Sunday, December 19, 2010

ENFIM NATAL

Parece que estou um bocado ou muito zangada com o Natal

Mas encontrei o meu professsor,
e foi assim que me reconciliei,
porque é neste Natal que me reconheço.

Diz assim:

NATAL CHIQUE

Percorro o dia, que esmorece
Nas ruas cheias de rumor;
Minha alma vã desaparece
Na minha pressa e pouco amor.

Hoje é Natal. Comprei um anjo,
Dos que anunciam no jornal;
Mas houve um etéreo desarranjo
E o efeito em casa saiu mal.

Valeu-me um príncipe esfarrapado
A quem dão coroas no meio disto,
Um moço doente, desanimado...
Só esse pobre me pareceu Cristo.

VITORINO NEMÉSIO


E quero estar muito atenta a tudo e a todos que me parecem Cristo.

Sunday, November 21, 2010

Porque é domingo

Cheguei a casa de tomar um café.
Procuro devagar os gestos novos.
Tão desordenada que nem tinha café.

Quis tanto procurar este poema e deixá-lo aqui.

Aívai:

Um dia

Um dia, gastos, voltaremos
A viver livres como os animais
E mesmo tão cansados floriremos
Irmãos vivos do mar e dos pinhais.

O vento levará os mil cansaços
Dos gestos agitados irreais
E há-de voltar aos nosso membros lassos
A leve rapidez dos animais
.

Só então poderemos caminhar
Através do mistério que se embala
No verde dos pinhais na voz do mar
E em nós germinará a sua fala.


Sophia de Mello Breyner

Tuesday, November 02, 2010

AGORA

Chegámos aqui,
Os dois.

Diremos cada dia palavras como

Sempre
Amarelo
Sorriso
Na mesa mais um prato, dois...

Rezamos? Que dizes?


Sabemos que tudo é oração.

Friday, September 10, 2010

VAI VALER A PENA

Para que não seja só a dor a ensombrar o dia,
socorro-me de Simone. Bem alto.
Aqui vai:

Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido
Ter me rebelado
Ter me debatido
Ter me machucado
Ter sobrevivido
Ter virado a mesa
Ter me conhecido
Ter virado o barco
Ter me socorrido
Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido

Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena
Ter amanhecido

Começar de novo
E contar comigo
Vai valer a pena

Monday, September 06, 2010

«OS VELHOS» de A O'Neil

Antes que todas as tarefas me atropelem o dia
antes de terminar (?) palavras que hão-de dizer a dor da morte do Tomaz,
enquanto apenas velo o sono doloroso do Manuel,
assalta-me a vontade de transcrever os versos de O'Neil,
cuja morte também dói.
Antes de tudo

Aí vão:

OS VELHOS

«Velhinhas de gargantilha
visitam o neto, a filha,
levam bombons de creme
ou palitos de la reine.
(...)
Um velho tira dos dedos
profecias e enredos.

Outros fazem esgares,
têm poses e vagares.

E a velha que se desleixa
e morre sem uma queixa?

Venha a cidade ajudar a abotoar o casaco
que não faz nada demais.

Velhos, meus queridos velhos,
saltem-me para os joelhos.»

Que fiquem para a dureza dos dias
acutilantes como O'Neil
tão cheias de ternura como O'Neil.

Friday, September 03, 2010

D TOMAZ DA SILVA NUNES, O COMPANHEIRO AMIGO

Nunca nos habituámos a chamar-te senhor D. Tomaz.

Foste,
és o pe Tomaz ou apenas o Tomaz.(bem me lembro de quantas vezes te dizia de cor - com alguma zanga do Manel – o poema de Daniel Felipe «Tomasinho-Cara-Feia vai p'rá pesca da baleia. Quem sabe se tornará?»
e tu foste sempre o amigo,
o camarada,
o companheiro também dos nossos filhos,
tu foste,
tu és
um entre nós.

