Sunday, August 20, 2006

ARY DOS SANTOS

Por causa das palavras, ouso transcrever José Carlos Ary dos Santos, grande poeta ainda por achar ( coisa tão lastimável e urgente ).
A seguir, vou também eu andar pela cidade, pelo Jardim da Estrela, ao encontro destas e de outras palavras. Ao encontro de Ary, hoje.
E até passo em frente de uma das agências de publicidade onde ele trabalhou palavras.

«A CIDADE»

A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

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