Tuesday, April 28, 2009

«OS GLADIADORES», O 25 DE ABRIL E «MUITOS DIAS TEM O MÊS»

Há a tentação de dizer «o 25 de Abril» não era só isto, de lembrar que fiz as greves académicas, coisas meio tontas, saudosistas, que nem nos deixam ver quanto é bom o que mudou. Bem sabemos que a esperança é sempre maior. Sempre maior. Em tudo.

E é preciso escrever aqui, fazer notícia de como me surpreendi, e bem, primeiro com «Os Gladiadores» e a paixão na total entrega do grupo de teatro jovem e determinado «Hipócritas», onde, entre outros, vejo a Filipa Pais de Sousa, nossa super amiga, que começou tão contrariada por ser minha explicanda de Francês. Gosto muito de gente difícil. De gente capaz de me dizer «Teresa, não gosto nada».

Ontem foi a vez de ver o filme extraordinário na temática e na forma de Margarida Leitão «Muitos dias tem o mês». Dizia-me o pai «Deu muito trabalho». Como o sei bem,, quando o Manel fazia o «Setenta Vezes Sete» e eram noites inteiras, imenso tabaco na sala, uma magia... No fim um programa apenas de vinte e cinco minutos. Pois a Margarida fez durante dois anos esta longa metragem sobre as esparrelas do consumismo em que se vivia já esta crise. Pois fê-lo com uma mestria e uma sensibilidade social e humana notáveis.

O que é estranho é que me espante com os milagres desta gente nova que não é nada «uma geração rasca».

É que é natural
E também sobrenatural

Como aquela surpresa feliz que tive quando um dia destes fui com o Bernardo, o nosso neto mais velho (e neto ainda parece mais estranho), dar uma escapadinha à Mexicana. Não me senti nada a avó velhota. Uma conversa bem gira. E de igual para igual. Falámos de Cesário Verde. O rapaz sabia mesmo bastante.

É talvez o tempo que os faz crescer.
Mas não é só.
Crescem para algo que já é «mais além».

Wednesday, April 22, 2009

NUNO DE SANTA MARIA

De Condestável a santo.
Procuro compreender este caminho.
Sei que a vida de cada um é um percurso. Difícil. Com tropeços. Incoerências.
Passos. Sempre passos. Até «um pouco mais», ainda que o vocábulo «mais» fique muito mal neste contexto.
Mas procuro.
Em criança sabia de cor e recitava poemas ao Santo Condestável. E ainda os sei. Dos que me lembro, não gosto. São poemas com uma linguagem que me parece longe da santidade.

Vamos ver se descubro o caminho deste homem. Não o de santo Condestável.
Antes, o de Nuno de Santa Maria.
Com atenção e jeito.
Com boa fé. Vá lá...

Vou-me deitar com um «talvez».

Também não há que entender tudo.
Nem que aceitar tudo.

Monday, April 20, 2009

Fomos a Madrid

Pois fomos.
Há tanto tempo que não dávamos assim uma escapadinha.
Fomos sem porquê. Só pelo gosto de tudo aquilo que nos uniu naquela festa em casa do Armando Fiúza (há cinquenta anos, verdade!). E este mesmo jeito que temos de nos sabermos seduzir com palavras. Sorrisos. Passeios a pé. Conversas. «À espera de Godot» e muito mais, tanto mais. Pouco depois oferecias-me «Toi et moi», lembraste?
Fomos a Madrid.
Para os museus. (Vi a Guernica pela primeira vez. E como é sempre tão diferente tudo aquilo que vimos «quando vimos»!)
Os cafés.
Os passeios.
Andar a pé.
Os sorrisos cúmplices.
Sempre a pensarmos nos cachopos, filhos, netos, todos...E nos amigos. Todos. Connosco.

Verdade que já não podíamos nem ver aqueles bocadillos todos iguais.
Que saudades de sopa.

Mas valeu.
Voltámos àquilo que nos uniu e atraiu.
Que nos une e nos atrai.
Sempre

Esquece lá que tenho o dobro do peso (melhor p'ra mim que não esqueças...)
E a dificuldade em descer escadas (muitas escadas tem Madrid!)
E aquela saliência no dedo do pé que me faz umas dores danadas.