Quando te vi, não há muito, disseste «Lembrei-me tanto de ti. Por causa de um bom documentário sobre Tibaldinho.» E eu, sem qualquer censura, bem sabias, bem sabes como sou «Prometido. Hei-de dar-te um paninho de Tibaldinho.»
O Manel abriu-me os olhos, está-se a ver. Estávamos mesmo ao lado do Patriarca.

(texto interrompido com muita pena e obviamente a continuar, Vou pôr na mesa o jantar)

Tuesday, August 17, 2010

MARIA ALIETE GALHOZ

Pois eu era aprendiz de estudante em 56 no 6ºano do liceu Pedro Nunes (hoje 10ºano).
Tinha notáveis professores estagiários em Românicas - Mário Dionísio, Maria José Salema, Maria Aliete Galhoz e outros cujos nomes já não sei.

Comprei o JL - alguns artigos elogiavam o trabalho de Maria Aliete Galhoz.

Julgo que nunca troquei uma palavra com esta Senhora.
Admirava-a.
Deixava «escorrer» algumas frases conhecedoras de Pessoa, que se não estudava nem na faculdade, à excepção da «Mensagem».

Talvez por ela me fui aproximando de Pessoa.
Na altura, uma aproximação rasteira e fascinante.

Por ela admirei aquela seriedade de trabalho exigente e incansável.
De vez em quando lia-lhe um poema.

Até que a «reencontrei» reconhecida nas páginas do JL de 11 de Setembro.
Peço-vos que leiam.
P'ra mim, Maria Aliete Galhoz é o nome presente de uma seriedade intelectual sem imagem que se tem vindo a perder.
A perder.
«Sobeja-lhe uma certa solidão mas também uma vida de exigência que testemunhará aos vindouros» (de Ivo Cruz9 e que nunca a assutou.

COMPREENSÃO

Alexandre, obrigada pela compreensão
e paciência de aqui pôr uma postagem.

AMANHÃ DIA GRANDE

também para nós, amigos...

FINALMENTE...NAVIO FANTASMA PRISÃO

SÓ A IMAGEM DESTE NAVIO-PRISÃO FANTASMA

Signufica que estou aqui há imenso tempo a tentar pôr a fotografia daquilo que chamam de hotel e que eu chamo navio, prisão (não se pode sair daqui senão de carro, não há ruas, não há uma lojazinha com postais, jornais, pensos higiénicos, acetona, sei lá...) e não cconsigo.
NÂO QUERO ESCREVER O NOME DO HOTEL, mas ... está difícil.
Teimosa como sou vou continuar, mas a ver.

Para viver, leio «coração andarilho» que me deu a Élia (certinho p'ra mim),
escrevo,
tricoto os casacos de uns gémeos p'ra nascer.
E ainda tenho imensas brigas com o Manel, que estúpida.

Ai.
Mas não desisto.
Até logo.

Thursday, August 12, 2010

INESQUECÍVEL

A propósito da tal festa de anos, eu disse ao Manel:

- Dá mesmo muito trabalho. E é caro.

Resposta do Manel:

- É MUITO MAIS CARO NÃO FAZER FESTAS.

É mesmo, acreditem. Às vezes parece que o Manel sabe mesmo tudo.

A TODOS OS MEUS AMIGOS

No tal oito de Agosto de 2010, dei a cada um dos amigos que estavam, este poema de Sophia.

Fica aqui
dado também
a todos os que não estavam
com alegria
com gratidão:

«Voltar ali onde
A verde rebentação da vaga
A espuma o nevoeiro o horizonte a praia
Guardam intacta e impetuosa
Juventude antiga
Mas como sem os amigos
Sem a partilha o abraço a comunhão
Respirar o cheiro a alga da maresia
E colher a estrela do mar em minha mão»


Sophia de Mello Breyner Andresen

Wednesday, August 11, 2010

NASCER

Fiz setenta anos no domingo.

Sei e quero saber sempre o que é nascer.

Como disse nessa fantástica festa,
lembrando as fantásticas lições com a Filipa
lembrando Eça
lembrando todos

a surpresa e o entusaiasmo de correr para o americano que ali vem.

