Sunday, December 31, 2006

FOI ENFORCADO SADAM HUSSEIM

Pois, dói-me muito.
Assim a virar para 2007.
Gostava que não fosse verdade uma tal solução, gostava de dizer não a «esta humanidade».
E pertenço-lhe.

Esforço-me por acreditar. e por dizer e reinventar a ESPERANÇA.

Quando era muito pequena julgava que não ia já viver no ano 2000. Tão longe!!!
E acreditava, acreditava mesmo que toda e qualquer guerra ia obviamente acabar.

Quero de volta esse acreditar.

Para todos, um 2007 com muita ESPERANÇA, que nos salva os nossos dias.
Mãos juntas. Gestos de amor, pequeninos, sem notícia talvez. Gestos sempre criadores.

Thursday, December 28, 2006

PORQUE AMANHÃ SÃO 44


Porque nascemos em cada um dos dias
e em cada um dos gestos.
Porque nascemos nas palavras que dizemos
e também nos silêncios.
Porque nascemos sempre.
Nascemos
Renascemos

E cada um dos dias é uma manhã, uma promessa, uma certeza.
Cada um dos nossos dias segreda e canta a certeza de ser SEMPRE

Friday, December 15, 2006

PELAS PALAVRAS DE DAVID MOURÃO FERREIRA

Entremos, apressados, friorentos,
num gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio,
no prédio que amanhã for demolido...

Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos, e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...

Entremos, despojados, mas entremos.
Das mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

Monday, December 11, 2006

SIDÓNIO PAIS FOI BOM TER-LHE BEIJADO AS MÃOS

Ontem fomos à missa de sétimo dia do Sidónio.
Julgo que sabem melhor quem era o Sidónio se eu escrever aqui que ele era o pai do Bernardo Sassetti e de mais sete filhos, julgo.
Dos talentos do Sidónio, não sei falar.
Dele guardo para sempre o sorriso acolhedor.
E a serenidade.
Quando morreu a sua neta, a Rita Wemans, eu encontrei-me sem palavras. Ali diante de um senhor que sorria e me agradecia.
Beijei-lhe as mãos. As dele e as da Lourdinhas.
Ontem naquela missa de sétimo dia, pairava a serenidade do Sidónio.

E eu, serena também, agradecida por aquele impulso que um dia me fez beijar-lhe as mãos.

Saturday, December 09, 2006

SOL

Volta o sol.
Ainda que «os bocadinhos»
Não gosto de quebras. Não gosto de me vergar a esta vontade de às vezes, tantas vezes «ficar», porque «no maple da sala está-se bem». Geralmente a deixarmo-nos morrer em frente da televisão por demais alienante.
Eu precio do meu bairro.
Do mercado.
Dos cafés.
Dos encontros. Da vida que se ouve. Da vida que se diz.

Vá lá, Maria Teresa, uma volta no bairro dá mesmo vida à vida.

Bom dia para todos.
Com este sol, «aos bocadinhos».

Wednesday, December 06, 2006

PALAVRAS

Eu a fazer uma tradução há tantos dias...
Eu a saber «que não é isso que está no texto»
E «o que está no texto, não é bom Português»
«e que não passa a ideia».
Eu às voltas com palavras, palavras, sentido que não é ...
E o Manel a dar uma ajuda, e os dois já quase a discutirmos, antes assim, não vês...
Palavras...
E a noite a avançar num prazer imenso.
O serão dos dias todos da vida.
As palavras, procuradas, «arrancadas»
Como as malhas que toda a vida tenho vindo a tecer.
Com gosto.

Palavras que não encontro.
E de repente, encontro.
As palavras
Como as malhas
Como aquela estrela em Tibaldinho, apontada pelos dedos do meu pai. E eu a tanto custo a procurar ver. Até que por fim, a via.

Vou voltar ao tal texto, tentando
E sabendo,
desta vez sabendo,
que não é nunca possível traduzir palavras.

Sunday, December 03, 2006

UM PEDIDO IMPORTANTE AO JOÃO MARIA

Olha, João Maria, hoje, no dia da tua primeira comunhão, tenho um pedido para te fazer. Um pedido importante.
Vê lá se dás uma ajudinha à tua avó Teté, que gosta muito da vida, mas é tão rezingona.
Talvez não tenhas dado muito por isso. As avós escondem estas coisas dos netos. Mas o avô Manel sabe-o muito bem e o teu pai e a tia Maria e uma data de gente. E sei eu. E é tão chata, João, esta rezinguice.
Tu tens esse sorriso fantástico. Que ri todo. E diz a alegria. E sabes dar aquele beijo «gordo» para as minhas noites.
João Maria, fica assim a tua vida toda.
E ensina-me, ensina-nos a todos a aprender contigo.

Thursday, November 30, 2006

DIA DE SANTO ANDRÉ


Pois. Foi uma discussão grande cá em casa.
Que o rapaz se havia de chamar Pedro. Depois que não. Que já tinha um primo «Pedro».
Depois, o pai, que lhe chamássemos «Simão» e eu «que horror! Nome de macaco».
Depois, por mim o nome dos dois avós «Luis Pedro», mas não foi aceite, parecia uma pepineira.
Enfim o pai disse ANDRÉ e eu «que não gostava».
Vieram então as razões todas «nome grego que significa homem, nome de um grande apóstolo».
Lá aceitei.
Passado pouco tempo apareceu uma telenovela com uma personagem «André» e eu mesmo chateaada.
Mas ficou-lhe bem. Ficou-lhe mesmo muito bem.
E fiquei a saber desde essa altura em que o nosso rapaz nasceu que 30 de Novembro é o dia de santo André.
Viva!

Tuesday, November 28, 2006

DENTISTA E IMENSO MEDO

Hoje vou ao dentista.
Cheia de medo.
Quero fugir.
Digo a mim própria que posso viver sem dentes.

E o relógio a passar.
E eu a empatar.

Lá vou eu.

Monday, November 27, 2006

AUSÊNCIA DE PALAVRAS

Tanto tempo sem escrever aqui, ontem foi por causa da Net que se avaria.
Tem sido difícil viver sem «estas janelas»
Agora voltei.
Respiro.
E volto a ler-vos. A procurar-vos. A dizer-me.
Vivo nestas palavras.

MÁRIO CESARINY

No dia da sua morte, quero para mim estas palavras de Mário Cesariny, quero-as muito para mim

«Despe-te de verdades
Das grandes primeiro que das pequenas
Das tuas antes que de quaisquer outras
Abre uma cova e enterra-as
A teu lado
Primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
E não possuías mácula senão a do teu nome estranho
Depois as que crescendo penosamente vestiste
A verdade do pão a verdade das lágrimas
(…)
Depois as que ganhaste com o teu sémen
Onde a manhã ergue um espelho vazio
E uma criança chora entre nuvens e abismos
Depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
(…)»

Sunday, November 12, 2006

TÃO PRÓXIMO O NATAL...

Começo a saber que o Natal está próximo.
Não por causa do presépio que desembrulhamos devagar, figura por figura
Não por causa do espanto dos meus netos com as luzes da árvore e das ruas
Não por causa da nossa história, Manuel, cuja data começou aqui. Lembraste que me trouxeste o esquilo pequenino de peluche, que ainda existe e resiste, como nós?
Começo a saber que o Natal está próximo.
Montras cheias de tudo e de nada.
«Em ordens de comprar» e as listas infindáveis e o stress de «o quê para quem».
Começo a saber que o Natal está próximo.
Quero para mim a coragem de fugir deste Natal.

Para saber de verdade que o Natal está próximo.
O Natal.

Saturday, November 11, 2006

SOL

Dia de S. Martinho.
E SOL

IR POR AÍ
PELAS RUAS
E SORRIR
Aprendesse eu «a cortar a minha capa ao meio e a partilhá-la.»
Enquanto não,
segue o sorriso.

SOL

A LIVRARIA DO KING

Reabriu.
Enquanto esteve sem livros, aquelas prateleiras vazias, sem livros e sem gente, sem nada onde poisar o nosso olhar, sem nada que as nossas mãos pudessem tocar, aquilo não sei o que parecia. Os cemitérios têm mais vida. Têm nomes, datas, histórias adivinhadas.

REABRIU A LIVRARIA DO KING
E, mesmo com o orçamento apertado, tive o prazer de umas compritas. Marcadores de livros magnéticos, tão giros...

OS MEUS OLHOS SÃO AZUIS E NÃO POSSO MUDÁ-LOS

Ontem para fugir àquela inércia estúpida da noite «fomos ao cinema».
«Estou cansada. queres mesmo?»
«Se não formos, vamos ter mesmo pena.»
Fomos. Bem bom.
Filme em francês e tudo. «Em Paris»
A pincípio não nos pareceu fácil começar a gostar. depois, como a coca cola .... Apanhadinhos.
Retive uma conversa entre duas personagens
«É preciso cuidar bem da tristeza com que nascemos.»
«Nascemos com uma tristeza?»
«Nascemos com uma tristeza. Como com a cor dos olhos. Os meus são azuis e não posso mudá-los.»

