi linda.


Falaram os afectos


nos sorrisos


nas distâncias percorridas


na quantidade de boas vontades e de dinamismos




Em tudo


Em todos




Vou tentar postar o rapaz pequenino e mais crescido (parece que esta não tenho... a ver)
NÃO O CONSEGUI CRESCIDO. MAS DE SAINT-ÉXUPÉRY «TODAS AS PESSOAS CRESCIDAS FORAM PRIMEIRO CRIANÇAS.»

Sunday, December 23, 2007

O GRANDE DIA

Pronto, cá estamos. O Manel faz hoje setenta anos. VIIIIIIIIIIVAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!

Decidi ir deitar-me agora, passados quarenta e quatro minutos da meia noite.
Disse-lhe.
Resposta:
- Hoje vais ver o que é dormir com um septuagenário!!!

Sempre surpreendente o meu marido!

PARABÉNS, MEU AMOR SEPTUAGENÁRIO
PARABÉNS.

Saturday, December 22, 2007

JOANA

Eu é que agradeço.
E não consigo aceder ao seu blog. Incompetência....
Sorry...

Friday, December 21, 2007

À LENA, À ZÉ, AO ANTÓNIO ...

Ontem fizemos quarenta e oito anos de namoro.
A este respeito nunca escreverei nem direi nada de jeito.

Sóa gratidão a Deus, à vida , ao Manel, aos nossos filhos, aos nossos netos, a todos os amigos. De um modo muito especial à Lena, à Zé, ao António que às três da manhã, nessa noite de 19 para vinte de Dezembro tiveram «a pachorra» de vir a pé do Príncipe Real até Campo de Ourique para «fazer companhia» a essa nossa história a começar.
Pois ontem voltámos a passar no Príncipe Real. Agora todo iluminado.
Depoism, até ao Chiado.
E um bife com muito molho a dois na Brasileira.

Com muito molho.
Muita história.
Muito amor.

Tuesday, December 18, 2007

TANTA VEZ NATAL

Na reunião de Bíblia.
Ela nunca tinha dito quase nada. Mas um jeito de ternura humilde e alguma pobreza adivinhada.
Na reunião de ontem sentei-me ao pé dela.
O tempo todo sem falarmos.
No fim «Se pudesse rezar pela minha neta. Tem quatro anos e não consegue andar.»

Há dois anos que estou com ela neste grupo. Como escondeu a dor?

E deu-me um embrulhinho feito em casa. Uma caneta para o Manuel. Para mim um terço, vindo de Roma, em bolsinha de veludo. Já o tenho na mala.
He~de dedilhar-lhe as contas em preces.
Por ela.
Por todas e por todos como ela.
Que escondem o sofrimento. E com ternura humilde dizem o Amor.
Tanto Natal, Menino Deus. Tanto Natal.

É NATAL

Não gostava lá muito ou quase nada daquela espécie de sacristão lá na minha paróquia.
Sempre no altar.
Muitas vénias.
Penteadíssimo.
Fatinho completo. Gravata e tudo.
A falar-me com muita timidez ou sei lá.

Hoje, surpresa!
Foi ele que veio ter comigo. «Para lhe desejar um bom Natal.»
Eu - «Mas ainda nos vamos ver»
Ele - «Já está tão perto» E um sorriso largo. Pela primeira vez.

E para mim «Louvado seja Deus»
Afinal já gosto desta espécie de sacristão.

Monday, December 17, 2007

P'RA QUE SEJA NATAL

Ainda que seja Natal,
ainda que me deixe encantar com os gestos de nada com que compro um presente,
gestos que são deste tempo,
gestos donde nascem sorrisos,
às vezes,
quero este dom das lágrimas.
Por um nada talvez.
Porque há palavras que ferem
Palavras que não sustentam a vida nem os dias.
São palavras que atravessam a noite
E escondem as estrelas.

E ainda que não queira esta ferida,
Eu preciso das lágrimas.
Preciso das lágrimas
P'ra que seja Natal.
Serenamente.
Natal

Thursday, December 13, 2007

JOANA E INÊS


É que é mesmo uma história de amor.
Por duas razões maiores:
gostamos e queremos gostar.

Um dia qualquer talvez eu consiga explicar isto:
Gostar e querer gostar.
É como fazer uma malha ou escrever um poema. Faz-se com persistência. E devagar. Faz-se com gestos banais, subitamente iluminados. E às vezes sem luz.

Mas agora que já é noite, um beijo para cada uma.

E, Inês, também no meu coração o dia 8 foi o dia da mãe.
Porque este era o dia da mãe, quando - tantas vezes sem jeito - eu dizia «Mãe».
E agora ainda é. neste fio de tempo e tempos de que se faz a vida.

E bem haja pelas visitas e pelas palavras.

E CONTINUAMOS A PREPARAR A »FESTAZINHA» DE ANOS DO MANEL, QUE É NO DIA 23.
BEM BOM!

Wednesday, December 12, 2007

A VIDA SEM PORQUÊ


Tinha enviuvado.
Parece que se não habituava a esse súbito estar só.
E aquele amigo do marido por perto... Não era fascinante. Estava por perto.
Tinha ido a Londres com a filha e o genro. E não gostou. A ver uma montra, num tempo e num ritmo seu. « Mãe, venha depressa, não fique sempre aí parada...» Não. Isso não.
Queria de volta o seu jeito de estar.
E aquele amigo do marido, era uma companhia. Uma boa companhia. Viagens a seu gosto. Tudo como quisesse
Um «casamento» em Espanha.

Tomei ontem um café com ela.
Oitenta anos.
«E agora tenho ali um homem que me pergunta a toda a hora aonde é que vou.
Que me vai sempre levar e que me vai buscar.
Nem um passo só meu.»

Não tive nada para dizer. Talvez lhe faça um telefonema, agora que é Natal.

A vida assim. A vida sem porquê....
Mas ainda assim, é vida.

Thursday, December 06, 2007

PAUSA

Esta «pausa» deve-se à preparação da festa de anos do Manel.

58 ENVELOPEZINHOS... E a vista aos sessenta e sete anos...

Ele merece TUUUUUUUUUUUUDDDDOOOOOOOOOOOOOOOO

E «a gente» gosta de festas....

Thursday, November 29, 2007

UMA AVÓ TEM SEMPRE TUDO

Senti-me «apanhada em falso», pelo Manuel Maria ontem à noite.

A cena foi esta:
MM ontem quando chegou da catequese e viu as fatias de Pão Rico ao pé da torradeira:
MM - Avó, posso fazer uma torrada?
Avó- Desde que jantes...
MM - Vou pôr manteiga. A avó tem doce de morango?

Senti-me em falta. O normal numa avó é ter sempre tudo. E eu não tinha doce de morango.
Quarta feira vou mesmo ter doce de morango.

GOSTOS

Já aqui fui desafiada para escrever «gostos», «hábitos», «manias»
Tenho imensos. Parece que por isso não me tenho atrevido a começar.
Vou fazê-lo

Gosto

de tricotar pegas de cozinha
de ler e reler, de saber de cor Lobo Antunes, Agustina, Cesário
de andar a pé
de salas de espera nos centros de saúde
de salas de espera de hospitais
da sala de espera da catequese dos Marias
de toda e qualquer sala de espera

parece que gosto de esperar
é um tempo único, em que fico enfim calada e oiço. Se me parece bem, faço um sorriso, dou uma palavra, torno-me «igual»

e gosto de gostar, melhor, preciso de gostar. É essa a minha única respiração. Gostar.

É capaz desta postagem não ficar por aqui

Friday, November 16, 2007

PROCURAREMOS O NOME PARA DIZER A «MORTE»

Em cada um destes dias, tem morrido um amigo.
O sobressalto
A ausência
Dizemos «nunca mais»
Dizemos «tenho tanta pena»

E parece que não sabemos a dor. Nem as palavras.

Amanheci assim. E amanheci também com sol.

Pressinto que devagar, só muito devagar, aprenderemos a viver com esse «sem» enorme.