Lembremos os sorrisos.
A cumplicidade.
A paciência com que me procuraste e escolheste uma mala (bem sei que detestas compras)
Lembremos o amor.
Agradecidos.

Wednesday, April 15, 2009

UMA FLOR

Para te dar, como uma flor,
deixo-te o poema doutro amigo.

Que bem te calha!
Que bem nos calha!

De Alexandre O'neil:

«Mal nos conhecemos
iniciámos a palavra AMIGO.

...»

Não sei o resto de cor.
Vai longa a noite.
Hei-de continuar esta postagem amanhã.
E a vida toda

Wednesday, April 08, 2009

GRAN TORINO

O filme é imperdível.
Retirei este texto do site Pastoral da Cultura.
E aqui vai:


«Grand Torino: parábola sobre o mal, a culpa e a redenção

“O que é alguém pode saber da vida e da morte, da culpa e do perdão, da dor e da salvação?”, pergunta, irónico, o viúvo Kowalski ao jovem padre de 27 anos, recentemente ordenado, que preside à missa do funeral da esposa.

Com cara de poucos amigos, questionador dos costumes modernos, interpelador, quase grosseiro, solitário, amargo, e que passa o tempo a beber cerveja à entrada da sua casa, falando apenas com a sua cadela e comportando-se de forma racista para os seus vizinhos da etnia Hmong, provenientes do sudeste Asiático. O velho Walt observa com desprezo como a vizinhança onde sempre viveu, em Detroit, EUA, se degradou com a chegada de imigrantes orientais e de bandos de jovens latinos, afro-americanos e asiáticos.

O velho Kowalski vive descontente com o presente, preocupado com o futuro e amarrado a um passado de felicidade com a sua esposa e em que esteve na guerra da Coreia, no início dos anos cinquenta. Do passado resta agora a arma que usou em combate, a medalha que ganhou por matar soldados norte-coreanos e um automóvel Gran Torino, de 1972, da marca Ford, empresa onde trabalhou durante trinta anos. Os espetadores não deverão perder de vista a forte carga simbólica destas três referências.

Aos 78 anos, com uma maturidade pessoal e cinematográfica impressionante, Clint Eastwood é realizador e actor em Gran Torino, oferecendo-nos a sua resposta às perguntas fundamentais colocadas no início, ao narrar um momento da história do velho Kowalski. As respostas só poderão vir da realidade vivida, sofrida, enfrentada: com jovens dos bandos, violentos e prepotentes, com as famílias Hmong, que o desarmam com a sua generosidade e acolhimento, com o tímido jovem Thao, que não sabe como trabalhar e lutar por ele mesmo, com uns filhos casados, que só o procuram quando querem lucrar alguma coisa com ele. Na encruzilhada destas personagens, Kowalski terá de responder com os valores em que acredita, sem deixar de encarar a maldade e a violência do tempo actual, os demónios do passado, as culpas da guerra, a preocupação com um futuro sem esperança para as novas gerações, a defesa da sua dignidade ultrajada, assim como a sua própria vida, que vai chegando ao fim.

Com um pano de fundo que aponta explicitamente para a fé cristã, Gran Torino converte-se numa parábola cinematográfica sobre o mal, a culpa e a redenção, tendo subjacente a figura de Jesus que ensina, com a sua vida, como enfrentar as realidades últimas da existência. Mas o que é impressionante no filme é como o velho renegado Walt Kowalski se pode converter na figura do bom samaritano, do pai misericordioso e do Cordeiro de Deus que se entrega para redimir os oprimidos pelo mal. Quando Gran Torino termina, reconhecemos que o espírito da redenção o toma por inteiro.»

Tuesday, April 07, 2009

PARA LÁ DO QUE OS OLHOS VÊEM

Deito-me com lágrimas.
E com uma ténue esperança.
A de conseguir um dia , essa capacidade que o Manel recomendou no cinema ao André, bem pequenito ainda

«Ver para lá das imagens»
Ou ver com o coração. E com todos os afectos.

E então poderemos inverter tempos e modos verbais.
Os condicionais, em futuros
E presentes.

Querida Ana, o que escreveste « Seria assim para todo o sempre» há-de ficar «Será assim para todo o sempre.»

Ou

«É assim para todo o sempre.»

É.