Wednesday, November 08, 2006

ARROZ DOCE E SANTIDADE

Para a festa de Todos os Santos vieram os filhos e os netos. Alguns amigos, também.
O tal cozido, este ano encomendado. Afadiguei-me feliz
Outra vez as toalhas. E a loiça. Terrina e tudo. Outra vez aquele arroz doce de que não sei a receita. Só as palavras da minha mãe «Deitas o arroz na água e vais vendo».

Com alguma dificuldade, experimentei esse olhar que não me diz a quantidade exacta dos ovos nem do arroz. «Não é difícil, vais vendo», assegurava.

Quando os vi todos à mesa, lembrei-me.
Com canela eu tinha escrito no arroz doce «Bem vindos todos os Santos».
E o mais velho dos meus netos, adolescente e incrédulo «Nós?! Santos, avó?!»

Olhei-vos ali à mesa, chamados todos à santidade, talvez sem o saberem.

E quis dizer a cada um, como dizia a bisavó deles: «Não é difícil, vais vendo.» Cada dia, a santidade.

Tuesday, October 31, 2006

EM DIA DE TODOS OS SANTOS

É como se em dia de Todos os santos começássemos o Natal.
Fazemos um cozido enorme.
Abrimos as mesas.
Estendemos as toalhas.
Damos vida às loiças.
Uma confusão...
E gostamos mesmo muito.
Muito.
Hoje, estou memo atarefada.
Lá vou eu...

Friday, October 27, 2006

O MILAGRE DAS COISAS SIMPLES

Gostei muito de ouvir António Lobo Antunes a dizer a importância, a magia, das coisas simples, destas que fazem a vida de toda a gente. E que estão ao alcance de toda a gente.

Aquando da morte do Vítor, um dos rapazes, o Diogo, lembrava as festas de anos do André. E os sugus.
E como sempre chamou ao Manel, «o tio Manel dos sugus», sem nunca ter percebido donde é que vnham tantos sugus. Davam para a festa toda e ainda para levar para casa, os bolsos bem cheinhos.
Realmente o Manel enchia a casa de sugus.
Pai , super pai, o Manel soube sempre e sabe o valor das coisas simples.

Coisas simples.
Só «coisas simples»?
Ou não será que é também disto que falamos quando dizemos «que é milagre»?

Thursday, October 26, 2006

«ONTEM NÃO TE VI EM BABILÓNIA» E O MILAGRE QUE TAMBÉM NOS CHEGA NUM PACOTE DE CASTANHAS

Hoje no teatro Maria Matos, em Lisboa, o novo livro de António Lobo Antunes.

O nome deste livro só pode ser milagre.
Afirma que «somos muito mais do que isto».
Muito mais.
«Ontem não te vi em Babilónia».

Como o nosso neto João Maria, na praça de Londres a reclamar castanhas assadas. Quentinhas. «Quero uma dúzia , avó.» E eu ali com ele. Numa fila de gente, à espera. Gente que revisita o sonho e a ternura num pacote de castanhas. E o homem a vendê-las.
Magia.
Sempre.

Sunday, October 22, 2006

NO CHIADO, POR CAUSA DA VIDA E DO SUPER HOMEM


Ontem o Manuel e eu fomos ao Chiado. À procura do que fosse melhor para o Manuel Maria, «mas com super homem»
Boa razão.
O Chiado foi e é «a nossa casa». A subir e a descer, namoro abaixo, namoro acima.
A Brasileira. Lá almoçámos ontem. Liturgia sempre.

Mal que lá cheguei vi um vendedor de castanhas. Naturalmente já apareceram há muito tempo e eu distraída.
E , de súbito, a lembrança presente do postal que nesta altura escrevia à minha mãe, em Tibaldinho ainda. «Mãe, volte, que já há castanhas.» As primeiras era eu quem lhas dava.
E eu e o Manuel, felizes, no Chiado.
Ao fundo, o fumo das castanhas.
Mãe...

AZELHICE


Não consigo postar nada em blog nenhum.
Três tentativas no «sopro do coração», duas em «teacher past tense».
Desde ontem.
A ver se as competências melhoram.
Entretanto, ficaram as palavras... Mas é como se tivessem ido.
De tentativa em tentativa.
Como a vida.

Saturday, October 21, 2006

DATAS TÃO ESPECIAIS


Hoje ... o André faz anos de ter sido baptizado. Lindo, o nosso menino. De branco, de calças de malha como um rapaz, e já carequita. Foi ao meu colo, contra a vontade do sacristão que dizia «ao colo da madrinha», a tia Zé, e eu, teimosa sempre, que não, «ele é meu filho, sou eu que o trago à Igreja». Uma alegria. Grande.

Amanhã o Manuel Maria faz cinco anos! Viva o Manel, a quem prometi e ainda não dei uma gelatina e um passeio de eléctrico.
O Manuel, o nosso quarto neto nasceu na véspera da operação ao coração do avô Manel.

No dia seguinte à operação, quando cheguei ao hospital, junto às pouquíssimas coisas que uma pessoa tem nos cuidados intensivos, já lá estava, levada pelo André, a fotografia do lindíssimo Manuel.

E anda assim a vida. De gesto em gesto. De mão em mão.
Graças a Deus.

Thursday, October 19, 2006

PORQUÊ UM REFERENDO?

Sobre a interrupção voluntária da gravidez?
Porquê?

E não o que é, com urgência, óbvio?
Tão óbvio.
Porquê um referendo?

RE-ORÇAMENTAR

Tenho uma atracção estranha pelos orçamentos.
Verdade!
Aquela coisa «tira daqui e põe ali» e o ordenado dividido em envelopes quando nos casámos (geralmente por esta altura do mês era preciso «ir a outro envelope»), acabava por me estimular.
Mas agora quero lembrar-me mais do que de nós, de tantos que habitam a cidade e tem só aquele calorífero horrível, porque não podem ter outro. E gasta tanto. Quero lembrar-me do valor real das reformas. e da conta da farmácia, mas qual conta, quando não se pode mesmo comprar nada.
Re-orçamentar, como?
Os velhos e os pobres estão a inflaccionar muito, não estão?

Monday, October 16, 2006

LIGAR PELO TELEMOVEL PARA QUEBRAR A SOLIDÃO

A Lisette, oitenta e tal anos, a morar na Maria Pia, a subir até cá acima todos os dias «para não enferrujar», a fazer bonecos de crochet, que nos vai dando no café da Ana, e por aqui e por ali...Tem estado doente e abatida. Com zona, disse ela.
Mas continua a vir sempre.
Ontem, domingo, o café fechado, liguei-lhe pelo telemóvel.
E ela «vocês são uns amigos que não sei agradecer».
«Lisette, que disparate.»
Resposta «Quando alguém se lembra de nós, temos que agradecer. Principalmente se vivemos sozinhos, como eu.»
Lisette, um beijo enorme.
E não nos deixe distrair de tanta coragem que é a sua. De tanta solidão.
Para eu lhe ligar mais vezes. Muitas vezes.
Pudéssemos em cadeia ligar a todas as Lisettes.
Deixo aqui um pedido. E um propósito para mim - um telefonema por dia para quebrar a solidão, OK?

Sunday, October 15, 2006

HOJE

Para o dia de hoje, dou-me esta espécie de ordem: «ser feliz».
Gostar deste dia, como ele acontecer.
Sem nada esperar.
Hão-de repetir-se as tarefas quotidianas, género cozinha, roupas, umas voltas a pé, uma voz do outro lado do telefone, umas malhas e sempre palavras, no computador e nas várias agendas e blocos que espalho pela casa.
No dia de hoje, «ser feliz».

Monday, October 09, 2006

O SENHOR PEDRO E ALBERTO JOÃO JARDIM

Vim até aqui.
Do outro lado da parede, a televisão.
Além do berreiro do sr. Alberto João, oiço agora na TVI «menina Ruth, Carla e Diana(?), como sabem vão passar uns dias com o senhor Pedro».
No nosso bairro o senhor Pedro é um senhor que tem um café com esse jeito dos cafés de Campo de Ourique.
Ouvir na televisão « o senhor Pedro» a propósito de um suposto milionário e de umas meninas...
Não estou em mim.
Não estou mesmo.
Revoltem-se todos.
Mobilizem-se mesmo.

Wednesday, October 04, 2006

DAS MÃOS DADAS

Deixo aqui, como se fosse para mim, o que a Margarida um dia me escreveu:

«Das mãos dadas
talvez o fogo nasça...»

E lá vou enfrentar o dia
a vida
promover um café, qualquer coisa, porta e mesa abertas, para juntar os primos
e sorrir.