Para um passo novo.
reinventado.

Conto comigo
Com todos

Thursday, August 05, 2010

TEMPO

Nunca quis saber a medida do tempo

e nem se o tempo passa

ou ficamos presos e livres num ponto qualquer

Nunca quis
e não quero

Da minha vida
até agora guardo tudo e todos
(duro é que a tal memória tanta vez me faz guardar a palavra, a notícia, o gesto que não quis, mas é genético)

«Amarelo e solar» é assim que te vejo - disse-me o Manuel.

Até ao fim Manel

Qual fim ?

Monday, July 12, 2010

INCOMUNICABILIDADE CONTINUADA

É verdade que tenho tanta coisa p'ra fazer ( eu julgava que o Manuel não fazia mesmo quase nada. Agora é só entrar na nossa sala...)

Mas gosto tanto do meu blog que realmente «empancou» que acabadinha de ler uma crónica de Bento Domingues, aqui transcrevo o final que julgo não poder deixar passar:

«É indispensável olhar para o passado e para o futuro, mas as urgências do presente não se resolvem só com memória e sonho.»

Sunday, June 20, 2010

CEGUEIRA

Para não classificar

para não julgar (ou melhor, calar porque quero calar)

dói-me
envergonha-me

a ausência de Cavaco Silva
presidente de todos os portugueses (será?)

nas cerimónias fúnebres de José Saramago.

Que «batalhas»
se escondem
fundo?

Sunday, June 13, 2010

BLOG INCOMUNICÁVEL

Não sei o que se passa.
Desapareceram todos os comentários.
Desespero um bocado e todos vocês devem desesperar.

Mas o que quero é mesmo agradecer «as visitas» e as tentativas de aqui escreverem qualquer coisa quando querem. Impossível. Inabilidade minha e parece que também do computador que é um VISTA e vou sabendo que este sistema não dá.

Resistimos. Verdade. Na incerteza de tudo. Na noite da certeza que nos envolve.

Já nem sei se um dia novo é «sempre bom», como aprendemos.

Mas é.

Com dificuldades e com dor, um dia novo é sempre «mais um dia».

Para quem suspeite desta situação - aí vão notícias: neste momento o Manel está bem.
E dizem que giro assim careca, cada dia um chapéu mais dandy.

A vida tem mesmo um tempo para tudo.
Agora assim

Friday, May 21, 2010

Talvez não tenha sido senão falta de tempo,
talvez um difícil ajuste.

Hoje recebi num mail estas palavras do irmão Roger
e venci todas as inércias
e esta espécie de desorganização.

Aqui vão elas. Valem. Muito.

“«Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, rezai pelos que falam mal de vós». Compreender estas palavras de Cristo supõe ter atravessado desertos interiores”. (Ir. Roger, de Taizé)

Wednesday, April 21, 2010

SEMPRE

Não vamos esquecer estes trinta quilos a mais.

Mas havemos de guardar
o sorriso
o vestido amarelo
e outra vez o sorriso
outra vez o sorriso

E sempre diremos «sempre»
como tão depressa o descobrimos.

Monday, April 19, 2010

AMOR ANTIGO

Porque Carlos Drumond o diz tão bem
e porque quero lembrar cada verso em cada dia,
aí vai:

«O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda a parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mais pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.»


de Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond

Sunday, March 21, 2010

POESIA


Pois deste dia gosto.
Gostamos, Manel.
Gostamos.

E de tudo aquilo a que ela tem dado sentido,
vida,
alegria e tristeza misturadas,
indizíveis.

De súbito lembrei-me que me ofereceste, assim a medo, um livro de poemas em francês como sempre gostei «Toi et Moi»
e escreveste «Um poeta só fala poesia a outro poeta»
Viste «para lá da imagem»
Viste talvez para lá do DNA, «isso» de que me falou hoje o André e pode ser que justifique a impulsividade, «o feitiozinho».
Justifica.
Não lhe dá razão.

