Saturday, August 12, 2017

O RUACANÁ E A VIDA

Pois o Ruacaná fechou.
Temos sempre tanta pena do que acaba, do que morre.
Fica bem viva a vida que aí vivemos.
Os meus Pais deixavam-me lá namorar até às 11 da noite. Anos 50, pois...
Foi lá que dei lições de Latim ao Manel quando ele quis entrar para Filosofia. ( sim, Ana Gomes Ferreira, às vezes eu ensaiava o jeito do seu Pai, meu querido Professor....)...
Ver Mais

Co

Thursday, January 12, 2017

A COLCHA


Azul e cor-de-rosa.
Quadrados azuis e cor-de-rosa.
Quadrado sim, quadrado não, um boneco, melhor, um bicho bordado. Sei o ponto. Sou capaz de o bordar. Mas não lhe sei o nome.
A colcha para cama de criança está em Tibaldinho. Numa gaveta de uma das cómodas no meu quarto.
Os quadrados estão ligados por uma rendinha fina, daquelas de linha número 20 ou mais fina ainda, novelos que só vi em caixas de amostras que vieram de casa da minha Mãe.
À primeira, aquilo é piroso, quiche.
Isso é «à vista». E a vista não é nada. «Ver para lá da imagem»
A minha Mãe cortou os quadrados.
Desenhou-lhe os bonecos.
Bordou-lhes os bonecos e uniu-os todos com os pontos da rendinha.
Horas. Muitas.
Serões de palavras ou silêncios.
Uma criança ia nascer. Rapaz? Rapariga?
Não se sabia.
E depois a ternura que não cabe na gaveta.
O sonho que não cabe na gaveta.
A alegria
A vida do tamanho do mundo.
A colcha tem uma mancha enorme de argirol. Gotas para os olhos.
Hoje talvez ninguém saiba o que isto é. Argirol. Por isso é mesmo melhor deixar assim escrito.
A colcha. Para uma cama de criança. A colcha enorme. Como o amor da minha Mãe.

Como o Amor.