Monday, October 02, 2006

VÍCTOR DE MELO BARRETO, MEU PRIMO IRMÃO

Não quero queixar-me da tua morte.
Foi brutal. Mas estavas a caçar, coisa de que sempre gostaste. Talvez nem tenhas dado por isso, Víctor.
Hoje, quero, da forma que puder, envolver-te em ternura.
Vou estar na igreja à espera do teu corpo morto.
Vou chorar e sorrir com a Carmen, com a Mizé, com as tuas meninas e com os rapazes. Com os teus netos também.
Vou sorrir.
Nós dois vivemos uma hitória bonita, Víctor. Tão cheia de ternura.
A minha mãe contava que a nossa avó Alice te fez um enxoval de príncipe.
E o meu pai exaltava-se a ver-te jogar no CACO, quando te chamavam «ó careca».
Víctor, tanto afecto!
Que bom que tudo isso foi.
Vou sorrir.
Sei que hás de gostar.

DEVOLVER O QUE LHE NÃO PERTENCE

Ouvi que a EMEL vai ter que devolver um euro e pouco, por ter cobrado incorrectamente um tempo extra de estacionamento.
Fico bem contente.
Não pelo euro e pouco. Mas porque começamos talvez a não calar.
Coisas de nada. Um euro e pouco. «Coisas» que valem por si.
Às vezes incomoda, sobe-nos a tensão. É que o marasmo à nossa volta, é imenso. Género, «não vale a pena».
E o que é que não vale a pena?

Wednesday, September 27, 2006

EUNICE MUÑOZ

Hoje à tarde vi/ouvi, quase por acaso, a Eunice na RTP 1.
Vi mais do que ouvi.
O olhar, o sorriso e essa postura.
Dei comigo em lágrimas.
Serenamente.
A Eunice toca sempre no mais fundo de mim,
no mais fundo da vida.
Destes momentos e destas pessoas de que se faz a vida.
De que se faz mesmo a vida.

Monday, September 25, 2006

«VOLVER»

Um conselho?
Uma dica?
Ver e rever «Volver».
Deixar que todos os mistérios nos envolvam.
Sem perguntas, porque nunca saberemos as respostas.
Sem perguntas.
Apaziguados, quem sabe?
Apaziguados.

AS ARGOLAS DE GUARDANAPO QUE NOS DESTE

Ficaste connosco, Teresinha Guimarães. Para sempre.
Com esse jeito de amar até ao fim.
Às vezes tão «sem jeito».
Esse jeito de dizer «que não», que não estavas de acordo. Quase nunca.
Esse jeito que te mantinha viva. E atenta. E a nós também.
Faz-nos o favor de, onde quer que estejas, nos mandares uma força e um sopro qualquer que não nos deixe viver nos marasmos que sempre detestaste.

De ti, guardamo tudo, como sabes.
Bem vês, na nossa mesa, as argolas de guardanapo, que nos deste.

Sunday, September 24, 2006

EM SETEMBRO «CHUVA DE MAIO» de PAULO FRAZÃO

Gosto de Setembro.
Hoje fui pelo Jardim da Estrela, reencontrando a paz que nos volta em Setembro.
Por esta altura, lembro muitas vezes um poema do tio Paulo do Manuel, Paulo Frazão, que, cantando a chuva de Maio e não a de Setembro, me parece dizer a mesma paz.
Deixo algumas das suas palavras, datadas de 1928

«Chuva de Maio,
chuva de lenda,
caindo branda, tão de mansinho,
que mais parece feita de renda,
que mais parece feita de arminho,
Chuva de Maio, chuva de lenda ...

Chuva de Maio,
que vai caindo
suavemente - chuva divina -,
ao mesmo tempo que o sol, fulgindo
pelas alturas, tudo ilumina.
Chuva de Maio,
que vai caindo...»

NESPRESSO MONITOR PLASMA

O Manuel têm uma máquina nespresso que «já» instalou.
Também «já» instalou o meu novo monitor plasma.
Sublinho a palavra «já», porque ao longo destes anos, isto tem sido sempre à espera que alguém venha até cá e dê uma mãozinha. E acaba sempre por vir, ...
Nem o Manuel nem eu alguma vez pregámos um prego.
Hoje, ...milagre!!!
No fim destas instalações todas, declarou cheio de auto estima «Até já estou pronto para ir ao IKEA.»

Alguém ainda defende que a gente a partir de certa idade já não muda?

Friday, September 22, 2006

FOTO FUNDADORA DESTE BLOGUINHO

Ontem o Manuel escreveu este comentário junto da foto a preto e branco da «leitaria».
Sorrio enternecida e agradecida.
E deixo-o também para vocês.

«Então a foto fundadora deste bloguinho não precisa de mais legendagem?A leitaria é também pastelaria. Há cerveja a copo e gelo também. A menina de escuro (a Teresa) e a menina de claro, a protegida. O carrinho e a boneca faziam parte da formação básica das futuras mães. E não existem mais pessoas no vão da porta: o que há são bananas e outra fruta. Portanto, também frutaria Ecila. Por fim de notar que as cortinas que protegem as vitrinas têm barras de renda.Como uma foto minúscula, a p/b, dá tanta informação sobre a personalidade da dona do blog! Ao trabalho, psicanalistas!Manel 09.21.06 - 12:57 pm #

Sunday, September 17, 2006

A LEITARIA HÁ SESSENTA ANOS...

O André lá conseguiu com êxito (ricos meninos, sempre mais habilidosos do que os pais!!!) publicar a «leitaria» há sessenta anos, mais ou menos.
Eu sou a da esquerda, gorda e sorridente.
E continuo...
Amanhã vou de férias com o Manel para Palmela, pousada histórica e tudo!
Viva!
Namoro sempre. E luxo, que a idade já permite e a gente gosta.
Até quarta à noite, OK?

Teste às fotos

Saturday, September 16, 2006

VIDA

Pois a «leitaria» fez ontem um ano.
O André, que lhe deu nome, escreveu aqui algumas palavras em jeito de introdução (que me espantaram pela memória e pelos afectos...as mães são mesmo tontas, é assim) e terminou «dê-lhe vida e boa sorte».
Outra vez obrigada, André.

E com surpresa, é bom perceber como a gente parece que dá vida aos filhos e são eles que nos vão dando essa mesma vida por aí fora.
Sempre.

Thursday, September 14, 2006

O FAZ DE CONTA

É urgente voltar ao Jardim da Parada ou ao Jardim da Estrela, a todos os jardins da inocência (inocência?),
e voltar jogar todos os jogos de Faz De Conta.
Todos.

O QUE OIÇO OU NÃO OIÇO E NÃO PERCEBO

Hoje, bem cedo, num canal televisivo, a propósito de um jogo de futebol «Vai ser uma noite de transcendência e de magia.»
Quem a disse procurou explicar. Julgo ter falado de concentração, de empenhamento.
Não percebo.

E há tantas outras palavras e outros tantos silêncios que não percebo mesmo. Ou que eu não quero aceitar nem dizer que percebo.
Por causa de alguma tranquilidade que procuro.
Que procuro.
Ficamos assim. Talvez eu não perceba. E sei que não sou estúpida. Nem distraída. Nada distraída.

Wednesday, September 13, 2006

REQUIEM PARA O SENHOR RODRIGUES DA ALOMA E PARA O PADRE MESSIAS DE TIBALDINHO

De vocês dois, a vida.
Coisas como, sem que eu pedisse, o senhor Rodrigues sabia já o que eu queria «os folhados da Aloma para o André» ou os copos que, pequenito, ele partiu e «o André vai pagar quando receber o primeiro ordenado». E sempre essa pergunta, esses cuidados «E a Maria? E o Bernardo?». Coisas outras, como o cafezinho que a minha mãe tomava ali de pé, linda, bem penteada, de casaco de astrakan, ritual cumprido antes da missa do meio dia.

Do padre Messias, lá em Tibaldinho, os pratos que cada ano me trazia «um presente para a senhora» e eu sem lugar para os pôr. No centro da mesa da casa de jantar, quando vinha, iam-se substituindo, um dia, um, no outro dia, o outro.
O que é que agora fazemos aos pratos?
E os almoços em que os dois festejávamos os anos? O Manel com uma paciência de santo, lá ia buscá-lo, lá ia levá-lo ao seu paçal de eremita. Esses almoços de três lugares, sempre com um de nós em frente da cadeira vazia. Nunca lhe disse isto, mas era incómodo.
De repente, saltava-lhe um entusiasmo enorme, o mesmo com que fez a vida, o mesmo que lhe permitiu lutar até ao fim com esse cancro estúpido, a que nunca deu o descanso.
Saltava-lhe esse entusiasmo pela música para as crianças, pelos bordados, pelas novas tecnologias para a agricultura.

Fazem-nos falta hoje. Fazem-nos falta sempre.
A vida de vocês dois valeu e vale muito. Muito.

Monday, September 04, 2006

PERDI-ME?

Estou a ouvir na sala ao lado o programa da Fátima Campos Ferreira.
Isto é o meu país ou é um pesadêlo?
Arrumámos o sonho, os ideais, as lutas?
Ou andam por aí escondidas, tão escondidas, mortas com o calor e tantas guerras?
É urgente procurá-las, com jeito, devagar.
Deixá-las ressurgir.
Deixar que a vida fale.
A vida.
A vida.

Sunday, September 03, 2006

O EIXO DO MAL

Voltou o «Eixo do mal»
Voltei a respirar, a rir, a concordar e a discordar.
Voltei a ouvir quem pensa e diz.

