Sunday, March 02, 2008

QUERIDO PROFESSOR VITORINO




Ouvi na radio «Trinta anos passados da morte de Vitorino Nemésio».
Esperei então um tempo sem pressa para lhe dizer a gratidão por o ter tido como Professor.
Rendo-me. E aqui estou para o fazer, neste tempo afinal curto e tão sem jeito.
Só que consigo, Professor, só posso estar à vontade.
Também o senhor parecia «não ter jeito». Dizíamos, por tontice da idade, que nunca acabava o assunto de que começava a falar.
A paixão pelas palavras, o domínio das palavras, eram esse dom que lhe permitia o malabarismo de partir de ideia em ideia, de forma encantatória.

Sabe, toda a gente sabia, que eu faltava a imensas aulas.
Mas às suas, nunca.
E sempre pontual.

As disciplinas de opção foram sempre ministradas por si, já que era eu a escolhê-las.
Segui-o como um mestre que foi e que é.
Segui-o como um sonho.
Nunca nos deixam, nem os mestres nem os sonhos.

E depois, Professor, aquela gravata sempre tão mal posta. Os colarinhos da camisa para cima. As mãos enormes. A boca donde saíam a voz e as palavras e as ideias. Esse fascínio.

Prometi aos meus filhos, Professor, que os havia de levar a conhcê-lo, ali na casa da Sociedade Farmacêutica. Sem porquê, deixei passar o tempo. Uma manhã fui surpreendida pela notícia da sua morte. E levei comigo a Maria ao seu enterro. Talvez treze ou catorze anos. E nunca se esqueceu.

A essa tão pobre homenagem junto este texto. Para dizer a gratidão que a si me tem unido a vida toda.
E para sempre, Professor.

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