E a vida afirma-se nas palavras que trocámos, nas memórias, nas refeições que comemos juntos.
A vida afirma-se.

Sunday, November 11, 2007

SE EU TIVESSE UMA VACA


Na consulta de nutricionismo:

A médica procura todas as formas de me ajudar a emagrecer.
Analisamos a lista dos alimentos proibidos (ali confesso tudo).

M - Volta a beber aqui um copo de leite?
T - Volto. Sabe, gosto imenso de leite. Se eu tivesse uma vaca é que estava bem.
M - Se tivesse uma vaca?!
T - Já tive. não tive uma. Tive p'ráí trinta.
M - Teve trinta vacas?!
T - Em Lisboa.
A senhora abre os olhos e a boca...
T - Verdade!

E conto-lhe a «história verdadeira» do meu avô a cultivar as quintas que iam do que hoje é o hospital de Sta Maria até ao colégio Moderno.
E os cães.
O boi com os olhos vendados e eu a chicoteá-lo para ele andar muito depressa.
E as vacas.
E as papoilas no meio do estrume.
A carroça desde a leitaria ecila até à quinta.

M - Não consigo imagimar...
T - Tá a ver que sou muito antiga.
M - Temos que fazer mais jantares da Filipa para contar essas suas histórias.

Filipa Pais de Sousa, vá lá, arranje uma razão qualquer para outro jantarzinho.
Antes que as histórias verdadeiras se tornem lendas. Longe...

FESTA DE TODOS OS SANTOS, CASTANHAS, AMEAÇOS DE GRIPE E OS PRÍNCIPES A FAZEREM ANOS


Este «título» já diz quase tudo.
Este regresso aos dias, aos festejos, ao afecto com que envolvemos a vida, ano após ano.

Talvez nunca aqui tenha contado que a minha mãe, que passava tanto tempo em Tibaldinha, gostava muito de castanhas. Aí pelos finais de Setembro, eu escrevia-lhe um postal ( qual telefone, qual quê, e muito menos telemóvel) «Mãe, volte que já há castanhas».
E lá vinha ela de comboio. Eu ia esperá-la a Sta Apolónia. Depois estávamos ali três dias (máximo) sem discussões, um paraíso, naquele doce sabor e cheirinho das castanhas.
Hoje são os meus netos (parece que todos) que as adoram.

E faz-me pensar este fascínio. CASTANHAS...
É o cheirinho na rua?
É o carro com o assador?
O fumo?
O vendedor que mais parece o Pai Natal?

A vida é mesmo feita destas coisas.
Bem bom!
Hei-de encontrar e dar-lhes a história fascinante de Martinho.

Sunday, October 28, 2007

HOJE

Hoje
no dia de hoje
a morte escreveu o teu nome no meu dia.

E afirmaste-te única.

Para sempre o sorriso.
Para sempre tanta coisa que ainda não sei.

Hoje
é na noite que te canto.

Thursday, October 25, 2007

PELO DOM DO MUNDO VIRTUAL


Hoje fiz um comentário em «Realejo» e percebi que seria bom publicá-lo em jeito de dizer quanto é bom ter esta janela e ler e reler outras janelas e saber dos afectos que se tecem.
E agradecer.

Foi assim que escrevi a propósito de um reencontro da autora de «Realejo»:

«Quando o melhor são os encontros, como o nosso aí em Faro... São bálsamo para os dias, para todos os dias, e tantas vezes os dias são difíceis.
Também os caminhos do encontro são estes, caminhos que percorremos num mundo que chamamos virtual e que é tão real.»

Wednesday, October 24, 2007

DO MEU BAIRRO, CAMPO DE OURIQUE

Acontecem-me todos os dias encontros fantásticos.

Hoje, ao fim da tarde entrei numa «leitaria» em frente da Machado de Castro.
Meia torrada e um garotinho.
Sente-se aqui, tem um lugar.

Não hesito em aceitar aquela mesa com duas senhoras ainda com mais idade do que eu. Queques e copos de leite.
Mora por aqui?
Moro. E já tive uma leitaria no largo da Páscoa.
Uma leitaria no largo da Páscoa? Há muitos anos ia lá comprar leite.
Pronto. Estava feito o clique.
Nós não, nós não somos daqui. Somos da Beira Alta. De Viseu.
E eu, logo a casa de Tibaldinho.
Nascemos na rua Direita. Conhece a rua Direita?
Tão bem, tão bonita. Vai dar à Sé.
Está muito diferente Viseu. Não vamos lá há muito tempo. Mas tudo muda.
E eu que não. Que ali no centro, Viseu está na mesma.
Então gosta de Viseu?

E eu gosto de tudo. E nem sei se Viseu mudou ou não. Também não sei há quanto tempo conhecia aqueles rostos. E as palavras. E os lugares.

Bendita torrada e bendito garotinho.
Bendito fim de tarde.
E esta linha única de que se faz a vida.

Ali, naquela leitaria do meu bairro.

PARA A INÊS E PARA A ANA

Por favor, desculpem-me tanta incompetência.
Em dois comentários que fiz na postagem anterior, ONDE SE LÊ «PAI» DEVE LER-SE «TERESA».
É que é preciso mesmo paciência...

Monday, October 22, 2007

MANUEL MARIA


Os nossos netos começam a fazer anos hoje e só param em Fevereiro.

Hoje é o Manuel. O nosso príncipe dos caracóis.

Parabéns, príncipe.


Olha, pincela a vida toda com esse sorriso que às vezes até parece teimosia. Mas é sorriso.


Vou tentar postar aqui «O principezinho» de Saint-Exupéry. Tão inquietante como tu.


Mas tu és o nosso príncipe. O que te torna único como a sua rosa. ( um dia hás-de ler...)

QUANDO SE TEM ALGUÉM...

Foi mesmo nesse dia da luta pela erradicação da pobreza.
Eu,, no cabeleireiro.
Uma cliente, toda arranjadinha, unhas e tudo, tinha aquele semblante triste e não falava.
A empregada «é que esta senhora vai entrar agora no hospital para ser operada».
E eu aquela frase pouco convincente «Vai tudo correr bem»

E a senhora «isso é bom de dizer, quando se tem alguém»

Caíram as palavras no silêncio.
Caíram neste mar enorme e tão fundo onde não podemos chegar.

Ou é que mesmo assim, inquietos, chegamos?

Wednesday, October 17, 2007

PELA ERRADICAÇÃO DA POBREZA

Para me levantar contra a pobreza, dou-me a mim própria a ordem de ouvir os pobres aqui no meu bairro. Campo de Ourique. E são tantos. É só, por exemplo, ir à farmácia e ver como são escolhidos os remédios, «porque não posso pagar todos». Ou ao mercado. Ir e ouvir
Parar.

Hoje, talvez só assim.

Ao começar o dia, vamos ver.

Tuesday, October 16, 2007

A MUDANÇA DE CORAÇÃO

De Frei Bento Domingues in «Público» Domingo, 14 de Outubro:

«Na Benção dos Doentes, antes da Procissão do Adeus, ouvi, anos a fio, o clamor do Evangelho: Senhor, se quiseres, podeis curar-me! É certo que Fátima nunca foi um santuário de milagres exteriores. também Jesus, através das curas que realizou, nunca pretendeu substituir os avanços da medicina. Ele apenas atirava uma pedrada ao charco da indiferença.
O grande milagre, ainda hoje, é a mudança do coração: saber colocar as descobertas científicas e as novas tecnologias ao serviço de todos, a começar pelos mais pobres. Poderá o Santuário de Fátima profetizar, com gestos concretos, esta conversão?
As ciências, a interrogação religiosa, a estética e a ética nunca podem andar separadas.»

Subscrevo e aplaudo, Frei Bento. E bem haja!
Nota - O negrito é meu.

Sunday, October 14, 2007

FÁTIMA A CAMINHO DE TIBALDINHO


Voltamos.
Desta vez «de corrida» para pagar os portões novos.
E outra vez o fascínio da casa que foi sempre.