Façam-nos o favor de continuar.
Por mim, um obrigada.

MARIA DA FONTE

Os dias continuam cheios de calor.
Apetece a brisa fresca.
Um Outono talvez. Costuma acontecer-nos em Setembro.
Este ano tarda.
Ontem, quase um acaso, fomos por aí, pelo bairro, antes que nos desse aquela espécie de cansaço, quase depressão que aumenta com o televisor e os programas de que não quero nem falar («pára de dizer sempre mal, Maria Teresa»)
Ao virar de uma esquina, umas mesitas quase escondidas. Parecia só uma esplanada pequenina.
Ficámos. Uma água e uma bebida qualquer. Depois, chegaram a Z e o J. Vinham talvez ao mesmo que nós. E estivemos por ali em mesas pegadas. Palavras. Memórias. Amizade.
E picámos uns petiscos mesmo muito bons.
Voltámos bem contentes.
Frescos, pois então….

Thursday, August 31, 2006

ELÉCTRICO 28

Tomo muitas vezes o eléctrico 28.
E gosto muito.
Às vezes, muitas vezes, atacam-me as saudades.
Há já alguns anos, escrevi «isto» que deixo aqui em jeito de pão que se partilha.

PUDESSEMOS NÓS TOMAR OUTRA VEZ AQUELE ELÉCTRICO
DE MÃOS DADAS E A SONHAR A VIDA
A VIDA TODA

PUDESSEMOS NÓS UMA SÓ VEZ TOMAR AQUELE ELÉCTRICO
E OS NOSSOS OLHOS VISSEM DE NOVO OS ROSTOS DE PESSOAS CUJAS MÃOS PUDESSEMOS TOCAR
ACARICIAR
BEIJAR

E NÃO SEMPRE ESTA AUSÊNCIA
DAS PALAVRAS QUE NÃO VOLTÁMOS A DIZER
DAS PALAVRAS QUE NÃO PODEMOS MAIS DIZER.

Wednesday, August 30, 2006

EXPERIMENTAMOS TALVEZ A ETERNIDADE

Quero tanto agradecer os comentários de parabéns pelo André, mas não consigo publicar nada nem no «Sopro do Coração» e nem no «Diário da Teresa». Tão simpáticas a felicitarem-me pelo rapaz.
Talvez amanhã ou depois, quando voltar por aqui...

Deixo uma pergunta do Eduardo Sá, que li um destes dias numa crónica (na revista fantástica da Laurinda Alves).
A pergunta é «Quanto vale uma vida?»
Pensando nas vidas da Maria e do André, sei que uma vida vale tudo, mesmo tudo.
Nelas experimentamos talvez a eternidade.
Por elas, vamos também aprendendo que em todas as vidas podemos experimentar a eternidade.

ANDRÉ SEMPRE «COM TODOS OS MENINOS»

Não , ainda não sei pôr fotografias....
Hoje, que fazes tinta e nove anos encontro vários albuns e percorro lembranças.
E quero deixar essa fantástica dos teus cinco anos.
Em Tibaldinho, para a tua festa quiseste chamar todos os meninos.
Estendeu-se no quintal uma mesa enorme, de tábuas .
Muitos dos crescidos vieram também trazer alguma coisa «para a festa do Andrezinho»
Talvez seja «isto» o que para mim te diz melhor.
Esta palavra «todos», com que vives.
E sempre essa alegria.
Mesmo quando dói.
Parabéns, André.
E viva a tua vida. Toda.

Tuesday, August 29, 2006

CÂNTICO DE VÉSPERAS

Foi assim há trinta e nove anos.
A alegria da véspera.
A mala feita há muito tempo com roupinhas de príncipe.
Ao fim da tarde chega o Manel «O que é que ainda estás aí a fazer?»
E eu na secretária, serena talvez, a listar os números do telefone para quem ele devia telefonar quando ele/ela nascesse (não havia ecografias, claro).
A Maria na avó Céu a passear com o tio João.
A minha mãe a postos. Sempre.

Lá fomos nós ao fim do dia. De táxi até ao largo de S. Cristóvão. A atravessar as ruas da Baixa. Outro olhar.
Entre a alegria e o receio.

Sunday, August 27, 2006

NOVIDADE

Antes que venha o calor, vou andar pelas ruas do meu bairro.
Vou cruzar-me com rostos, com palavras, com silêncios.
Vidas.
Quero ir agora pela fresca.
E deixar-me surpreender e deixar-me tocar pela novidade de todos os encontros.

Saturday, August 26, 2006

PALAVRA CERTA?

Não me é fácil dizer a palavra certa.
Nesse dia de Julho aconteceu...
Hoje a Catarina telefonou «É para lhe dizer que segui o seu conselho. Deixei o Sebastião com as avós, com as fraldas e as noites e fui mesmo com o X, fomos sozinhos quinze dias. Fez-nos mesmo bem! Chegámos e vamos a caminho do Algarve para o ir buscar.»
A Catarina tinha-me perguntado se eu achava que ia ser uma má mãe se deixasse o cachopo com as avós e fosse mesmo de férias com o X.
Respondi/lhe que lhe dava n\ao dava um conselho. E, entre sorrisos das duas, que era mesmo uma ordem.

Obrigada pelo telefonema.
As vezes, acontece que digo a palavra certa.
Que bom Catarina. As vezes acontece...

Sunday, August 20, 2006

ARY DOS SANTOS

Por causa das palavras, ouso transcrever José Carlos Ary dos Santos, grande poeta ainda por achar ( coisa tão lastimável e urgente ).
A seguir, vou também eu andar pela cidade, pelo Jardim da Estrela, ao encontro destas e de outras palavras. Ao encontro de Ary, hoje.
E até passo em frente de uma das agências de publicidade onde ele trabalhou palavras.

«A CIDADE»

A cidade é um chão de palavras pisadas

A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo.
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.

A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear.
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra.
A palavra silêncio é uma rosa chá.
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

Thursday, August 17, 2006

MEMÓRIA, LAÇOS E MALHAS ...

Tenho imensa memória (é verdade que nem sempre é bom).
Lembro-me de palavras. De lugares. De números e de datas. De muitos pormenores.
Às vezes incomodo.
Mas ontem a memória foi boa.
Dia 16 de Agosto. Lembrei-me que a Quiqui, a filha mais velha da minha prima que morreu há menos de dois meses, fazia anos.
Lembrei-me que o seu nascimento foi uma grande alegria, porque ela foi o primeiro bebé daquela geração. E também porque nasceu no dia em que a sua bisavó, a corajosíssima mãe do meu pai e dos meus tios, tinha morrido.
Esta coincidência foi entendida como «uma coisa muito boa».
Uma alegria a dizer a vida num dia marcado por um acontecimento triste.
Telefonei à Quiqui (nunca o fizera).
Depois dos parabéns, contei-lhe esta lembrança.
Percebi que a Quiqui gostou mesmo.
E confessou, como se agradecesse «Nunca ninguém me tinha dito isso»
Prometi encontrar-me com ela. Para lhe contar outras histórias.
Para mim, foi bom contar.
Para a Quiqui, foi bom ficar a saber. Ligar a vida.

Toda a gente sabe que gosto de fazer malha. Não sei se há alguma coisa de mais parecido com um fio que se tece do que as palavras que se ligam. E nos ligam.

ESCAPADELA...

Só há uma ligação à Net cá em casa, nestes últimos dias inteiramente ocupada pelo Manel.
Agora, manhã cedo, resolvi vir.
Esta janela é já parte da minha vida e, apesar da pressa, dá pelo menos para agradecer ( e muito) os parabéns e a ternura que por aqui encontrei. «É que há coisas mesmo fantásticas, não há?»
Há mesmo.
A ver se encontro mais uns espaçozitos para vos visitar.
Até lá....

Tuesday, August 08, 2006

AGRADECER

É que hoje faço anos. Sessenta e seis.
No meio de cabeleireiro, telefonemas, um bolito para fazer, dou este saltinho à Leitaria.
Para vos deixar este segredo, que nunca foi segredo ( no meu bairro quase toda a gente sabe que faço anos).
Sessenta e seis.
E que estou contente.
Que dou graças a Deus por tudo.
E que agradeço a todos.
Passando pela minha vida, cada um me vai segredando, a seu jeito, os passos que hei-de dar.
Bem haja a todos.
E lá vou fazer o bolito e dar um jeito à sala....

Monday, July 31, 2006

AO MEU IRMÃO ÁRABE, O QUE HABITA A TERRA

Meu irmão colérico que se revolta,
meu orgulhoso irmão cheio de ofensas,
meu irmão emboscado entre as minhas debilidades
e o que se ri do meu cansaço,
o que se alegra com a minha desgraça
e espera sem descanso a minha queda...

...Meu irmão que me atira pedras
querendo esmagar a minha têmpora,
o que se alegra
mostrando as costas aos seus perseguidores,
que desperta cada manhã com uma esperança nova
e cada noite sobe ao leito
com o coração perplexo e quebrantado...

