Sunday, June 11, 2006

FUTEBOL SEMPRE

Daqui, tudo igual há sessenta anos. Aquele som. As palavras rápidas. À velocidade das imagens. E o meu pai, cigarro atrás cigarro, e os ouvidos colados à telefonia enorme com naperon de renda por baixo. E outro por cima. E um cestinho das Caldas, fascinante de cor.
Hoje, do lado de lá desta parede, o Manel enfiado no maple. E a televisão . Caixa de imagens. De sons. E de emoções.
O Manel aos gritos «Golo!!!:::» E eu« que tu não podes. Não tens coração para isso.»
E ele «que sim, que podia, que eles gritam muito mais que eu.»
Nas ruas ninguém.
Mesmo ninguém.
Nas ruas, silêncio.
E a vida à volta desta super caixa mágica.
A fingir que não é nada comigo vou fazer o jantar.
E ligo a televisão da cozinha.
E ligo a vida toda. Toda.
E ligo toda esta gente da minha vida. Toda.
O meu pai. O Manel. O André em S. Martinho. Certamente, também o João Maria. E os meus netos em Évora.
E amigos. Tantos.
Ligo-os todos. E quero fingir que não é nada comigo.

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