Vamos a Fátima. Feliz revisito a infância, esse tempo de fé inquestionada.
Revisito a infância.

Tanto racionalismo pelo meio para querer hoje e sempre um coração semelhante ao desses meninos que um dia viram uma senhora vestida de luz.

E desejosa de mergulhar nesse outro mar - BASÍLICA DA SANTÍSSIMA TRINDADE.

E hei-de contar.

Sunday, September 23, 2007

ENCONTROS TAMBÉM ASSIM

Chegámos do Algarve, de Faro, de Évora...
Inesperadamente no Câmara Clara, Carlos do Carmo, de quem gosto tanto.

Sempre gostei. Sempre ouvi falar dele (julgo que era filho de um colega do meu pai, não tenho a certeza. Os meus pais falavam muito de Lucília do Carmo, ...)

Uma noite, o Manel, a Zé e eu, fomos para o ouvir. Não cantava nessa noite.

Como é que se passam estes anos todos e só os discos e a televisão?

Às vezes, os encontros são assim. E fica também certo.

Tuesday, September 18, 2007

CONFIDÊNCIA


Tento em cada dia o que a minha mãe dizia a propósito de uma receita culinária ou de uma malha, em que ela era um génio, um génio mesmo.

Eu, sempre impaciente, pedia respostas
«Explique lá»

«Quanto de açúcar, quanto de ...?»

«Mas quando, mãe?»

«Vais vendo», respondia.
Na altura, eu achava que aquilo não era resposta.

Hoje, lembro-me todos os dias deste «Vais vendo».

Lembro-me, agradecida. E sempre a ver se aprendo.

PARAÍSO, O ALGARVE


Afinal gosto tanto do Algarve, tanto!
Para o mostrar transcrevo do mail que acabei de enviar à Ana :

«Adoramos estar aqui! Tomamos banhos e tudo, coisa que já não acontecia há tanto tempo!(banhos de mar, entenda-se...)
E eu até adoro a rua de cima. Demoro por lá imenso tempo, nunca mais chego a casa. Páro em todo o lado e entro em montes de lojas onde na verdade, até ver, não compro nada. MAS É TÃO GIRO ...
Conheço imensa gente e falo com imensa gente. O paraíso, p'ra mim. Assim com gente e lojas onde há montes de coisas, com muitas cores e até barulho.
Adoro os chineses que fazem muitas vénias e até os ingleses, nem fico assim tão mal gorda como estou, porque há umas enormes...»

Monday, September 17, 2007

RECONQUISTA


Não aos Mouros.
O Algarve reconquistado pelo coração.

Esta reconquista faz-se devagar.

E faz-se com caminhadas.
Primeiro a medo, género «Vamos lá ver se a gente gosta». Na noite da chegada a praia percorrida a pé.
Depois sozinha. Ainda «Vamos lá ver».
E de volta «Ó Manel, ísto é mesmo fantástico!»

Hoje, pela beira mar e já o Manel se encharcou quando deu um malho para ajudar um pai a tirar os calções da criancinha.
Agora, quase seis da tarde, lá vamos outra vez...

Thursday, September 13, 2007

ALGARVE, TRINTA E TRÊS ANOS DEPOIS


Lá vamos afinal.
O médico disse que eu precisava de ar do mar, que é como quem diz, melhor, dizia «que eu precisava de ir a banhos».

O Algarve foi em 74 uma experiência daquelas que nos fazem nunca mais voltar.
Agosto de 1974 foi mesmo muito mau (dizem-me que Agosto continua assim).
Aquilo já era nessa altura a enorme barafunda de «imensa gente», «montes de gente» em todo o lado, quando eu ainda nem sonhava o que eram as enchentes dos centros comerciais, que detesto.
Nada desse tempo se pareceu com «férias». Antes uma canseira.

Eu em Tibaldinho a vida inteira, a aldeia sossegada, a aldeia toda como a nossa casa, sem filas para nada, com o tempo alargado ..., risquei a vermelho o Algarve de todos os programas ( voltámos lá acidentalmente num Maio qualquer, longínquo).

Agora vamos.
A ver se a cabeça e o coração me vão dizer que vale a pena.

Sunday, September 02, 2007

REGRESSO




Regressar de Tibaldinho já não é de comboio. (eu gosto tanto de comboios). E muito menos é «estar quase a chegar» porque passávamos esse túnel tão comprido e tão escuro, sinal de que estávamos quase na estação do Rossio. E no Rossio, eu cheia de sono e a minha mãe «Teresinha, olha os anúncios». Era a Singer, que me lembre e as rodas da máquina de costura brilhavam e giravam.

Hoje, nós de carro. Para animar paramos numas áreas de serviço com preços proibitivos. E às vezes, lá tento, «Manel, talvez almoçar em Leiria, sai num sítio giro, não temos pressa». Ou compro o jornal que nunca leio. Ou uma revista qualquer com a colecção Outono-Inverno.

Mas é um regresso. E como aos meus netos apetece-me um caderno novo, branquinho, um lápis giro.
Logo se verá.

Wednesday, August 29, 2007

VÉSPERA


Aguardámos-te na noite.
O pai e eu.
A Maria que ficou em casa da avó Céu e a passear com o tio João.
Os avós e a tia Belmira com nota especial para a avó Alice, que deve ter estado sempre acordada, sabes que ela era assim. Para de manhã chegar super cedo aos «empregados do comércio», antes de qualquer horário permitido.
Esperámos-te tranquilamente. Não tive dores. O pai nem acreditou quando lhe disseram que «estava feita a dilatação». O pior foi depois, ...

Nasceste às 10h30 do dia 30. Um bocadito feio, é verdade.
Lindo depois.
Parabéns André!
Parabéns, Aninhas.
Parabéns, Marias.
E parabéns a todos nós.
Aos teus amigos todos.

PAIXÃO PELA BEIRA ALTA


Às vezes andamos à procura de quê?

Aqui tudo tem MUITA histótria. Muita vida.

Não há pedra que não fale.

Caminhos. Tantos.

Deixo-vos hoje «outro cheirinho», enquanto a tal máquina do Manel não conseguir tirar uma fotografia à nossa casa que ameaça cair e nunca cai.


Hoje, Linhares da Beira

Tuesday, August 28, 2007

CASTELO NOVO E ALPEDRINHA



Estes são alguns lugares da infância do Manuel.
Revisitá-los assim, o Manuel com quase setenta anos. Sessenta anos depois...
Depois?
A serenidade, nesta altura da vida, faz-me suspeitar que o tempo, nenhum tempo nos separa dos lugares.
E isso é bom!

Saturday, August 25, 2007

EDUARDO


Vais fazer-me muita falta. Vais fazer-nos muita falta.
Desde aquele teu artigo na Página Juvenil do Diário de Lisboa. Não me lembro quando, julgo que ainda não era aluna do teu pai. Ou era? Quando se é novo, quatro anos é muito....
Agora, hoje, no dia da tua morte, voltaste a ser «tão mais novo do que eu».
Fica esse teu sorriso.
Faltam-nos as palavras. Exactas. E leves. Procuradas sílaba a sílaba. As tuas palavras.

Lembro-me dessa tua crónica que recebi anexada a um mail. É um texto lúcido e cheio de dor. O teu país, Eduardo.
E volto a transcrever-te.
«Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência, nem memória política, nem histórica, nem económica»

A ver se ao menos o teu país, este país que hoje deixaste, te lembra.
Sempre.