... Meu irmão entusiasta no seu sofrer,
que morde com apetite as suas próprias carnes,
que se rebola em penúrias
e deseja a piedade do céu e o fim de toda a maravilha,
e mesmo assim não acha soluções.

Meu irmão e meu opositor,
meu irmão "homem do meu anátema",
meu irmão de pátria e do fluir do sangue,
irmão da penúria e da morte, mas, ao fim e ao cabo,
irmão de um futuro que ninguém imagina!...

Meu irmão que levanta o seu olhar para as montanhas
interrogando de onde virá a sua salvação...
Tu bem o sabes, no interior do coração,
mesmo que os teus lábios jamais o confessem,
que não possuis outra ajuda a não ser eu.
Eu, teu irmão e teu anátema.

Só tu sabes que eu não estou entre os que pregam
nas tribunas das tuas cidades e aldeias,
nem nos países que os teus irmãos habitam além fronteiras,
que eu não estou entre os que intrigam
e ambicionam as tuas riquezas,
nas grandes capitais e em luxuosos escritórios,
nas cortes dos poderosos, reis e governantes;
que não estou entre os eruditos do livro
e os que abrem a boca só diante de altifalantes,
os que pregam teorias
a partir das cátedras em faculdades distantes
e em meios de comunicação
próximos, aqui na nossa terra
e nos países que estão para além do mar...

Quem como tu sabe,
em certos momentos de verdade e de dúvida,
cada dia mais frequentes,
quando chegas à mais íntima das tuas moradas interiores,
que a tua redenção não virá dos que vociferam nas ruas de Teerão,
nem dos que sugam o petróleo dos poços do Kuwait e Barhein,
nem dos cambistas de G'eda e Abu Daby...;
nem da águia que é bandeira e insígnia
nas margens doPotomac,
nem do grande urso que habita nas estepes da Rússia...
E se ainda não dispuseste o coração para o revelares aos teus lábios,
dir‑to‑ei eu na cara, mesmo que tapes os ouvidos:
Só em Israel está a tua salvação e nele está a tua esperança!

Porque, apesar da mão que pega na funda,
e da mão prolongada na tocha incendiária,
e da mão que agita o garrote,
só num pacto de irmãos comigo verás a esperança,
só no caminho que percorreres comigo, ombro a ombro,
conheceremos ambos bonança e glória.

E se te atrevesses a levantar o olhar e a dirigi-lo para mais longe,
se te atrevesses a aspirar até ao insondável,
para além do vale das amarguras,
aqui, onde nos dedicamos a lavrar sobre as costas do outro,
poderias comprovar que só juntos estamos condenados
à grandeza nesta terra comum que nos tocou.

Esta é uma determinação do destino,
como a de elevar os nossos montes
por cima de todos os montes,
para que o nosso país seja governante entre países,
grande entre as nações, crisol de raças,
construído tijolo a tijolo,
orgulho dos filhos e glória dos pais,
torre-fortaleza para os vizinhos
e farol de luz para os que estão longe...

E saberás que só na unidade haverá esperança para nós
e na fraternidade encontrarás a felicidade.

E saberás que não podes fugir de mim, nem eu de ti.
E saberás que a terra é uma só e sem ela nada haverá para nós,
nem para mim nem para ti;
e se muitos são os caminhos que nos obrigam a descer muito abaixo,
só um é o caminho que nos pode levar até ao cimo;
ainda que se multipliquem os inimigos e provocadores,
os emboscados que desejam o nosso mal,
ainda que o caminho seja pavimentado
com os nossos próprios cadáveres,
um só é o nosso credo: o de subir juntos, por ele,
erguendo bem alto uma bandeira comum!

Portanto não desesperes, tu, que és prisioneiro da esperança,
porque ainda falta o nosso sol nascer:
o mesmo sol para ti e para mim,
o mesmo sol que nos aquece!

(in ARÓN AMIR; 'Ereribah, Tel Aviv, 1988)

Saturday, July 29, 2006

DIÁRIOS DA BÓSNIA

É imperdível.
Urgente ver este filme.
Nele, todas as dores.
Vistas, guardadas em imagens. Por dentro.

DETESTO ARRUMAÇÕES

Detesto arrumações.
E nunca mudei de casa, imaginem.
Roupa, vai depressa embora, à excepção do casaco de pele da minha mãe. Que não uso. Não quero para nada. E lhe ficava tão bem. E que não diz comigo…
Mas as fotografias.
As cartas de namoro.
Os postais, que acho «tão giros». Que volto a ler todos os anos.
E os livros.
O primeiro livro de poemas que o Manuel me deu «Toi et Moi».
E a biblioteca que o Manuel herdou do tio Luís. E os livros do tio João embaixador. E os que encontrámos no chão nas quintas abandonadas em Tibaldinho…
E uma quantidade de malhas e de rendas que começo e quase nunca acabo.

Neste mês de arrumar, vivo quase sufocada.
Ao mesmo tempo, é mesmo tudo tão giro.
Nesta balbúrdia não faço nada.
Nas minhas mãos, todos os anos, se dedilha a vida.
Devagar pego em cada peça. Miro-a e remiro-a.
E torna-se sagrada.
Cada ano.

Wednesday, July 26, 2006

AVÓS

Para a «leitaria», o texto da oração que escrevi para hoje, dia dos avós e que foi emitido na RR.
Não que eu goste muito de dias.
Mas acredito ou tenho esperança que os afectos hão-de mudar esta violência toda. Hão-de mesmo.

«Por causa dos gestos de ternura
E do tempo sem medida,

Porque são companheiros do sonho
E se esmeram a fazer-lhes coroas de reis e espadas de papel,

Porque eles sabem tudo
E dizem as memórias de ontem e de hoje
Com histórias vagarosas,

Porque os conduzem à raiz da alegria
E gostariam de sempre os proteger,

Porque os vejo pelas ruas, guiando-lhes os passos,
E nos jardins se reencontram com todas as infâncias,

Estende, Senhor, sobre os avós, a Tua infinita misericórdia.
Lembra-lhes que deles é também o Teu reino
Porque é a Ti que acolhem
Quando, sem condições, estendem os braços aos netos,
A todos os meninos.»

Sunday, July 23, 2006

PELA PAZ

Proposto por Bento XVI, tão ao encontro dos mais profundos desejos de toda a humanidade, este dia de 23 de Julho como dia de oração e penitência pela paz

Friday, July 21, 2006

DEIXAR-ME SURPREENDER

Um desencontro incómodo. Um género de vida que parece não me ir bem.
Depois da tal reforma…

E acreditar que hei-de dar tantas voltas até que aceite um tempo outro e de novo me encontre.
Redescobrir-me ao virar duma esquina.
Nesse estilo que tem sido sempre o meu.
De agradecer. Por tudo e por todos. Às vezes, mais parece uma ideia fixa ou uma teimosia. Mas é o meu respirar. A forma de viver.
E caminhar sempre. Pelas ruas. Pela vida.
E deixar-me cada dia surpreender.

PALAVRAS DE ALEGRIA

Para te dizer obrigada, Victor de Melo Barreto.
Meu único primo.
Porque fizeste aquela festa de anos.
E é muito bom festejar a vida. Assim.
A vida. Sempre.

Thursday, July 13, 2006

PERMITIR PORQUÊ?

Foi hoje na loja de um oculista em Campo de Ourique.
Tenho a certeza que o dono da mesma me conhece há muito tempo.
Eu, assustada com esta tensão ocular que tem estado alta, passei por lá. «Que talvez fosse melhor medi-la.» (tinha visto um anúncio e um preçário para este serviço)
Expliquei que estava a pôr uns pingos.
«Olhe que não é preciso, se está a pôr esses pingos fique sossegada.»
Não lhe paguei assim uns tantos euros. E fiquei calma.

Esta honestidade é uma atitude tão oposta à dos anúncios que nos entram pela casa dentro, sem licença e que nos corrompem e nos aprisionam, «É só telefonar. Crédito imediato. De … a não sei quantos mil euros.»
No mínimo desonesto e imoral.
Porque é que havemos de permitir?
Porquê?

PROFESSORA COMPANHEIRA

A Maria Helena faz hoje anos.
Colega fantástica. Na escola. Na vida.
Professora de Religião e Moral. Professora de tudo, pois então.
O dia inteiro na escola. Sem horário obrigatório. A saber que era preciso estar lá para ajudar todos os rapazes, todas as raparigas e todos os problemas.
Hoje falou-nos de um aluno, filho de mãe prostituta que, ferido com a agressão de um colega, lhe dissera «Eu sei que sou, mas que ninguém chame nomes à minha mãe».
Foi «do lado do rapaz» que a Maria Helena falou.
Professora. Companheira.
Vida a cruzar as nossas vidas.
E ao fim deste teu dia de anos, gratidão.

