Sunday, March 02, 2008

FILMES




Os filmes moram na nossa casa. Arrisco afirmar que habitam o coração de cada um de nós.
Sem explicação, hoje vamos menos ao cinema. Falta de tempo? Falta de dinheiro? Nada disso, quando éramos mesmo novos, nessa altura sim, tempo e dinheiro eram escassos e raros. Mas íamos. O que foi muito bom! Pelo menos, deixou esta paixão.

Escrevo «isto» a propósito dos filmes que foram o tema da festa de anos do Manuel. È que só podia...
E de dois filmes vistos há pouco tempo.
«Expiação» e «Uma vida simples».
«Expiação» é em tudo um filme lindo. Todo o décor. A música. As personagens. Os gestos. E o problema da culpa, real ou imaginária. Toca-me muito. É que transporto sempre uma culpa qualquer que mais nasce da dúvida, da escolha constante «entre isto ou aquilo». Este espaço intranquilo.

Mais me tocou «Uma vida simples».
Aquela viagem decidida, tranquila, longa, num carrito cortador de relva que puxava um atrelado enorme.
Aquela viagem de um velho para ir ter com um irmão que sofrera um AVC. Um irmão com quem estava desavindo.
Aquela viagem para a reconciliação. Para o encontro com quem o conhece melhor do que ninguém.
Por causa da infância comum.
Por causa da noite carregada de estrelas, que olhavam, meninos.
Ao rever «Uma vida simples», também eu fiz uma viagem. Pela vida toda.
Muitas vezes penso que a eternidade talvez seja esse ver e rever a vida toda. Alcançada enfim a serenidade. E as estrelas hão-de ser talvez todos os lugares. E todas as pessoas. Todas as mesas de festa onde estendi as toalhas de linho. E essa insistente tentativa de acolher bem.
As estrelas talvez sejam todas as malhas que teci para os meus netos. E para outros meninos.
As estrelas, pontos de afecto e de ternura da minha «vida simples».

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