Thursday, August 31, 2006

ELÉCTRICO 28

Tomo muitas vezes o eléctrico 28.
E gosto muito.
Às vezes, muitas vezes, atacam-me as saudades.
Há já alguns anos, escrevi «isto» que deixo aqui em jeito de pão que se partilha.

PUDESSEMOS NÓS TOMAR OUTRA VEZ AQUELE ELÉCTRICO
DE MÃOS DADAS E A SONHAR A VIDA
A VIDA TODA

PUDESSEMOS NÓS UMA SÓ VEZ TOMAR AQUELE ELÉCTRICO
E OS NOSSOS OLHOS VISSEM DE NOVO OS ROSTOS DE PESSOAS CUJAS MÃOS PUDESSEMOS TOCAR
ACARICIAR
BEIJAR

E NÃO SEMPRE ESTA AUSÊNCIA
DAS PALAVRAS QUE NÃO VOLTÁMOS A DIZER
DAS PALAVRAS QUE NÃO PODEMOS MAIS DIZER.

Wednesday, August 30, 2006

EXPERIMENTAMOS TALVEZ A ETERNIDADE

Quero tanto agradecer os comentários de parabéns pelo André, mas não consigo publicar nada nem no «Sopro do Coração» e nem no «Diário da Teresa». Tão simpáticas a felicitarem-me pelo rapaz.
Talvez amanhã ou depois, quando voltar por aqui...

Deixo uma pergunta do Eduardo Sá, que li um destes dias numa crónica (na revista fantástica da Laurinda Alves).
A pergunta é «Quanto vale uma vida?»
Pensando nas vidas da Maria e do André, sei que uma vida vale tudo, mesmo tudo.
Nelas experimentamos talvez a eternidade.
Por elas, vamos também aprendendo que em todas as vidas podemos experimentar a eternidade.

ANDRÉ SEMPRE «COM TODOS OS MENINOS»

Não , ainda não sei pôr fotografias....
Hoje, que fazes tinta e nove anos encontro vários albuns e percorro lembranças.
E quero deixar essa fantástica dos teus cinco anos.
Em Tibaldinho, para a tua festa quiseste chamar todos os meninos.
Estendeu-se no quintal uma mesa enorme, de tábuas .
Muitos dos crescidos vieram também trazer alguma coisa «para a festa do Andrezinho»
Talvez seja «isto» o que para mim te diz melhor.
Esta palavra «todos», com que vives.
E sempre essa alegria.
Mesmo quando dói.
Parabéns, André.
E viva a tua vida. Toda.

Tuesday, August 29, 2006

CÂNTICO DE VÉSPERAS

Foi assim há trinta e nove anos.
A alegria da véspera.
A mala feita há muito tempo com roupinhas de príncipe.
Ao fim da tarde chega o Manel «O que é que ainda estás aí a fazer?»
E eu na secretária, serena talvez, a listar os números do telefone para quem ele devia telefonar quando ele/ela nascesse (não havia ecografias, claro).
A Maria na avó Céu a passear com o tio João.
A minha mãe a postos. Sempre.

Lá fomos nós ao fim do dia. De táxi até ao largo de S. Cristóvão. A atravessar as ruas da Baixa. Outro olhar.
Entre a alegria e o receio.

Sunday, August 27, 2006

NOVIDADE

Antes que venha o calor, vou andar pelas ruas do meu bairro.
Vou cruzar-me com rostos, com palavras, com silêncios.
Vidas.
Quero ir agora pela fresca.
E deixar-me surpreender e deixar-me tocar pela novidade de todos os encontros.

Saturday, August 26, 2006

PALAVRA CERTA?

Não me é fácil dizer a palavra certa.
Nesse dia de Julho aconteceu...
Hoje a Catarina telefonou «É para lhe dizer que segui o seu conselho. Deixei o Sebastião com as avós, com as fraldas e as noites e fui mesmo com o X, fomos sozinhos quinze dias. Fez-nos mesmo bem! Chegámos e vamos a caminho do Algarve para o ir buscar.»
A Catarina tinha-me perguntado se eu achava que ia ser uma má mãe se deixasse o cachopo com as avós e fosse mesmo de férias com o X.
Respondi/lhe que lhe dava n\ao dava um conselho. E, entre sorrisos das duas, que era mesmo uma ordem.

Obrigada pelo telefonema.
As vezes, acontece que digo a palavra certa.
Que bom Catarina. As vezes acontece...

Sunday, August 20, 2006

ARY DOS SANTOS

Por causa das palavras, ouso transcrever José Carlos Ary dos Santos, grande poeta ainda por achar ( coisa tão lastimável e urgente ).
A seguir, vou também eu andar pela cidade, pelo Jardim da Estrela, ao encontro destas e de outras palavras. Ao encontro de Ary, hoje.
E até passo em frente de uma das agências de publicidade onde ele trabalhou palavras.

«A CIDADE»

A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

Thursday, August 17, 2006

MEMÓRIA, LAÇOS E MALHAS ...

Tenho imensa memória (é verdade que nem sempre é bom).
Lembro-me de palavras. De lugares. De números e de datas. De muitos pormenores.
Às vezes incomodo.
Mas ontem a memória foi boa.
Dia 16 de Agosto. Lembrei-me que a Quiqui, a filha mais velha da minha prima que morreu há menos de dois meses, fazia anos.
Lembrei-me que o seu nascimento foi uma grande alegria, porque ela foi o primeiro bebé daquela geração. E também porque nasceu no dia em que a sua bisavó, a corajosíssima mãe do meu pai e dos meus tios, tinha morrido.
Esta coincidência foi entendida como «uma coisa muito boa».
Uma alegria a dizer a vida num dia marcado por um acontecimento triste.
Telefonei à Quiqui (nunca o fizera).
Depois dos parabéns, contei-lhe esta lembrança.
Percebi que a Quiqui gostou mesmo.
E confessou, como se agradecesse «Nunca ninguém me tinha dito isso»
Prometi encontrar-me com ela. Para lhe contar outras histórias.
Para mim, foi bom contar.
Para a Quiqui, foi bom ficar a saber. Ligar a vida.

Toda a gente sabe que gosto de fazer malha. Não sei se há alguma coisa de mais parecido com um fio que se tece do que as palavras que se ligam. E nos ligam.

ESCAPADELA...

Só há uma ligação à Net cá em casa, nestes últimos dias inteiramente ocupada pelo Manel.
Agora, manhã cedo, resolvi vir.
Esta janela é já parte da minha vida e, apesar da pressa, dá pelo menos para agradecer ( e muito) os parabéns e a ternura que por aqui encontrei. «É que há coisas mesmo fantásticas, não há?»
Há mesmo.
A ver se encontro mais uns espaçozitos para vos visitar.
Até lá....

Tuesday, August 08, 2006

AGRADECER

É que hoje faço anos. Sessenta e seis.
No meio de cabeleireiro, telefonemas, um bolito para fazer, dou este saltinho à Leitaria.
Para vos deixar este segredo, que nunca foi segredo ( no meu bairro quase toda a gente sabe que faço anos).
Sessenta e seis.
E que estou contente.
Que dou graças a Deus por tudo.
E que agradeço a todos.
Passando pela minha vida, cada um me vai segredando, a seu jeito, os passos que hei-de dar.
Bem haja a todos.
E lá vou fazer o bolito e dar um jeito à sala....