Saturday, July 08, 2006

COPCON

O COPCON vai reunir-se amanhã, dia 9 de Julho, em assembleia magna.
O COPCON é uma Comunidade Organizada Para Comunicar Optimismo Natural.
Os membros do Copcon são solidários.
São alegres.
São activos.
Reúnem-se sempre à volta de uma mesa para comer e beber. É aí que falam de tudo, confrontam as suas ideias (geralmente diferentes e muito variadas); fazem-no de forma frontal;
muitas vezes discutem;
quase sempre riem muito.
O Copcon gosta de deixar tudo e todos «de pernas para o ar».

São todos «corredores», isto é, ou se põem a caminho para ir ter com o outro, ou vencem as inércias e telefonam, mandam e-mails e SMS e até escrevem postais.

O membros do Copcon tecem entre si toda a espécie de laços.
Gostam e praticam todas as formas de comunicar.
E, quando um deles se separa para sempre (essa «coisa» que se diz natural e que se chama «morte»), os membros do Copcon acreditam que hão-de voltar a reunir-se em qualquer sítio à volta de uma mesa para comer e beber, falar alto, discutir, rir, sentir e dizer todos os afectos.

Os membros do Copcon reúnem-se amanhã em alegre assembleia magna.

Fica muito por dizer, mas ouso deixar na «leitaria» este «cheirinho». O resto há-de ser escrito. Revelado. Talvez até haja uma fotografia que eu consiga aqui pôr.

Wednesday, July 05, 2006

A CRISE

Pronto, fomos agora eliminados das meias finais… mas com bom resultado. Viva a alegria!
Hoje, pensei na crise económica… que até vou aceitando, mas dei comigo a fazer «história».
É assim:
quando nos casámos tínhamos mesmo pouco dinheiro. Fazíamos malabarismos, mas não perdíamos um bom filme nem teatro.
Às vezes, optámos por escolhas «esquisitas». Quando do 25 de Abril, «por solidariedade» e por sonho, vendemos o carro. «Que não precisávamos. Que havia outras pessoas … »
O que me custa um bocado na crise actual é que com quase sessenta e seis anos (o Manel ainda um bocadito mais), temos que contar as despesas diárias como no princípio. Às vezes, até acho gira esta espécie de luta. «A ver se saio vencedora». Mas não deixa de ser «luta».
Pronto, temos estado cá sempre para isto.
Só que há tanta, tanta gente que nem consegue já lutar.

Friday, June 30, 2006

Ensaios para o GINJAL de ANTON TCHEKOV

Fomos ontem à Cornucópia ver «ensaios para o Ginjal de Anton Tchekov»».
Bom demais! Gostámos muito. Muito.
«Colei-me» a tudo o que ouvi. E vi.

Por detrás, era Tibaldinho, na Beira Alta. A vida toda. Os pinhais que já não há (rentabilizados em casas de emigrantes, com muitos azulejos).
E eu ando sempre sem jeito, à procura dos caminhos.
De longe (vinha tão tarde para o almoço), bem longe e já via a casa. Parece que avistava a minha mãe à janela.
O meu pai e eu manhã cedo pelos pinhais. Ele tinha um pau de que não precisava (o meu pai morreu tão cedo, não era preciso o pau para nada) e um boné, a «fazer estilo».

Voltar a Tibaldinho é bom e dói. A casa ficou enorme.
Guarda muitos afectos. Vidas inteiras. Nas arcas, nas maceiras, por todo o lado.
Faço sempre muitas malhas quando lá estou. Nos fios eu vou tecendo tudo.
Misturando tudo.
Misturando todos.
E isso é bom.

OS BERLINDES

Nunca tinhas vindo a nossa casa.
Telefonaste «se podias vir, para ver o jogo. E eu «que sim e comer uma sopa.»
Avisei-te de que sou desarrumada. Mas o que te espantou foram os berlindes. Por todo o lado. Perguntaste porquê.
Contámos-te o segredo.
É um «segredo» que gostamos de contar.
Acho que é uma parábola.
Quando namorávamos (no tempo das fadas, …) dávamos um ao outro alguns presentes. E cada vez era mais complicado imaginar o quê, não repetir, surpreender …
Até que um dia o Manuel (super Manuel!) trouxe qualquer coisa na mão fechada e disse-me que abrisse os olhos. E eu, abri. Lá dentro, uma bola de vidro, transparente e muito colorida.
Temos vindo a oferecê-lo um ao outro a vida toda.
Com o sonho que contem. Com tudo o que nem conseguimos dizer.
A nossa casa está por isso cheiinha de berlindes.
Bolas de vidro. Transparentes. Coloridas.

Friday, June 16, 2006

O INFILTRADO

Fomos ver «O Infiltrado», que recomendo.
O gosto de um filme policial e o gosto de um filme que é muito mais.
Lá fomos os dois como sempre fizemos.
Revisitando tantas idas.
Revisitando a vida.
E a ternura. Em gestos renascida.

EM TEMPO DE FUTEBOL

Este texto, melhor, esta oração foi escrita por José de Mendonça e emitida na Radio Renascença na segunda-feira, 12.
Quando o ouvi, pensei logo publicá-lo aqui, para quem vier visitar este blog.
Diz assim:
«É bonito, Senhor, o espectáculo do futebol. Desfrutar o mágico momento em que a inteligência e o instinto dos atletas entram em jogo, lançando a bola para a frente, correndo, fintando os obstáculos, perdendo, recomeçando. É bonito, porque há uma alegria emocionada que se solta, quando os nossos olhos seguem aquele mapa inventivo feito de agilidade, de perícia, de força. Era preciso disputar assim a vida. Com a mesma entrega, o mesmo sentido de que tudo se decide nos pequenos passos, com aquele sorriso, conduzindo o tráfico de objectivos partilhados que rolam para uma festejada e inocente vitória. Era preciso, Senhor, disputarmos assim a vida!

JOSÉ DE MENDONÇA

Monday, June 12, 2006

AS MARCHAS E SAUDADES

O manjerico na varanda da frente. Regadinho. E cheiroso.
E eu a ver as marchas. Na tal caixinha mágica da televisão. Com uma vontade de ir para a rua. E tão contente.
O que nos reúne em festa é mesmo bom.
Até o Manel (que sempre dansou bem, muito bem mesmo) ensaiou uns passinhos…

Tenho saudades de ti Mário, mas a festa que fazias, desse jeito tão especial, quase excêntrico, está connosco sempre.
A capela na rua de S. Mamede ao Caldas. Tu, um eremita na cidade, abrias nesta noite as portas de par em par. Entrava toda a gente. Uma festa!
Uma festa enorme, Mário.
Por aqui continuamos.

Sunday, June 11, 2006

FUTEBOL SEMPRE

Daqui, tudo igual há sessenta anos. Aquele som. As palavras rápidas. À velocidade das imagens. E o meu pai, cigarro atrás cigarro, e os ouvidos colados à telefonia enorme com naperon de renda por baixo. E outro por cima. E um cestinho das Caldas, fascinante de cor.
Hoje, do lado de lá desta parede, o Manel enfiado no maple. E a televisão . Caixa de imagens. De sons. E de emoções.
O Manel aos gritos «Golo!!!:::» E eu« que tu não podes. Não tens coração para isso.»
E ele «que sim, que podia, que eles gritam muito mais que eu.»
Nas ruas ninguém.
Mesmo ninguém.
Nas ruas, silêncio.
E a vida à volta desta super caixa mágica.
A fingir que não é nada comigo vou fazer o jantar.
E ligo a televisão da cozinha.
E ligo a vida toda. Toda.
E ligo toda esta gente da minha vida. Toda.
O meu pai. O Manel. O André em S. Martinho. Certamente, também o João Maria. E os meus netos em Évora.
E amigos. Tantos.
Ligo-os todos. E quero fingir que não é nada comigo.

Saturday, June 10, 2006

MANJERICO

«A Maria de Lourdes está ali à esquina à tua espera»
E eu a interrogar. «Quem?»
«Sim, a Maria de Lourdes. Para te dar um manjerico.»
Percebi, finalmente.
A senhora que em quinta-feira de espiga, transporta na carrinha os ramos que fez na véspera. Vem de longe. Até Campo de Ourique. Onde viveu. Onde trabalhou e foi criando afectos.
À esquina, outra vez aquele abraço enorme.
«Um para a setora e um para os meninos.»
Os meninos são os nossos filhos.
«Gostava mesmo era de ver a Mariazinha e o Andrézinho.»
Lá lhe falo deles. Mostro-lhe os retratos dos rapazes todos.
«Ah setora».
E aquele abraço enorme diz a vida toda.
Aquele abraço enorme diz uma certa eternidade.
Para o ano, Maria de Lourdes, se Deus quiser...

Friday, June 09, 2006

GOSTO DA MINISTRA DA EDUCAÇÃO

Depois do fantástico fim de semana com os Marias (João e Manuel), estes dias todos sumiram-se, sumiram-se mesmo a ir a médicos vários para revisões várias. Tudo bem, graças a Deus.
Cheguei cansada a sexta-feira à noite.
Não pensava vir ao blog.
Mas vim.
Estive a assistir ao debate entre a ministra da educação e o Paulo Sussena.
Julgo que vou mais uma vez, como tantas outras na vida, mesmo tantas, «remar contra a maré».
Para dizer claramente que gosto muito desta ministra.

