Thursday, November 29, 2007

UMA AVÓ TEM SEMPRE TUDO

Senti-me «apanhada em falso», pelo Manuel Maria ontem à noite.

A cena foi esta:
MM ontem quando chegou da catequese e viu as fatias de Pão Rico ao pé da torradeira:
MM - Avó, posso fazer uma torrada?
Avó- Desde que jantes...
MM - Vou pôr manteiga. A avó tem doce de morango?

Senti-me em falta. O normal numa avó é ter sempre tudo. E eu não tinha doce de morango.
Quarta feira vou mesmo ter doce de morango.

GOSTOS

Já aqui fui desafiada para escrever «gostos», «hábitos», «manias»
Tenho imensos. Parece que por isso não me tenho atrevido a começar.
Vou fazê-lo

Gosto

de tricotar pegas de cozinha
de ler e reler, de saber de cor Lobo Antunes, Agustina, Cesário
de andar a pé
de salas de espera nos centros de saúde
de salas de espera de hospitais
da sala de espera da catequese dos Marias
de toda e qualquer sala de espera

parece que gosto de esperar
é um tempo único, em que fico enfim calada e oiço. Se me parece bem, faço um sorriso, dou uma palavra, torno-me «igual»

e gosto de gostar, melhor, preciso de gostar. É essa a minha única respiração. Gostar.

É capaz desta postagem não ficar por aqui

Friday, November 16, 2007

PROCURAREMOS O NOME PARA DIZER A «MORTE»

Em cada um destes dias, tem morrido um amigo.
O sobressalto
A ausência
Dizemos «nunca mais»
Dizemos «tenho tanta pena»

E parece que não sabemos a dor. Nem as palavras.

Amanheci assim. E amanheci também com sol.

Pressinto que devagar, só muito devagar, aprenderemos a viver com esse «sem» enorme.

E a vida afirma-se nas palavras que trocámos, nas memórias, nas refeições que comemos juntos.
A vida afirma-se.

Sunday, November 11, 2007

SE EU TIVESSE UMA VACA


Na consulta de nutricionismo:

A médica procura todas as formas de me ajudar a emagrecer.
Analisamos a lista dos alimentos proibidos (ali confesso tudo).

M - Volta a beber aqui um copo de leite?
T - Volto. Sabe, gosto imenso de leite. Se eu tivesse uma vaca é que estava bem.
M - Se tivesse uma vaca?!
T - Já tive. não tive uma. Tive p'ráí trinta.
M - Teve trinta vacas?!
T - Em Lisboa.
A senhora abre os olhos e a boca...
T - Verdade!

E conto-lhe a «história verdadeira» do meu avô a cultivar as quintas que iam do que hoje é o hospital de Sta Maria até ao colégio Moderno.
E os cães.
O boi com os olhos vendados e eu a chicoteá-lo para ele andar muito depressa.
E as vacas.
E as papoilas no meio do estrume.
A carroça desde a leitaria ecila até à quinta.

M - Não consigo imagimar...
T - Tá a ver que sou muito antiga.
M - Temos que fazer mais jantares da Filipa para contar essas suas histórias.

Filipa Pais de Sousa, vá lá, arranje uma razão qualquer para outro jantarzinho.
Antes que as histórias verdadeiras se tornem lendas. Longe...

FESTA DE TODOS OS SANTOS, CASTANHAS, AMEAÇOS DE GRIPE E OS PRÍNCIPES A FAZEREM ANOS


Este «título» já diz quase tudo.
Este regresso aos dias, aos festejos, ao afecto com que envolvemos a vida, ano após ano.

Talvez nunca aqui tenha contado que a minha mãe, que passava tanto tempo em Tibaldinha, gostava muito de castanhas. Aí pelos finais de Setembro, eu escrevia-lhe um postal ( qual telefone, qual quê, e muito menos telemóvel) «Mãe, volte que já há castanhas».
E lá vinha ela de comboio. Eu ia esperá-la a Sta Apolónia. Depois estávamos ali três dias (máximo) sem discussões, um paraíso, naquele doce sabor e cheirinho das castanhas.
Hoje são os meus netos (parece que todos) que as adoram.

E faz-me pensar este fascínio. CASTANHAS...
É o cheirinho na rua?
É o carro com o assador?
O fumo?
O vendedor que mais parece o Pai Natal?

A vida é mesmo feita destas coisas.
Bem bom!
Hei-de encontrar e dar-lhes a história fascinante de Martinho.