Tuesday, April 21, 2015


Digo-tos, Senhor,
esses setecentos migrantes que atravessavam o mar rumo a Itália.
E que naufragaram.
Bem sabes
que eram homens e mulheres como eu.
Eram teus filhos
 Eram meus irmãos.
Vinham guiados pelo sonho de uma luz ou de uma estrela que rompesse a escuridão dos dias.
Guiados pela esperança de uma mão solidária e de um pão repartido.
Guiados pelo vislumbre de um lugar à mesma mesa.
Eram vítimas de guerras.
Vítimas de uma vida sufocada,
perseguida e faminta.
De uma vida ferida e expIorada.
E o que procuravam, Senhor, era apenas uma vida melhor.
Não procuravam uma vida fausta nem riqueza.
Nem poder.
Apenas uma vida melhor.
O seu lugar, o seu quinhão no mundo que para todos criaste.
Igual.
Atravessaram esse mar de esperança,
E naufragou a esperança num grande mar de morte.
E naufragou a esperança num grande mar de dor,

Digo-tos, Senhor, a esta hora.
Digo-tos sempre.
E entrego-te na noite as minhas mãos
que por dom de todos se fazem companheiras.