Sunday, May 28, 2006

«LISBOETAS»

Fomos ver o filme «Lisboetas».
É preciso vê-lo e revê-lo.
Para lembrar a dor.
Tentar sentir o que sentem os que de outros países vêm viver em Portugal.
Só tentar. É que é mau demais.
Lembrei-me muitas vezes de Fernão Lopes.
Lisboa, «cidade de muitas e desvairadas gentes».
E do filme não vou esquecer, não quero esquecer sobretudo as imagens dos imigrantes agarrados aos telemóveis. Para tornar a distância menos amarga. E a solidão menos solidão.
Telemóveis...

Friday, May 26, 2006

QUINTA FEIRA DE ESPIGA

Lá estava ontem a Maria de Lourdes.
Com imensos ramos de espiga.
Já não mora em Campo de Ourique há muito tempo, mas neste dia carrega o carro dos molhos que preparou de véspera e carrega os afectos, as memórias, as saudades.
Lá vem ela.
E então, acontecem todos os reencontros.
Uns cabelos brancos parecem querer dizer «que há muito tempo»…
Mas não dizem, que a gente não deixa.
Este dia, àquela esquina, é só a festa. E sorrisos. E palavras. Abraços enormes.
Caímos nos braços uma da outra e o ramo para a nossa família é oferecido. Os outros compro, para também ter eu a alegria de os dar. Entro por aí, por alguns cafés, por algumas casas, ramo escondido e subitamente estendido. A dizer «É para si. Quinta-feira de espiga.»
Nesse momento fantástico sei que a minha cara, me revela. Inteira.
Respiro, feliz.
Existo.

Como não sei pôr fotografias, é para todos vós também um ramo destes. Uma papoila. Folhas de oliveira e de trigo. E umas florzinhas amarelas, pequeninas.
Para guardar até para o ano., OK?

Thursday, May 25, 2006

TODAS AS NOITES, FRANCISCO

Pronto, mais uma vez me emocionei. Inesperadamente.
Sem negar os afectos, que são muitos e fundos, julguei que um certo racionalismo tem andado por aí, a pautar de certo modo a minha vida.
E… lá me vi mais uma vez surpreendida.
Fui, fomos a Évora, a família toda. À primeira comunhão do meu neto Francisco.
O Francisco compenetrado.
E no fim, tão agradecido.
«Avó, obrigado. E agradeça a todos que me mandaram parabéns.
Não se esqueça, avó.
E olhe para a libelinha. Não se esqueça.»

A libelinha de plástico pôs-ma o Francisco na mesa-de-cabeceira, um dia antes de voltar para Évora. Há muito tempo. Para eu me lembrar dele.
Todas as noites a vejo, Francisco.
Todas as noites.

Thursday, May 18, 2006

BOA TARDE, SENHOR COSTA

Não perca esse bom hábito, senhor Costa, de estar aí à porta da sua casa.
Todas as tardes.
Peço-lhe, por favor, que não perca esse hábito.
Quando a sua mulher morreu, deixou de ter aquela companhia, que já era difícil, mas que era companhia.
Passou então a estar mais tempo à porta.
Vai falando assim com todos nós.
E cada um de nós, pode também falar consigo.
O senhor faz-nos falta, senhor Costa.

Até já dei comigo a ver a roupa que usa. Um dia o pull over estava menos limpo e eu a pensar que não podia ser, que tínhamos que lhe dar «uma forcinha» para que se cuidasse
No dia seguinte, o senhor já estava bem, com aquele fato azul, gravata e tudo.
Boa, senhor Costa! Boa, mesmo!
«Olá, senhor Costa. Como vai?»
«Vamos andando. Que remédio.»
«Enquanto vamos andando, é mesmo bom»
«É verdade, é verdade»

Esteja por aí todas as tardes, senhor Costa.
Faz-nos falta.
Falamos.
Existimos.
Neste bairro, ainda somos gente.

Sunday, May 07, 2006

OS NOMES DOS DIAS

Afinal, gosto « dos dias ».
Às vezes, raras vezes, disse que não valia a pena.
Mentira.
Gosto mesmo.
Hoje, dia da mãe.
Sempre isto.
Uma balbúrdia.
A loiça toda cá fora . A loiça a respirar enfim nas nossas mãos. A contar todas as histórias. A contar a vida.
A dizer a presença dos que já não estão connosco. A dizer deste jeito a eternidade.
A loiça toda a acolher os mais pequenos, tão novatos nestas coisas. E tão giros!
Gosto tanto dos dias.
A casa torna-se um espaço enorme.
A casa é uma mesa grande, que desde sempre teve um prato a mais. «Sabe-se lá quem vem... às vezes, pode ser.»
A casa é o quintal.
A casa de repente é só o maple do avô.
A casa...

Tuesday, May 02, 2006

PARA DIZER O MEDO

Não gostei, mas fui. Operação às varizes.
O corredor.
E a maca.
Muitas horas.
E medo.
Racionalmente sem razão.
Sessenta e cinco anos aproximam-me cada vez mais do medo.
Cada vez mais da morte.
E eu ali no corredor.

Durante aquelas horas todas, pensei muito no Manuel cá em baixo.
Fui pedindo que lhe dessem recados.
Estendia assim a mão.
Procurei mostrar-me forte.
Rezei. Quis rezar o terço, mas confundi-me entre um Pai-Nosso e as Ave- Marias todas seguidas, que não conseguia contar.
Agarrei-me todo o tempo a uns lenços de papel.
Serenidade…

Agora, de volta, este medo ainda me possui. Tenho pesadelos.
Tento alguns passos na rua, mas ainda lhe não pertenço.
Entro num café do meu bairro, eu e um livro. Geralmente Lobo Antunes, tão perto do que sinto.

Talvez amanhã, a rua esteja mais firme.
E os rostos tenham nomes.
Outra vez.

Monday, May 01, 2006

INDIGNADA

Ainda à espera das palavras sobre a tal operação às varizes, que ainda não são para hoje, quero dizer a indignação que me está a causar a estratégia do ex-ministro Bagão Félix no programa Prós e Contras.

Friday, April 28, 2006

DE VOLTA

De volta!
Que alívio!
Bem hajam pelas visitas e pelos comentários.
Tudo correu bem, graças a Deus.
As pernas andam mesmo.
Com umas meias elásticas giríssimas.
Dignas do José Castelo Branco.
É melhor, voltar a escrever amanhã.
Para não desatinar e descansar as tais pernas operadas.

Wednesday, April 26, 2006

RENDI-ME

Pronto, eu que não sou de «rendições», lá aceitei esta.
«Não é um caso de vida ou de morte», disse-me o médico «mas não há outra coisa a fazer.»
Com um bocadito de medo. Só um bocadinho. Mas rendi-me.
Lá vou eu ser operada às varizes. É que pesam e doem. No Verão , ... custa mesmo.

E lá para sexta ou sábado cá estarei a dar notícias.
E desejosa mesmo.

Tuesday, April 25, 2006

MANHÃ

O telefone tocou muito cedo. E uma voz « que era melhor as crianças não irem à escola. Parece que havia uma revolução.»

Tento acordar o Manel «Liga o teu radio-despertador (ainda é o mesmo…). Há uma revolução.»
Nada acorda o Manelinho. «Não há nada. Deixa-me.»
Ao fim de muitas palavras, lá consegui.
A seguir, os dois na sala.
Televisão ligada.
E dois rádios portáteis.
Pelas oito horas, dois pijaminhas ensonados «Hoje não vamos à escola?»

Depois, foi todo o dia a tentar explicar, a tentar perceber.

E às duas da tarde, apesar da idade e das recomendações para que ninguém saísse, chega feliz o meu sogro, a pé desde a Estrela, «Manuel ,nunca pensei chegar a ver isto»
Gosto de chamar-lhe «pai».

Agora, vou já pelo meu bairro. E compro cravos. Vermelhos.

Monday, April 24, 2006

VINTE E QUATRO DE ABRIL DE 74

Lembras-te, Manuel?
E tu, Maria lembras-te?
E tu, André?

Tinhas ido a um jantar no Casino Estoril, qualquer coisa da Tofa…
Não esperei por ti. Deitei-me e adormeci.
Chegaste muito tarde. Pela madrugada.
Ouvi vagamente dizeres que no regresso tinhas visto uma coluna de blindados a subir a auto-estrada.
Continuei a dormir.

Nessa altura tudo era suspeito e nada era suspeito.
Geralmente ficava sempre tudo na mesma.
Na mesma.

Thursday, April 20, 2006

VÁ LÁ ...

Gosto de me lembrar.
Hoje o pai do Manuel faria anos.
Na minha desarrumação, encontrei as fotografias dos cinquenta anos de casados dos meus sogros. Surpreendentemente, o Manuel disse-me que não queria ver, que lhe fazia impressão.
Não é o teu género, Manuel.
O que é que não queres ver?

Vá lá, dá-me lá essa tua/nossa mão.
Deixa que aí vá passando a vida toda.
Com as lembranças.
E também com os sonhos.
E que tudo renasça.