Monday, August 20, 2007

REPENSAR O PRESENTE



Do Carlos Tê, na «Visão» de 9 de Agosto:
«Ontem ao deitar fora uns jornais velhos, dei com a Hanna em Avanca, a dar um curso para actores. Sim, há poucos dias em Avanca. (…) Essa foto (…) fez-me recuar trinta anos. (…) e vi-me a mim e a ti, o que eras, o que éramos, o que somos agora. Nesse tempo, há trinta anos tinhas sonhos, curiosidade. Hoje só tens entusiasmo por um novo modelo de telemóvel. A culpa é do mundo, que está mais roliço, e do tempo, que está mais rápido, o que torna tudo imediato e disponível. Os Stones vieram a Portugal dois anos seguidos, a Hanna Schygulla esteve em Avanca. Um dia destes o Spielberg vem filmar a Unhais da Serra e a gente não dá por nada. Tu não andas distraído, muito menos melancólico, a tua atenção é que é apenas selectiva. És capaz de trinta horas ao relento numa fila para a inauguração do Ikea em Matosinhos e alcançar a experiência mística de ser o primeiro a entrar, ou o décimo, para ter direito ao brinde de cem euros em compras. Tens o dom de estar atento à pechincha, aos faqueiros em promoção, aos armários em PVC, e a tudo o que de mais concreto há na vida: a gloriosa diversidade do mobiliário.»

Saudades do passado, não é grande coisa…
Mas tenho para mim que vale a pena repensar o presente.

Thursday, August 16, 2007

A CADA PASSO, A ARTE


Em Tibaldinho, a cada passo, a arte.
Peças que se vendem.
que se guardam nas casas de cada um.
Arcas muito antigas.
Histórias.
História de verdade.
Memórias muitas.

E como teia que não acaba nunca, as mãos das mulheres da nossa aldeia, mãos rudes que trabalham também o campo e as labutas da casa, continuam a bordar estas relíquias. Todos os dias. Manhã cedo. até que se tolde a luz. e que o sino toque vésperas.

Wednesday, August 15, 2007

INCOMPETÊNCIA ...


Só fazendo nova postagem consigo juntar uma imagem.


Formas de incompetência....

SÓ POR CAUSA DO DIA


Pois. Esta espécie de pecado por «ainda não».
Ainda não disse «obrigada» pelos parabéns que recebi de cada um.
Ainda não escrevi nenhum postal.
Ainda não arrumei o armário dos copos.
Ainda não li o que queria na Visão.

Ainda não emagreci nadinha.
Hoje ainda não dei uma bela caminhada.
Nem escrevi.

Há bocado o Manel disse «O que me acontece mesmo aqui em Tibaldinho, quer eu acorde cedo, quer acorde tarde, é que não tenho nunca aquela espécie de culpa de que há qualquer coisa que não fiz.»
Boa, Manel.
Disseste assim o que é estar em Tibaldinho.
O que é hoje e o que foi sempre.
O dia sem culpa.
Só porque sim.

Como hoje é dia 15 de Agosto, vou ver se melhoro esta postagem com uma imagenzinha, já que a tal máquina fotográfica, ainda não...

Tuesday, August 07, 2007

QUE MANIA!


Outra mania que tenho é estar a dormir antes que chegue a meia noite do dia dos meus anos, oito de Agosto.

E já tão perto da tal meia noite quero aqui deixar um grande obrigada pela vida toda, inteirinha. Por todas as pessoas. Todas. Por todos os momentos. Todos.

O resto do texto há-de ser escrito amanhã ou depois.

Talvez já de Tibaldinho. Estamos num hotelzito em Castelo Branco,

E vou adormecer assim. Com a vida toda envolta em gratidão.

Monday, August 06, 2007

ONDE A VIDA?


Onde a vida no estilhaço da morte?
Onde o afecto e a ternura?

Onde....?

Sunday, August 05, 2007

VITUS




Quase por acaso, assim «Se fossemos ao cinema» e «Talvez no King vá qualquer coisa que valha a pena»
Fomos ver «Vitus».

Depois a mesa de um café e uma conversa feita de alguma reflexão e muitos silêncios.

Com muita convicção recomendamos «Vitus».

Wednesday, August 01, 2007

TIBALDINHO QUANDO SERÁ QUE VAMOS?




OS BERLINDES


Jantámos ontem com os manos M e J, o que foi bem bom. Mas insistiram em nos pagarem o jantar. E nós deixámos. «Que desta vez era assim. Uma vez uns, outra vez outros...».
Mas foi por causa deste «uma vez uns, outra vez outros» que me lembrei dos berlindes.
Quando namorávamos (pré-história, claro... ), dávamos um ao outro um presentinho. Todos os meses. No dia em que tínhamos começado esse namoro
Tudo muito bem. Até que o valor dos presentes começava a subir. E não parava.
Um dia o Manel resolveu isto de vez. Trouxe-me embrulhado na mão um berlinde dos maiores. Cheio de côr.

Os berlindes passaram a dizer a nossa vida.
Quando fiz sessenta anos (há quase sete, imaginem...) ofereci uma dessas bolinhas a cada amigo e juntei-lhe as palavras de António Gedeão «... e sempre que um homem sonha o mundo pula e avança, como bola colorida ...»
Meses depois o Manel fez anos. Vieram os netos.E o Francisco chegou de Évora com um berlinde como presente para o avô.

Os berliindes dizem assim a nossa vida. E esta vontade de sonhar. Até ao fim.

Tuesday, July 24, 2007

CONTINUAÇÃO

O Manel:
«Isto é muito engraçado, mas não percebo nada.
Ó filha, só me dás problemas.... (a máquina)

Olha, já vou no passo 3. Saltei 2, claro.

Hoje é dia, hoje é dia 24.
Agora,
e o mês é ...
O ano 2007
E a hora são 18,e 46

Agora tou tramado que fiquei só com... (ruído que não percebi)»

Silêncio.
Vou ficar por aqui.
É mesmo só esperar.

FINALMENTE A MÁQUINA FOTOGRÁFICA

A tal máquina fotográfica que o André deu ao pai no Natal veio para a Tomar.

Foi mesmo mesmo agora desembrulhada daquele celofane todo.

Neste momento o Manel na varanda do quarto (Hotel dos Templários,...)a ler as instruções.
E a falar sozinho.
«Agora vou começar a aprender.
Muito bem.
E depois.
Isto é a pantalla.
(parece que vem tudo em espanhol)
Tou tramado. Tás-me a gastar a bateria toda. Bem, cada um faz o que quer, é por isso que estamos de férias.»

Isto é só esperar.

Monday, July 23, 2007

UMA PAUSA


Viemos até Tomar,
Uma pausa nos dias que enchemos de «coisas».
Viemos «por nada».
E aqui, neste «por nada», a vida.

Thursday, July 19, 2007

DE EDUARDO PRADO COELHO

«Exactamente a fotografia ou radiografia do português e do país...

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem com Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada,t anto ou mais o que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL,DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO. Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos. Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência, nem memória política, nem histórica, nem económica. Onde os nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprova projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns. Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes. Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como Português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta. Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte... Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá.Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa? Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados... igualmente abusados! É muito bom ser Português. Mas quando essa Portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias. Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO. E você, o que pensa?.... MEDITE!»
EDUARDO PRADO COELHO
Meu caro Eduardo, é exactamente assim que eu penso.

CASAQUINHO COR-DE-ROSA

O Afonso já nasceu (e recebeu o casaco branco), o João já nasceu (e recebeu o casaco azul), a Alice já nasceu, recebeu dois casacos e ... eu ainda a acabar o terceiro. É que cor-de-rosa, ao fim de dezassete anos a tricotar branco e azul, tem sido uma tarefa com a maravilha de ser a primeira.

E o meu blog coitado... caladinho caladinho.

E as tarefas de casa, quase tudo por fazer, também não acabam nunca.

Vá lá de tricotar o casaco cor-de-rosa. Rapidamente.

Wednesday, July 04, 2007

BOM DIA


Tenho imenos «tiques», «vícios», «hábitos». Como quiserem.
O meu primeiro gesto da manhã é ler os mails no computador e abrir a janela.

Hoje quando abrri a tal janela, passava no passeio em frente a senhora que cozinha no café do Pedro.
E eu «Bom Dia».
Ela tem um sorriso daqueles que ajudam a viver.
«Bom dia» respondeu-me com o tal sorriso. «Lá vamos começar.»