E é muito bom sabermos que tanto da nossa vida
ou toda a nossa vida
tem sido poesia

E é a poesia que toca a eternidade.

Monday, March 08, 2010

UMA FLOR NÃO CHEGA MESMO


Nunca gostei deste dia,
chamado «Dia Mundial da Mulher».
Nasceu por razões cheias de sentido e hoje ainda tão actuais.
Mesmo assim irrito-me.
Julgo que em 2003 escrevi este texto para a RR.
E aí vai.
Como um grito, porque o que sonho mesmo é a igual dignidade. MESMO IGUAL.
Aí vai.
Para todos as mulheres. Para todos os homens.

«Hoje, Dia Mundial da Mulher, trago-Te Senhor, todas aquelas de cujas vidas ninguém fala. Lembram-me a talvez Tua Mãe. Têm o seu jeito.

A esta hora, ainda não esboçaram um gesto de descanso.
Para elas, tudo começa muito, muito cedo.
Ao sair da cama, pedem-Te coragem. Há tanto que fazer!
Coisas de nada que sustentam a vida toda
e a vida de todos.
Coisas assim como comprar o pão, preparar o café, arrumar uma loiça que ficou da véspera.
E sempre a olhar o relógio.
Acordar os filhos e o marido com uma carícia ou com um grito. Ele há dias...
Levar as crianças para a escola num transporte colectivo, sem lugar. Com um sorriso. Hão-de vir as saudades dia fora. Dia longo...
O escritório e o trabalho amontoado. «Será que o Joãozinho está com febre?» Mas ali são os telefones, os chefes e as reuniões...

Também há escadas para limpar. E casas. Casas de outras mulheres, as casas das «senhoras». E cuidar de outros meninos. «Senhor, será que o Joãozinho está com febre?»

E tratam os mais velhos. Só elas sabem olhar nos seus olhos e neles ler a solidão e o mêdo. Mudam-lhes as fraldas e acariciam-lhes os cabêlos, como manhã cêdo tinham feito aos seus meninos.
Regressam tão cansadas!
Finalmente tranquilizam-se: o Joãozinho não tem febre.

E quando, findo o banho e o jantar, os filhos adormecem, segredam-lhes uma história, uma prece e uma benção.
Depois é urgente recomeçar outros trabalhos. Adiantar a comida do dia seguinte e a roupa que se amontoa p'ra passar.

Já uma da manhã!
Num rádio qualquer, ouvem vozes ou músicas. A essa hora tanto faz. É só para fazer companhia. O corpo não dá mais e nada parece já fazer sentido.»

Thursday, February 18, 2010

BÉ FRAZÃO

Hoje faz anos a Bé Frazão,
a mais velha desta família, os «Amaral Frazão»,
a família do Manuel que por muitas razões, muitos afectos, se tornou também minha.
A Bé é a sua coluna maior.

Procurei palavras que dela fossem dignas.
Aí vão, de Álvaro de Campos

«No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais       copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...»

Parabéns, Bé Frazão

Thursday, February 11, 2010

O SOL AJUDA


É que está sol e isso é bom.

Antes de começar a escrever,
ou a fazer o almoço (as horas avançam, logo se vê)
enquanto espero que o Manel chegue de mais uma consulta
folheio o que me vem à mão Sophia, Brel,….

E transcrevo de Sophia palavras ditas na Sociedade Portuguesa de Autores em 64

«Aquele que vê o espantoso esplendor do mundo é logicamente levado a ver o espantoso sofrimento do mundo.
(…)
E é por isso que a poesia é uma moral.
(…)
A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido.»

Sublinho
«a poesia é uma realidade vivida».

E assim lá vou eu para o poema do dia a dia.
Tão banal.
E tão real

Sunday, February 07, 2010

POSTAIS ILUSTRADOS


Toda a gente sabe que gosto de os escrever.
Às vezes em Tibaldinho escrevo sessenta e tal,verdade, sem exagêro.
A N também sabe.
Às vezes também ela me escreve um, «Para a amiga que ainda os escreve.»

