Monday, March 24, 2008

SEGUNDA FEIRA DE PÁSCOA, LIMPEZAS E POESIA


Foi com boa vontade que disse ao Manel Hoje nem saio de manhã. Vou dar uma mãozinha e trabalhar com a D.
Ele concordou pois tem que ser.

E eu três horas e meia a dizer é preciso limpar o parapeito. Olhe, é melhor abrir a janela primeiro... Estes livros estão cheios de pó...

Tentei mostrar-me paciente. Mas deixei de certeza passar «uma certa fúria».
A D a certa altura disse-me lá no Banco sou encarregada de toda a limpeza. E olhe que há lá tanto livro para limpar...

Bem, nem respondi.
Aquele parapeito ficou limpo. E mais duas prateleiras do quarto de trabalho. E a D. a precisar tanto do trabalho que lhe dou.

Amanhã vou sair bem cedinho. Vou mesmo.

Porque é que me lembro daquele poema de Manuel da Fonseca
«Ah as coisas incríveis que eu te contava assim misturadas com luas e estrelas
e o olhar vagaroso como o andar da noite!»

E que terminava mais ou menos assim

«Mas o certo é eu ser o terceiro oficial de finanças. da Câmara Municipal ...»

Nem o poeta alguma vez se resignou, nem eu.

O certo é eu ir sair. Cedinho.

Sunday, March 23, 2008

DA PACIFICAÇÃO OU DA SABEDORIA


Estou a ver o programa de homenagem à Simone.
Julgo que sempre gostei dela.
Admiro-lhe a determinação.
A coragem nas dificuldades. A alegria na luta permanente.

E depois gosto desse «gosto» pelas palavras. Que sempre lhe vêm de dentro.

Ao contrário, sempre «embirrei» um bocado com a Madalena Iglésias.

Hoje, aplaudo as duas. Vi-as no mesmo palco. Abraçadas. A cantar a vida.

É esta a sabedoria que os anos nos dão.
Benção do tempo.

DOMINGO DE PÁSCOA

Acordo e é Páscoa.
Está sol.

Quero guardar o sol.
E todos os recomeços. Ditos em palavras, em sorrisos, em silêncio, ditos em todos os afectos com que sustento a vida.

Louvo a manhã de Páscoa.

Sei quanto é verdadeira toda a ressurreição. É que que no meu bairro as pessoas dizem «Bom dia e boa Páscoa»
Recebo emails, sms, cartões, telefonemas.

Não há que duvidar.
Manhã.

Boa Páscoa para os que por aqui passarem. Com a plenitude da luz desta e de todas as manhãs.

Sunday, March 16, 2008

DOMINGO DE RAMOS


Ainda que pressionada por um tempo sempre exíguo, quero escrever esta postagem. Como se a cada um oferecesse um raminho.
É que hoje é Domingo de Ramos.
Neste dia, dantes, era hábito que os afilhados oferecessem aos padrinhos um raminho de flores. Singelo que fosse.

Vou encher a casa de verduras, talvez apanhadas do quintal que valem mais.

Gosto muito do evangelho inicial. Jesus entra em Jerusalém montado num jumentinho, «filho de uma jumenta»
Não se trata de uma entrada triunfal. É «num jumentinho...»

Se alguém se sentir motivado, encha também a sua casa de ramos . «Ramos de árvores» ou raminhos.
Para dizer talvez que na morte que havemos de ouvir esta semana, há uma esperança de vida.
Uma esperança...
Um raminho...

Tuesday, March 04, 2008

UMA HISTÓRIA SIMPLES


Pronto, enganei-me. O segundo filme chama-se «Uma história simples».

E lindo, lindíssimo.

Sunday, March 02, 2008

FILMES




Os filmes moram na nossa casa. Arrisco afirmar que habitam o coração de cada um de nós.
Sem explicação, hoje vamos menos ao cinema. Falta de tempo? Falta de dinheiro? Nada disso, quando éramos mesmo novos, nessa altura sim, tempo e dinheiro eram escassos e raros. Mas íamos. O que foi muito bom! Pelo menos, deixou esta paixão.

Escrevo «isto» a propósito dos filmes que foram o tema da festa de anos do Manuel. È que só podia...
E de dois filmes vistos há pouco tempo.
«Expiação» e «Uma vida simples».
«Expiação» é em tudo um filme lindo. Todo o décor. A música. As personagens. Os gestos. E o problema da culpa, real ou imaginária. Toca-me muito. É que transporto sempre uma culpa qualquer que mais nasce da dúvida, da escolha constante «entre isto ou aquilo». Este espaço intranquilo.

Mais me tocou «Uma vida simples».
Aquela viagem decidida, tranquila, longa, num carrito cortador de relva que puxava um atrelado enorme.
Aquela viagem de um velho para ir ter com um irmão que sofrera um AVC. Um irmão com quem estava desavindo.
Aquela viagem para a reconciliação. Para o encontro com quem o conhece melhor do que ninguém.
Por causa da infância comum.
Por causa da noite carregada de estrelas, que olhavam, meninos.
Ao rever «Uma vida simples», também eu fiz uma viagem. Pela vida toda.
Muitas vezes penso que a eternidade talvez seja esse ver e rever a vida toda. Alcançada enfim a serenidade. E as estrelas hão-de ser talvez todos os lugares. E todas as pessoas. Todas as mesas de festa onde estendi as toalhas de linho. E essa insistente tentativa de acolher bem.
As estrelas talvez sejam todas as malhas que teci para os meus netos. E para outros meninos.
As estrelas, pontos de afecto e de ternura da minha «vida simples».

QUERIDO PROFESSOR VITORINO




Ouvi na radio «Trinta anos passados da morte de Vitorino Nemésio».
Esperei então um tempo sem pressa para lhe dizer a gratidão por o ter tido como Professor.
Rendo-me. E aqui estou para o fazer, neste tempo afinal curto e tão sem jeito.
Só que consigo, Professor, só posso estar à vontade.
Também o senhor parecia «não ter jeito». Dizíamos, por tontice da idade, que nunca acabava o assunto de que começava a falar.
A paixão pelas palavras, o domínio das palavras, eram esse dom que lhe permitia o malabarismo de partir de ideia em ideia, de forma encantatória.

Sabe, toda a gente sabia, que eu faltava a imensas aulas.
Mas às suas, nunca.
E sempre pontual.

As disciplinas de opção foram sempre ministradas por si, já que era eu a escolhê-las.
Segui-o como um mestre que foi e que é.
Segui-o como um sonho.
Nunca nos deixam, nem os mestres nem os sonhos.

E depois, Professor, aquela gravata sempre tão mal posta. Os colarinhos da camisa para cima. As mãos enormes. A boca donde saíam a voz e as palavras e as ideias. Esse fascínio.

Prometi aos meus filhos, Professor, que os havia de levar a conhcê-lo, ali na casa da Sociedade Farmacêutica. Sem porquê, deixei passar o tempo. Uma manhã fui surpreendida pela notícia da sua morte. E levei comigo a Maria ao seu enterro. Talvez treze ou catorze anos. E nunca se esqueceu.

A essa tão pobre homenagem junto este texto. Para dizer a gratidão que a si me tem unido a vida toda.
E para sempre, Professor.