É isso mesmo. Começar sempre. Recomeçar.
Começar de novo.
Bem, o meu filho André já escrevia aqui inteirnha a letra da canção....

«Começar de novo
E contar comigo...»
Tal qual.
Contar comigo. Cada dia.

MANUEL FRAZÃO e MANUEL FRAZÃO

Ontem fomos ao Jardim Escola João de Deus. A escolinha do Manuel (avô) e agora, a dos Marias todos.
Emocino-me sempre. Às vezes isto é só lágrimas ... Como se a vida passasse aos bocados num filme com montagem de memórias e afectos. Muitos.
De manhã foi a festa do Manuel (neto).
Tão compenetrado em todas os seus papéis!
Quando cantaram bem perfilados o hino do «João de Deus», liguei o telemóvel para o avô ouvir (o meu telemóvel não dá imagem, mas... o avô também tem lágrimas!).

E na entrega dos diplomas, foi... (não sei adjectivar,...). A professora chamou «Manuel Frazão».
MANUEL FRAZÂO!
Mas este, o Maria, tem o sorriso mais bonito que já se viu. Boca bem aberta, olhos a rir.

Entregou-me o envelope com a ficha de avaliação. E eu nada de abrir. Mas ele «É para a avó ler»

Parabéns Manuel Maria. Não tanto pelas notas muito boas que tiveste.
É que as avós, mesmo as avós professoras, poem a ternura no primeiro item da avaliação .

Friday, June 29, 2007

É URGENTE PENSAR

Não gosto nada de fumo, irrito-me com quem fuma, sei bem as suas consequências .
Temos passado algumas ou bastantes situações difíceis por causa do fumo, mas não posso deixar de concordar com o André. Por isso transcrevo do seu blog estas palavras, com um louvor por pensar.

«As declarações deste professor, situam o problema do tabagisgo na quantidade de dinheiro que o estado gasta em despesas relacionadas com o dito tabagismo. Mas andamos a brincar ? O problema do tabagismo reside no dinheiro que o estado gasta ? A saber e olhando para números de 2003: "O Estado, segundo o Boletim de Execução Orçamental de Dezembro de 2003, arrecadou cerca de 1220 milhões de euros com a venda de cigarros. Ou seja, dos 1593 milhões de euros envolvidos, 76,5% foram parar aos cofres públicos."Vamos ser honestos, fumar até que é estúpido, mas o tabagismo é um negócio rentável para o estado. Espero que o estado não gaste muito dinheiro em estudos descontextualizados»

Wednesday, June 27, 2007

HÁ PALAVRAS INFELIZES

Ontem fez anos a nossa rainha Ana.
A alegria e a confusão das festas com muitas crianças e gente nova! Bem bom! Tantas vezes me revejo por aí...
A rainha Ana é a nossa nora.
É isso que quero dizer. Há palavras infelizes.
Nora. Genro. Sogra. Sogro.... Guerra. Não. Fome. Solidão....
Uma data delas.

Era já meia noite quando o Manel recebeu no telemóvel uma mensagem linda que quero aqui escrever. Dizia
«Já estou no avião. Um beijinho de parabéns para a Ana. E para vocês que têm uma nora muito querida.»

É muito querida. Mas «não é uma nora»
Há palavras infelizes....
Vou mesmo procurar as palavras felizes.

E dizer Parabéns à Ana abrindo a janela da ternura.

Wednesday, June 13, 2007

NARURALMENTE QUERIA QUE LHE TROUXESSE OS PÃEZINHOS...

Pães de Santo António.
Ainda tenho ali um, bem rijo, que a avó Alice trouxe para «os meninos», quer dizer, para a Maria e para o André. Está ali, na cristaleira.

E hoje, aquele telefonema da Maria do Céu.
«Fui à igreja de Santo António. Trago sempre uns pãezinhos para os meus netos. Naturalmente também queria que lhe tivesse trazido para os seus ...»
E eu que não, não costumo.

Mas depois, o melhor, se tiver saúde, é ir lá para o ano.
Afinal os rapazes podem rir-se, mas no fundo, no fundo hão-de gostar.
Pão,
em pãezinhos pequeninos, pela cidade, ...

ÀS VEZES NÃO CONSIGO POSTAR NADA

E depois fico aqui imenso tempo... e nada.
Por exemplo, Zé e João, não consegui escrever-vos.
Daqui vai um beijo muito amigo e... incompetente também

Saturday, June 09, 2007

«ESCREVER PARA VIVER» « VIVER PARA ESCREVER»

Como se de uma malha de afectos
se tratasse ...

POSSO FAZER-LHE UMA PERGUNTA? GOSTA DE POESIA?

Fomos ao Chiado comprar café.
Lá consegui fazer o Manel acreditar que o 28 é fantástico e rápido e é que foi mesmo.

Ao pé da igreja dos Mártires,uma rapariga, um rosto e um sorriso.

Depois as duas perguntas.
E o sorriso.

Numa mão algumas folhas com poemas.

Eu «Você está aqui a dar-nos poesias?»

»Eu não dou poesias. Vendo»
E o sorriso
«Para não pedir»

Comprei com um nó na garganta.
«Deixe-me dar-lhe um beijo. Não se compra a poesia»

E ela «A senhora cheira muito bem.»

E quando o Manel acendeu uma cigarrilha «Posso pedir~lhe uma? »

Por causa do café,
Por causa do Chiado que nos é tão caro e tão familiar.

Até ao fim dos meus dias, este rosto, este sorriso, estas perguntas.
E as poesias em duas folhas A4 dobradas na mala.
Talvez eu lhe tenha suscitado a memória de um tempo dos afectos! « A senhora cheira tão bem!

Que esta noite a envolva um tudo nada de ternura.
E em todas as noites.

E que o meu tempo seja sempre o tempo de parar.

Friday, June 01, 2007

A PANDEIRETA

Ontem, véspera do Dia da Criança, andei por aí à procura de um coisa de nada para cada um dos meus netos. Género um berlinde, uma gaita de beiços, uma bola de cor, qualquer coisa mesmo só para brincar... E nisto os meus olhos dão com uma pandeireta.
Veio a tal memória.
Foi assim em vésperas de Natal:
- Vá lá, Teresinha, pede ao Menino Jesus o que queres ter.
- Então, Mãe, saia daqui.
(eu teria uns quatro anos)
E saíu.
Mas havia uma porta que dava para a saleta ao lado.
- Então Teresinha, não pedes?
- Mãe já pedi. O Menino Jesus não precisa que eu fale alto. Eu já lhe disse. Baixinho.

Não sei imaginar o desespêro da minha mãe.

Dois ou três dias depois, foi dia de Natal.
Entro na cozinha (os presentes vinham na chaminé):
-Mãe, não tive a pandeireta!

Pobre Mãe.
Depois não houve mais Natal em que não recebesse sempre uma pandeireta.

Mas aquela primeira... Mãe!

Monday, May 21, 2007

SÓ SE PODEM JUNTAR AS MÃOS QUANDO ESTÃO VAZIAS

Roubado este título do meme de Nise no «sopro do coração».

E as minhas mãos sempre cheias,
qualquer coisa que impede
que dificulta o encontro total!

Friday, May 18, 2007

DEPRIMENTE...

Eu queria umas calças brancas.
Outra vez com corpo de baleia, tive de ir a uma loja de tamanhos grandes...

Amanhã bem cedinho, Jardim da Estrela.

E as torradas? O que é que eu faço das torradas?

Não quero conformar-me em ser gorda. NÂO QUERO:

GOSTO MUITO DE ESCREVER SMS

Este título é para dizer mais um dos meus tiques. Além das pegas que tricoto sem parar, das gavetas desarrumadas... e uma data deles.
Gosto mesmo de escrever SMS.
De vez em quando hei-de deixar algumas das que escrevo.
E rio-me quando o Manel me escreve »OK, bjs». É mais normalzinho, na verdade.

UM MINUTO OU MAIS POR DIA...

