Friday, June 30, 2006

Ensaios para o GINJAL de ANTON TCHEKOV

Fomos ontem à Cornucópia ver «ensaios para o Ginjal de Anton Tchekov»».
Bom demais! Gostámos muito. Muito.
«Colei-me» a tudo o que ouvi. E vi.

Por detrás, era Tibaldinho, na Beira Alta. A vida toda. Os pinhais que já não há (rentabilizados em casas de emigrantes, com muitos azulejos).
E eu ando sempre sem jeito, à procura dos caminhos.
De longe (vinha tão tarde para o almoço), bem longe e já via a casa. Parece que avistava a minha mãe à janela.
O meu pai e eu manhã cedo pelos pinhais. Ele tinha um pau de que não precisava (o meu pai morreu tão cedo, não era preciso o pau para nada) e um boné, a «fazer estilo».

Voltar a Tibaldinho é bom e dói. A casa ficou enorme.
Guarda muitos afectos. Vidas inteiras. Nas arcas, nas maceiras, por todo o lado.
Faço sempre muitas malhas quando lá estou. Nos fios eu vou tecendo tudo.
Misturando tudo.
Misturando todos.
E isso é bom.

OS BERLINDES

Nunca tinhas vindo a nossa casa.
Telefonaste «se podias vir, para ver o jogo. E eu «que sim e comer uma sopa.»
Avisei-te de que sou desarrumada. Mas o que te espantou foram os berlindes. Por todo o lado. Perguntaste porquê.
Contámos-te o segredo.
É um «segredo» que gostamos de contar.
Acho que é uma parábola.
Quando namorávamos (no tempo das fadas, …) dávamos um ao outro alguns presentes. E cada vez era mais complicado imaginar o quê, não repetir, surpreender …
Até que um dia o Manuel (super Manuel!) trouxe qualquer coisa na mão fechada e disse-me que abrisse os olhos. E eu, abri. Lá dentro, uma bola de vidro, transparente e muito colorida.
Temos vindo a oferecê-lo um ao outro a vida toda.
Com o sonho que contem. Com tudo o que nem conseguimos dizer.
A nossa casa está por isso cheiinha de berlindes.
Bolas de vidro. Transparentes. Coloridas.

Friday, June 16, 2006

O INFILTRADO

Fomos ver «O Infiltrado», que recomendo.
O gosto de um filme policial e o gosto de um filme que é muito mais.
Lá fomos os dois como sempre fizemos.
Revisitando tantas idas.
Revisitando a vida.
E a ternura. Em gestos renascida.

EM TEMPO DE FUTEBOL

Este texto, melhor, esta oração foi escrita por José de Mendonça e emitida na Radio Renascença na segunda-feira, 12.
Quando o ouvi, pensei logo publicá-lo aqui, para quem vier visitar este blog.
Diz assim:
«É bonito, Senhor, o espectáculo do futebol. Desfrutar o mágico momento em que a inteligência e o instinto dos atletas entram em jogo, lançando a bola para a frente, correndo, fintando os obstáculos, perdendo, recomeçando. É bonito, porque há uma alegria emocionada que se solta, quando os nossos olhos seguem aquele mapa inventivo feito de agilidade, de perícia, de força. Era preciso disputar assim a vida. Com a mesma entrega, o mesmo sentido de que tudo se decide nos pequenos passos, com aquele sorriso, conduzindo o tráfico de objectivos partilhados que rolam para uma festejada e inocente vitória. Era preciso, Senhor, disputarmos assim a vida!

JOSÉ DE MENDONÇA

Monday, June 12, 2006

AS MARCHAS E SAUDADES

O manjerico na varanda da frente. Regadinho. E cheiroso.
E eu a ver as marchas. Na tal caixinha mágica da televisão. Com uma vontade de ir para a rua. E tão contente.
O que nos reúne em festa é mesmo bom.
Até o Manel (que sempre dansou bem, muito bem mesmo) ensaiou uns passinhos…

Tenho saudades de ti Mário, mas a festa que fazias, desse jeito tão especial, quase excêntrico, está connosco sempre.
A capela na rua de S. Mamede ao Caldas. Tu, um eremita na cidade, abrias nesta noite as portas de par em par. Entrava toda a gente. Uma festa!
Uma festa enorme, Mário.
Por aqui continuamos.

Sunday, June 11, 2006

FUTEBOL SEMPRE

Daqui, tudo igual há sessenta anos. Aquele som. As palavras rápidas. À velocidade das imagens. E o meu pai, cigarro atrás cigarro, e os ouvidos colados à telefonia enorme com naperon de renda por baixo. E outro por cima. E um cestinho das Caldas, fascinante de cor.
Hoje, do lado de lá desta parede, o Manel enfiado no maple. E a televisão . Caixa de imagens. De sons. E de emoções.
O Manel aos gritos «Golo!!!:::» E eu« que tu não podes. Não tens coração para isso.»
E ele «que sim, que podia, que eles gritam muito mais que eu.»
Nas ruas ninguém.
Mesmo ninguém.
Nas ruas, silêncio.
E a vida à volta desta super caixa mágica.
A fingir que não é nada comigo vou fazer o jantar.
E ligo a televisão da cozinha.
E ligo a vida toda. Toda.
E ligo toda esta gente da minha vida. Toda.
O meu pai. O Manel. O André em S. Martinho. Certamente, também o João Maria. E os meus netos em Évora.
E amigos. Tantos.
Ligo-os todos. E quero fingir que não é nada comigo.

Saturday, June 10, 2006

MANJERICO

«A Maria de Lourdes está ali à esquina à tua espera»
E eu a interrogar. «Quem?»
«Sim, a Maria de Lourdes. Para te dar um manjerico.»
Percebi, finalmente.
A senhora que em quinta-feira de espiga, transporta na carrinha os ramos que fez na véspera. Vem de longe. Até Campo de Ourique. Onde viveu. Onde trabalhou e foi criando afectos.
À esquina, outra vez aquele abraço enorme.
«Um para a setora e um para os meninos.»
Os meninos são os nossos filhos.
«Gostava mesmo era de ver a Mariazinha e o Andrézinho.»
Lá lhe falo deles. Mostro-lhe os retratos dos rapazes todos.
«Ah setora».
E aquele abraço enorme diz a vida toda.
Aquele abraço enorme diz uma certa eternidade.
Para o ano, Maria de Lourdes, se Deus quiser...

Friday, June 09, 2006

GOSTO DA MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Depois do fantástico fim de semana com os Marias (João e Manuel), estes dias todos sumiram-se, sumiram-se mesmo a ir a médicos vários para revisões várias. Tudo bem, graças a Deus.
Cheguei cansada a sexta-feira à noite.
Não pensava vir ao blog.
Mas vim.
Estive a assistir ao debate entre a ministra da educação e o Paulo Sussena.
Julgo que vou mais uma vez, como tantas outras na vida, mesmo tantas, «remar contra a maré».
Para dizer claramente que gosto muito desta ministra.