Hoje telefonou-me. Por causa da saúde do Manel.

Em desabafo, quase em desespêro, contou-me que no verão tinha ido a França e procurou um para me escrever.

Disse-me «Sabes que não havia.»

Se eu sei N.
Em Tibaldinho, vou
e torno a ir
ao Museu de Grão Vasco para comprar os tais postais, os únicos razoáveis.

Tenho sessenta e nove anos, quase setenta.

Os postais que ainda encontro são os mesmos desde a infância.
Os mesmos.
E cada vez menos variados.
Compro imensos iguais, os que há.

E desespero.

Não é mesmo lindo este, a praça de D. Duarte junto à Sé?

FIM DE SEMANA, POIS CLARO


Fartos de estar em casa,
o Manel, as dores, mais fortes, menos fortes,

vagamente e sem muita atenção um livro (finalmente a «Vida de Teresa de Jesus», esta que já me convence da santidade e não a que me «venderam» em criança,
obediente sempre,
caladinha,
«Vês Teresinha, é assim que deves ser»),

a televisão a ocupar IMENSO espaço.

Em todos os canais só futebol.

Política
em stand by.

Fim de semana
tão ao gosto português.

TENHO MUITA PENA.
MUITA.

Friday, February 05, 2010

SMS


Ontem escrevi à Z para justificar a minha ausência e lá disse que o Manel tinha que fazer exames para se encontrar a causa do tal líquido na pleura.
Recebi de volta estas palavras
amigas
sábias.

«As notícias não são boas, mas abrem caminho. Que fique bem e depressa.»

Respondi:
«Caminho é sempre bom. Só que estamoss a vida toda a aprender a caminhar.»

Tal qual.
Aprender o passo certo em cada dia.
O passo certo em cada situação
em cada melodia.

Wednesday, February 03, 2010

PARABÉNS MEU AMOR

É que eu não tinha qualquer intenção de abandonar este espaço,
agarro-me a todos os espaços de comunicação e de partilha.
Respiro assim. Comunicando.
O que me deu foi sofrer situação difícil de enfrentar. Ver o Manel cheio de dores, frequentes e fortes e eu aqui a procurar fazer-lhe tudo.
E impotente.

Custou-me muito. Era mais por aí o «abandono». Durante semanas e semanas, o homem a fazer todos os exames possíveis. E causa não detectada.

Por fim, parece que estamos lá quase, esperamos bem. Líquido na pleura. Com a medicação alterada e uma ida ao barbeiro, cabelinho cortado, está com menos dores e até muito giro. O cabelo branco fica-lhe muito bem, verdade
Agora é preciso fazer exames, saber a causa. Ja é caminho.

Parece estranho escrever tudo isto no dia abençoado em que o Bernardo faz dezanove anos.
Nosso neto primeiro.

Vou plagear o André que escreve aos Marias PARABÉNS, MEU AMOR.
Com a vida dos meus filhos
e com a vida dos meus netos,
sei que toco a eternidade.

A continuar...

Saturday, January 23, 2010

Thursday, January 07, 2010

VALE-ME O CACHE-COL DO FRANCISCO

- A avó podia fazer-me um cache-col preto e laranja?

Valeu-me o teu pedido este natal.

O Natal foi bom naquelas queixas que fazemos todos os anos. Dizemos «para o ano vou p'ra fora» e são as inúmeras correrias, é que é milagre não querer mesmo deixar de ver ninguém, estender-se até sei lá, p'ra lá de tudo. Os embrulhitos que abrindo-se dizem a ternura e ninguém pensa em valores.

E também foi muito triste.
Na minha idade ou sempre batem-nos à porta mortes. Doenças. Na minha idade ou sempre,...

Mas aquele cache-col Francisco, que está quase (dois metros e meio e é preciso chegar aos três). É que fazer estas e outras malhas me dá a sensação de ligar sempre fios,
vidas,
ternura

Fios que nunca se cortam.

Um bem-haja grande, Francisco

Natal