Li no último JL de Bruno Pacheco:
«O mundo é daqueles para quem o mundo começa na sua rua. Uma atitude política passa simplesmente por comprar ou não determinado produto: se em vez de ir ao supermercado mais poderoso, for à pequena loja e comprar os jornais na tabacaria e distribuir o dinheiro por vários sítios, estou a fazer com que o meu bairro não desapareça.
Um minuto ou mais por dia, pouco mais do que isso, custa-lhe essa consciência do sítio onde se vive.»

Tudo isto tem tanto a ver comigo, melhor, connosco.
E traz consigo a vida para lá das janelas, as pessoas pelo nome e cada uma com uma história.
Traz consigo a dor quando não podemos ajudar.
Traz também alegrias. E cumplicidades.

É mesmo a vida.

Wednesday, May 02, 2007

ENTRE TOQUES E APITOS!!!

Já fui aqui desafiada algumas vezes para «confessar» alguns hábitos/ manias ou assim.
Aqui vai um só, porque são tantos

Vivo entre toques e apitos.
É assim:
Se estou no computador marco o telemóvel para tarefas como telefonar a um amigo, fazer o almoço, estender a roupa e aquelas todas que são fáceis de adivinhar. Imensas! Graças a Deus, ainda posso e bem.

O apito é da panela de pressão. Cá estou eu a ajudar o Manel naqueles montes de trabalhos que ele faz na Net, eu ali aplicada e atentíssima e um apito horrível atravessa o corredor desde a cozinha. A panela de pressão! «Manel, espera aí, que tenho que ir baixar o lume...»

Alguma vez imaginei que a vida ia ser assim, «entre toques e apitos«?

Mas é que é mesmo divertido!

Sunday, April 29, 2007

ISTO É QUE SÃO OS TAIS CRAVOS?

No dia vinte e cinco de Abril, dois Marias (o Manuel e o António) vieram por cá. Grande brincadeiras no quintal.
À saída dei-lhes cravos, comprados em frente à praça de Campo de Ourique. E mandei um para o João. Se estas não forem as palavras exactas, ... vou tentar.
Ele perguntou aos pais «Isto é que são os tais cravos?»

É que há saltos enormes!
João Maria pede aos pais que te contem, melhor ainda, pede ao avô Tó. Ele sabe tudo

Tuesday, April 24, 2007

A NOITE, A MADRUGADA, O DIA

Na noite, sonho e lembro a madrugada.

Hoje, como há trinta e três anos.

Como todos os dias.

Credo de esperança.

Monday, April 23, 2007

FESTAS & FESTAS

Depois do anúncio da festa da Filipa, o meu blog ficou mudo, silenciado por inércias e tarefas.
Mas regresso.
Para festejar.

DA FILIPA
«Minha rica menina», pediu que dela disséssemos um defeito e uma qualidade.
E que contássemos uma história que a protagonizasse.
E eu com vontade de mandar calar os defeitos.
Oh Filipa, é que aquilo era uma festa, não era uma sessão de psicoterapia nem uma confissão.
E depois FOI E É A TUA FESTA. E tu a dizeres que «a partir de amanhã prometias emendar-te. Mesmo das vírgulas.»
Por favor, Filipa, corre. Corre a teu favor. Corre para o eléctrico 28. Ou para um outro qualquer. E agarra a vida. A TUA.
Feliz.

A FESTA DOS ANOS DA XEXÃO
Setenta.
A vida toda contada com afecto.
Em ramos de ternura.
Chamaste tudo e todos.
Os que já por cá estavam quando nasceste.
«Os», isto é, «as» do colégio.
Os da política.
Os da educação.
Os sobrinhos.
Etc… Etc…
Íamos desfilando. Tirámos fotografias.
Cada um acendeu uma vela. Que não se apagou.
Tivemos todos saudades.
E tivemos projectos.
Recomeçámos.
Fizemos a tua festa. E a nossa. Para continuar.
Desta forma sempre sonhada e nova, como cantou o Fanhais. Alcançamos assim Jerusalém.
A Ticha leu um poema do Tolentino «Os amigos».
Foi linda a tua festa.
É LINDA A TUA FESTA.

E A FESTA DO PAI
Na sexta-feira, dia vinte, teria feito anos o meu sogro (detesto esta maneira de dizer).
Num texto para a RR escrevi-lhe umas palavras que não são memória. São presença.
Aqui, quero lembrar-me dele sentado no sofá da sala. A ler. Não dizia nada. Ou quase nada.
A ternura do sorriso tornaram natural que qualquer uma de nós três (as noras), sem hesitações, sempre lhe tivéssemos chamado PAI.
E que hoje lhe chamemos PAI.
Ele poisa o livro devagar.
E olha-nos.

Friday, April 13, 2007

FILIPA PAIS DE SOUSA


Amanhã faz anos a Filipa. Vinte e oito.
Filha de uma colega minha e depois, grande amiga.
Conhecia a cachopa ainda adolescente, com um jeito simpático e rebelde. E com más notas a francês. A mãe, que «ela não gosta nada». E eu, « não pode ser. Vê lá se ela aparece lá em casa. Vai ser uma tourada, mas talvez…»
E foi assim.
Lá melhorámos.
No ano seguinte «se eu a ajudava em Literatura»
E era ver, perante cada autor e cada obra, uma jovem com uma das maiores qualidades que se pode ter: DAR LUTA PORQUE PENSA. As lições começavam sempre com frases como «não percebo nada», «não consigo» ou «não gosto »
E os olhos brilhantes. À espera da tal luta.

Julgo que a ela se deve a paixão que a Filipa ganhou pelas palavras, pela poesia, pelo teatro.
É vê-la no palco, genial, a dominar e a atrair uma sala cheia.

Recebi um e-mail «Vou fazer uma festa de anos para as mulheres da minha vida. E quero que esteja lá.»

Lá vou eu, Filipa. Surpreendida e feliz. Com quase quarenta anos a mais.
E ao pé de ti, imagina, não o sinto.
Tenho a mesma idade.
Entusiasmo-me. E apetece-me mesmo dizer «não gosto nada», «não percebo».
E falo-te da minha vida, de igual para igual.

Obrigada, Filipa pela festa dos teus anos e pela festa que tu és.
Obrigada por dares também um sopro de festa à minha vida. E a outras vidas.

PARABÉNS, FILIPA:
CONTINUA SEMPRE A FESTA.
A VIDA FICA TÃO MELHOR.

Thursday, April 12, 2007

O BERNARDO EM PARIS !

É assim, não dá para areditar. O Bernardo em Paris. Todo contente, claro. Só pode... A telefonar aos pais entusiasmado, a mandar mensagens delirantes.

E eu de avó. A não perceber mesmo este salto no tempo.
Então os casaquinhos, o xaile, as letras bordadas no primeiro bibe????
Bernardo?!

Coisas de avó!

E ele tão feliz, que bom!

Monday, April 09, 2007

SEMPRE A VIDA QUESTINADA

Porque gostei deste jeito de dizer o que insistentemente questionamos, transcrevo estas palavras do artigo de Anselmo Borges, padre e filósofo, no domingo de Páscoa no DN

«Quem não viveu na superfície das coisas,
quem perguntou até à raiz de tudo,
quem se exaltou com a beleza,
quem alguma vez teve um gesto absolutamente gratuito de amor,
quem se deixou surpreender pelo abismo infinito do olhar de alguém,
quem tentou descer até ao fundo sem fundo de si,
quem foi abalado pela exigência incondicionada do dever,
quem se deixou tocar por um tu que não se possui nem domina,
quem foi alguma vez avassaladoramente visitado pela pergunta inconstruível: "Porque há algo e não nada?", foi tangido pela fímbria da eternidade.

Onde e quando é a vida eterna? Aqui e agora, no Aberto.»

Saturday, March 31, 2007

SE É QUE HÁ PENSAMENTO...

Dou umas lições. Tento continuar a pensar e mitigar as saudades da escola. Não é igual. Mas é bom.
A minha vida até agora tem dito sempre de tudo «Gosto muito».
E gosto sempre muito. De tudo.
De forma apaixonada.

É um jeito meu. Mas é também um jeito da minha geração.

Uns dias antes das férias da Páscoa, comecei a estudar com dois rapazes do 9ºano a estrutura d’«Os Lusíadas».

E sem que eu entenda porquê, perante a urgência de consolidar este trabalho nos tais dias sem aulas, telefonaram-me os pais de cada um, «que o X já tinha as férias marcadas, que não sei quê...»
E eu «Mas ele tem prova nacional. Explicação não é varinha mágica.»

Já nem digo que falamos linguagens diferentes. Duvido até que as palavras ainda expressam pensamentos.
Se é que há pensamento…

Wednesday, March 21, 2007

DA POESIA

Antes que o dia se preencha de tarefas e eu à espera das palavras ajustadas para dizer que este dia, sim, este dia vale a pena, fica só o título que lhe dei,
fica o desejo de que tudo, mas tudo, hose e sempre, seja POESIA, daquela, como dizia a Natália, QUE É PARA COMER.

Tuesday, March 13, 2007

O ESTADO DA NAÇÃO

É que é só ver o novo programa da TVI «A Bela e o Mestre»!!!

Depois, talvez um anti-depressivo assim dos bons para nos aguentarmos por aí.

Saturday, March 10, 2007

TORRADEIRA VIRGEM E OUTRAS VIRGINDADES

Estrgou-se a torradeira que o André nos deu pr'aí há vinte anos.
Estragou-se há seis meses.

O Manel, que adora torradas, foi logo comprar uma. Torradeira últimmo grito.
Mas estamos há seis meses à espera que ele leia as instruções. parece que é preciso estar montes de tempo ligada, antes de usar.
Isto para nós, é o símbolo da impossibilidade.
Lá está ela na cozinha. Linda!
Mas virgem
E nós a comermos torradas pelo bairro.

Temos de certeza uma tendência para deixar tudo assim. Virgem. Sem uso. Na mesma está a câmara digital que o André deu ao pai no dia de anos... Dezembro, 23, 2006!!!

Quem é que acredita na mudança?

NÃO CONSIGO RESPONDER A ALGUNS COMENTÁRIOS

Também eu gosto de responder a todos os que por aqui escrevem um comentário, dizer-lhes um bem-haja, dizer que li, que assim ou que assado.
E esbarro com uma série de dificuldades.
Hoje, gostava tanto de ter respondido a NO PAÍS DAS MACIEIRAS. mas lá vinha aquela confusão.
Fica um protesto (protestar a vida inteira, é cansativo, mas ....) E para todos, a certeza de que os leio com atenção e gratidão.
E também de que o meu dia se torna logo mais feliz.

Thursday, March 08, 2007

CINQUENTA ANOS DA RADIO TELEVISÃO

Pois lembro-me de tudo.
E nós com tanto para contar sobre esta fantástica caixa mágica.

O meu pai foi o primeiro morador de Campo de Ourique a comprar um aparelho de TV.
Como resultado, serões todas as noites com imensos amigos.
Sempre razão de festa.
No Verão – tentem ver o filme! – o meu pai virava o aparelho para as traseiras do prédio e nós todos nas escadas de serviço.

Saber que o Manuel e eu nos conhecemos em casa da Maria Armanda Falcão (depois, Vera Lagoa)!

E o que o Manuel trabalhou a vida inteira naquela casa. As traduções do Gato Félix, os anúncios da Tofa (vá lá, lá passaram os jingles da Tofina e do Mokambo!) e depois durante quinze anos, o «Setenta vezes Sete».

Os serões dos festivais, com totó-canção, a ida à Lua a noite inteira, as crianças ao colo do pai.

O Vinte e Cinco de Abril entre a esperança e o medo.

Hoje, não gosto de muita coisa. De muita mesmo.

Mas tenho um grande, um enorme BEM HAJA para dizer à Rádio Televisão Portuguesa.
Faz parte de mim.
Faz parte de nós.

SOMENTE IGUAIS

Porque é que me irrito com este Dia, chamado «dia internacional da mulher»?

Talvez por causa da utopia de «sermos iguais».
Tão só iguais.
Esse desejo humilde.
Apenas isso.
Iguais.

Monday, March 05, 2007

COMO SE APENAS ATRAVESSÁSSEMOS O MUNDO SEM OLHAR

De Teresa de Calcutá deixo por aqui esta inquietação que tanto dói.

«Estamos nós prontos para partilhar os sofrimentos dos outros, (...)?
Parece-me que a grande miséria e o sofrimento são mais difíceis de resolver no Ocidente.
Ao encontrar alguém esfomeado na rua, oferecendo-lhe uma tigela de arroz ou uma fatia de pão, posso apaziguar-lhe a fome.

Mas aquele que foi pisado, que não se sente desejado, amado, que vive no medo, que se sente rejeitado pela sociedade, esse experimenta uma forma de pobreza bem mais profunda e dolorosa. E é muito mais difícil encontrar remédio para ela. (...)As pessoas estão ávidas de amor.
Será que vemos isso quando o nosso olhar se passeia sem se fixar?
Como se apenas atravessássemos o mundo...»

Sunday, March 04, 2007

TABOR


«Esta busca constante do belo é o que mais nos aproxima do absoluto»

Ouvi ontem, fim da tarde na cidade.
E julgo que entendi, ao menos em parte.


Sei muitos poemas de cor. Muitas palavras.
Foi então que me lembrei deste que guardo desde menina, julgo que de Mário de Sá Carneiro:

«Um pouco mais de sol e fora brasa
Um pouco mais de azul e fora além
Para atingir faltou-me um golpe de asa.
Ah, se ao menos eu permanecesse aquém!»

Nunca quis «ficar aquém». A vida toda.
Sabendo como dói «o pouco mais de sol» que falta, «o pouco mais de azul» que não alcanço.

Mas já lá está.
Inteiramente em mim.
Porque sonhado, querido, tentado a custo.

Cravada a dor de nunca alcançar.

Monday, February 26, 2007

Sunday, February 25, 2007

DAVID MOURÃO FERREIRA

Ontem o professor, o poeta teria feito oitenta anos.
Foi bom lembrá-lo.
É bom dizê-lo aqui.

Como me espantei, no primeiro ano da faculdade de ir ter uma cadeira, que ele ensinava, com o nome de «Teoria da Literatura». Eu, refilona sempre «Teoria da Literatura, não podia ser».
E com que arte ele nos conseguiu fazer perceber que tudo, tudo, se trabalha. Muito.
As palavras parecem «tão espontâneas».
Parecem.
E vamos sempre buscá-las muito fundo.
Muito fundo, professor.

DESABAFOS A PROPÓSITO DE «O GRANDE SILÊNCIO

Fomos ver «O grande silêncio». Tal qual esperávamos.
Tivemos saudades deste silêncio que por dentro nos povoa.
Tivemos saudades duns tempos de retiro, bons para nós, e que faziam felizes a Maria e o André com a casa toda enfim por sua conta.
E tivemos saudades do Mário. Amigo único. Monge eremita,
na cidade, numa capela ao pé da Sé, onde quando alguém entrava, estava sempre em primeiro lugar. Parava tudo. Mesmo as missas . E quem chegava, era acolhido de forma única.
Quando o Bernardo nasceu e a Maria e o Paulo o levaram lá, ele fez uma festa enorme. O Mário tocou os sinos. Tocou-os durante muito tempo. Tocou-os de forma que se ouvissem muito. Na cidade.
Quando a minha mãe morreu o Mário, de hábito branco, apareceu na basílica da Estrela para me dizer «Teresa, canta Aleluia». Talvez eu ainda hoje não tenha percebido. Mas o Mário afirmou o mistério. E eu não me esqueço.

Monday, February 19, 2007

CEGO É O QUE NÃO VÊ O ROSTO DA POBREZA

A nossa empregada acaba de telefonar. Que não vem. Que tem gipe e está cheia de febre.
A X nasceu na Madeira. Por causa da extrema pobreza foi muito criança para a Venezuela. Aí casou.
E também por causa da pobreza veio para Portugal. Ela, o marido, três filhos e os sogros.
Trabalha numa limpeza desde as seis da manhã. Chega a casa às dez da noite.
Disse-nos há uns dias que nunca tinha estado doente.
É uma mulher alegre e cumpridora.

Às vezes, tantas vezes, somos cegos ao rosto da pobreza, que cruza as nossas vidas.
Que cruza a cada passo as nossas vidas.

Monday, February 12, 2007

A ARCA DE CÂNFORA

Hoje abri a arca dos bordados. Toda a gente estava lá. Tudo e todos bem misturadinhos. Como a vida.
A «parure» de casamento da minha mãe («parure» é a roupa interior), o meu fato de primeira comunhão, a envolta que a avó Alice fez para a Laranjinnha e o seu fato de baptismo. Uma capa do André se mascarar, Zorro parece. A amostra de que fiz o xaile dos meus netos mais velhos.
Lençóis - só dois - ainda por estrear. Amarelitos, claro.
E eu a desdobrar cada peça devagarinho, deixando escorrer entre os dedos memórias e ternura. E a dizer cada nome. Também devagarinho.

Quando era nova, eu achava aquela arca horrível mesmo, pirosíssima. Tinha vindo de África. É difícil de limpar.
O que a gente muda!
E como é bom saber que a vida a tudo nos ensina a dar sentido.
Hoje, foi a vez da arca.

Sunday, February 11, 2007

O DOM DA MEMÓRIA

Lembro-me de muitas coisas, parece que às vezes vêm do fundo, uma espécie de arca mais arrumada do que a das roupas.
A minha avó paterna vivia com muitas dificuldades económicas, muitas mesmo. Como na época todas as avós.
Mas naquela visita que lhe fazíamos aos domingos, os meu primos e eu, lá estava SEMPRE, SEMPRE um bolo para os netos.
Outro dia, dei comigo a dizer para mim que estes tempos modernos nos trouxeram conquistas, mas quantas de nós, e é só por mim que falo, esquecemos este ritual do BOLO DOMINICAL PARA OS NETOS.
E cá estou eu, feliz nesta noite de sábado, bolinho pronto para os rapazes. Lindo, sobre um pano branco bordado à mão (de Tibaldinho, claro).
E à conta do referendo, os Marias vêm almoçar.
Boa!
Vivam os referendos!
E tudo o que é razão para a mesa posta, ainda que só um bolo.

Wednesday, February 07, 2007

COMO SE TECE UMA ORAÇÃO

Vou tricotar uns casaquinhos pequenos que só costumam servir durante a primeira semana de vida das crianças, que o digam a Maria e a Aninhas.
É que três amigas minhas vão ter netos lá para o Verão.
Eu teço malhas. Coisa que me dá muita serenidade.
Gesto cheio de memória. Gesto cheio de história e de histórias.
Prece que se faz também p'las minhas mãos.

Tuesday, February 06, 2007

IINTERMEZZO

Este tempo todo sem escrever, não é normal.
É verdade que o Manuel atacou a Net a tempo inteiro e que me levanto mais tarde.
É verdade que tive uma gripe ou virose (que confusão!!! ) que me deixou mesmo tão down. Mas já estou boa. Ou bem melhor.

Entre 18 de Janeiro (o dia dos anos da Maria) e hoje, 7 de Fevereiro, aconteceu muita coisa que ficou por anotar. E as coisas «invisíveis» vão ficar por dizer, esquecidas ou apenas por um tempo retidas entre a mente e as palavras.

O mais importante foi que NO DIA 3, O NOSSO NETO PRIMOGÉNITO, O BERNARDO, FEZ DEZASSEIS ANOS
Aquele rapaz fantástico que me escreve comentários no blog. O grande amigo do avô Manel. E meu, claro. Esta é a grande notícia deste intermezzo.
Para ti, toda a ternura da avó Teté. Que às vezes te chateia com verbos, cadernos passados a limpo, «se eu fosse tua professora, ...», «tira os cotovelos de cima da mesa», «não fales tão alto», «tudo desarrumado, Bernardo», «não me respondes assim»... e tu, super bom e generoso como és e como vais ser a vida toda, a perguntares se a avó está zangada. E eu a dizer-te UM AMOR DO TAMANHO DO MUNDO. E tu a saberes que é mesmo isso que eu te estou a dizer. SEMPRE.

Wednesday, January 17, 2007

MARIA LARANJINHA


«Temos uma menina! Tão bonita e tão gordinha! Pesa um quilo e trezentos.»
Meia a dormir de uma anestesia (a nossa menina tirada a ferros, coisas doutros tempos… ), eu conseguia mesmo assim perceber que aquela conversa não batia certa.
Quando a avó Alice chegou como sempre antes do horário permitido, lá consegui pedir-lhe «Mãe, vá ver a menina, deve estar na estufa. Pesa um quilo e trezentos.»
E a minha mãe «Que não, tão linda, pesa três quilos e cem».
Meu querido Manuel a alegria da vida dita no primeiro choro da nossa Maria ao romper da manhã e as duas noites em branco não conseguiam deixar que dissesses as palavras certas.
Foi assim que mostraste a felicidade.
Foi então a vez da avó Céu «Tão redondinha! Parece uma laranjinha!»

E deste modo ficaste, querida filha, «a Maria Laranjinha».

Vou pedir ao pai que ponha aqui uma «fotografia histórica» que com estas palavras e outras, muitas, te hão-de dizer PARABÉNS no dia de hoje
e sempre.

Saturday, January 13, 2007

OS MAIORES PORTUGUESES

Quase choro.
Feliz.
Tocamos a eternidade.
VIEIRA DA SILVA
NATÁLIA CORREIA
MIGUEL TORGA
GIL VICENTE
LOBO ANTUNES
(estamos no intervalo. Vou deixar de os mencionar)

Dizemos assim a vida.

Tuesday, January 09, 2007

O PRINCÍPIO E O FIM

Deixo-vos de e José de Mendonça, a Oração da Manhã emitida ontem na RR, de que gostei tanto, tanto::

«Estarás no princípio e no fim,à porta da nossa casa e à janela dos caminhos,
na partida e nos regressos.
A nosso lado, farás cada trilho,como companheiro que vai permanecendo até se tornar um de nós,
tornando suave a difícil pausa
e uma descoberta cada desvio.
Brilharás como a estrela da manhã
e serás o ponto mais silencioso da noite
quando mesmo o assobio do tempo se suspende.
Então pousarás sobre nós o teu imenso olhar,como uma mãe ou um pai
que se levantam na casa recolhidaapenas para vigiar o precioso filho que dorme.
E quando acordarmos já tu penteaste de verde os longos cabelos das árvores,
e ensinaste ao pássaro cantor a sua alegria.»

Wednesday, January 03, 2007

AQUELA SENHORA QUE CONHEÇO DO CAFÉ

Pois fui com ela à consulta. E eu com os exames na mão, a lê-los. «Um cancro no esófago«.
Ela a dizer me que era muito corajosa. A repetir. Que faria tudo o que fosse preciso. Eu incomodada, estranha com aquela coragem dita, repetida.
Foi quando o médico com jeito (jeito como ??) esclareceu «que não tinha boas notícias, que seria melhor repetir ali no hospital todos os exames. E que só depois haviam de tomar uma decisão.»
E ela a insistir na coragem com o olhar, a dizer que o «senhor doutor é muito simpático. Sabe, foi tudo por causa da zona». E a contar-lhe como é que não conseguia comer. E «que aquele chá da ervanária é que ajudava ...»

Hoje veio cá a casa. »Que tinha que sair. que estava sol». E trazia um presente. Um embrulho enorme, cheio de pegas que fizera.
Amanhã lá vai repetir um dos exames.
E a ensinar-me, a ensinar-nos que os dias, que a vida só se faz de afectos.