Vá lá, podes talvez ver as fotografias desse dia
E ver a vida toda, toda.

Sunday, April 16, 2006

ALEGRIA

Recebi mesmo agora um telefonema.
Do lado de lá «Para vos agradecer o que me têm ajudado.»
E eu, espantada
Quem é que ajuda quem, quando nos sentamos por aí, à volta de uma mesa qualquer, só para dizer a vida?
e às vezes, tantas vezes, a vida é menos fácil?
Quem é que ajuda quem?

DIZER A ALEGRIA

Enviámos assim estas palavras, por SMS

«Também na Páscoa gostamos de dizer alegria e amizade.«

E ficam também aqui para todos os que visitam este blog.
Com uma recomendação sobretudo para mim,
Procurar com os ouvidos atentos e os olhos bem abertos as razões de alegria.
De forma muito simples.
Nas ruas do meu bairro, ... por aí.
Por aí.

Saturday, April 15, 2006

GOSTO DA PÁSCOA

Gosto da Páscoa.
Muito.
Gosto deste dia, sábado, deste silêncio que às vezes pesa.
Gosto deste tempo de esperar,
de ver enfim que o grãozinho semeado já germina.
E ainda que não entenda, gosto de dizer e voltar dizer que morrendo se nasce.
À meia noite acendemos uma vela nova.
Rezamos a oração da mãe judia. «Abençoado sejais, Senhor nosso Deus, que nos conservaste a vida até ao dia de hoje.»
Amanhã vamos comer cabrito a S. Martinho, a casa do António Pedro.
Gosto da Páscoa.

Thursday, April 06, 2006

MÃE

Para lhe dizer, mãe, que hoje vi outra vez a sua letra.
Numa receita de pudim flan para eu fazer ao Manel. (lembra-se aquele segredo que só me deu a mim «depois pões uma colher de café de maizena, um quase nada, para que não se desmanche tudo»).
Guardo aquele papelinho. E o segredo.
Guardo.
É pena mesmo que a gente só diz a ternura assim, tanto tempo depois.
Mas é bom encontrá-la.
E é bom dizê-la.
Ainda que nos pareça tão tarde. Ou mesmo inútil.
Mas não é.
A vida torna-se enfim serena.
E ficamos bem mais perto do que é esssencial. A ternura.

Wednesday, April 05, 2006

ANTÓNIO LOBO ANTUNES/ANA SOUSA DIAS

Ontem, vi a entrevista de Ana Sousa Dias a António Lobo Antunes.
Mas não quero chamar-lhe «entrevista».
Não quero dar nenhum nome.
Foi, é, qualquer coisa de tão grande e de tão dentro.
Quero agradecer.
Às vezes, também nos entram pela televisão momentos destes.

«-Só mais um minuto, senhor carrasco.» ( de Maria Antonieta).
Só mais um minuto...
Só mais um minuto...

VICTOR MELO BARRETO, PRIMO-IRMÃO

Telefonaste «É o teu primo.»
E a gente a só se ver nos enterros e nos casamentos.
Tentei outro nome de um primo do Manuel.
E tu «Tens outro primo sem ser eu?»
Lá vieste direitinho à memória e ao coração
O querido sobrinho do meu pai.
O «careca» do hóquei no CACO.
O companheiro de todas as caminhadas. Das mais difíceis e das outras. De todas.
Que vais fazer quase setenta anos.E queres festejar. Com amigos. Com a família pequena que temos.
Agendado Víctor. Contentíssima.
Festejar a vida.
Enquanto estamos vivos.
Sempre ao teu lado, sempre.
Lembras-te , na morte do teu pai? Na morte dos meus pais?
E depois a festa dos meus sessenta anos?
E este«feitiozinho Melo Barreto», que temos os dois... chato para nós, chato para os outros. Defeito de fabrico, reconhecido humildemente.
Lá estarei.
Vou levar aquele horrível bibe de folhos que a minha mãe me punha. Com o bolso cheio de rebuçados de mentol.
Emprestas-me as tuas botas patins. Não caio. Não caio mesmo.
Lá estarei, Víctor Melo Barreto.
Querido. Único primo.
Irmão.

Sunday, April 02, 2006

O QUE NASCE CADA DIA

Hoje o Manuel pôs um grão pequenino num frasco de vidro transparente.
Voltou a fazer um gesto da infância.
Um gesto curioso e confiante.

Agora é preciso espreitar
com muita atenção
o que vai acontecendo
cada dia.

E fazê-lo a vida toda.

TEACHER=SIMPLE PAST

Gosto tanto do nome deste blog!

Mas não é «simple», pois não?

E se a gente quisesse mesmo aprender de novo,
fazer deste «past» um «agora», que apenas é diferente.
Se a gente aprendesse o gosto desta diferença...
Daqui mando uma forcinha. Entusiasmada. Companheira.
De linha paralela.

JARDIM DA ESTRELA

Costumao andar por aí, a ver se emagreço os tais duzentos quilos que tenho a mais (hipérbole, OK?)
Ontem o Manel surprendeu-me.
«Vou contigo».
«Aonde?»
«Olha, até ao Jardim da Estrela.»
«Boa!»
Lá fomos.
Bem contentes.
Encontrámos o pe Ismael (um rapaz super simpático, mais novo que os meus filhos) a fazer exercício,
a incentivarmos,
a dizer até que eu já tinha emagrecido.
E eu e o Manel a percorrer os caminhos onde namorámos. Tanto! Às escondidas. Nessa altura, claro
Bem bom.
A ver se repetimos.
Gostámos tanto!

Friday, March 31, 2006

ANJO DA GUARDA

Anjo da Guarda da Inês
fica bem perto dela.
Sustem-lhe a mão tão pequenina ainda.
Anjo da Guarda da Inês...
Sua companhia.

Friday, March 24, 2006

1962 SEMPRE

Na cidade universitária acreditámos que podíamos mudar o mundo.
Experimentámos a alegria de sermos muitos. De estarmos juntos.
Experimentámos o sabor da rebeldia.
E muita esperança.
Nalguma coisa, nós mudámos o mundo.
E mudámos mesmo a nossa vida toda.
É que mudámos mesmo.

Wednesday, March 22, 2006

ONDE AS PALAVRAS QUE NOS DIZEM?

Espreito o blog do André. Nada, desde o dia do pai.
No meu blog, também nada desde o dia 16.

Vá lá, a ver se voltamos rápido.
Qualquer palavra que nos diga.

Thursday, March 16, 2006

CEREJAS

A tia Ester tinha uma casa onde tudo era intocável.
A gente ia ao domingo visitar. As crianças ficavam sentadas nas cadeiras da casa de jantar.
Quietinhas.
No aparador em frente, uma boneca de loiça com chapéu... E numa mão, umas cerejas penduradas. A outra mão, estendida para as cerejas.
E os olhos, de loiça, cubiçosos.
Eu na cadeira, fascinada pelas cerejas. E quieta.
Naquela casa, nunca me ofereceram nada para comer.
Que diferença da travessa enorme de todas as casas de Tibaldinho. Uma só para toda a gente. E as colheres que fossem precisas.
«A menina coma aqui um bocadinho de feijão com arroz.»
Um saborzinho.... para a vida toda. Toda.

Tuesday, March 14, 2006

JOÃO MARIA

Que lista de matéria para a prova de Língua Portuguesa do João Maria.
Boa!
Cresces, rapaz. E ao que parece, bem. Muito bem mesmo.
Vais ser um heroi em Língua Portuguesa.
Avó professora.
Babada a mais não poder...

MADALENA

A Madalena tem quatro meses.
Já nasceu no prédio onde moramos.
No andar mesmo por cima.
Hoje, de manhã, descia as escadas com a mãe.
Não resisti a abrir a porta numa espreitadela.
A mãe, virando-se para a pequenita «Faça um sorriso para a avó vizinha».
Digo um grande «bem-haja»
E viva a Madalena!

Friday, March 10, 2006

REFORMA

Vejam lá se alguém acha normal que eu não esteja contente com a reforma?
Devo estar para aqui a fazer uma destas cenas... Miúda mimada, que sempre fui. Dantes, claro.
A ver se entendo que «reforma não é pecado» e que é bom não correr tanto de tarefa em tarefa.
Ainda que eu não arrume mesmo as gavetas!
Nem viaje coisa nenhuma (também a crise!...)
Nem leia mais.
Nem vá mais ao cinema.
Nem me sobre quase nenhum tempo.

Falta de organização... A ver...

Wednesday, March 08, 2006

8 de MARÇO

Quero que um dia não faça mais sentido
«este dia internacional da mulher».

E sejade todos a alegria de sermos companheiros!

Monday, February 20, 2006

ERA AMIGA DA MINHA MÃE

Ana, não sei encontrar o seu blog. Diga-me lá como é.
Foi tão bom ler o seu comentário a dizer da Maria de Lourdes «era amiga da minha mãe».
Os blogs são muito bons mesmo.
Dizem a vida.
Tecem laços.

CORPO DE BALEIA

Pronto, comecei a fazer uma dieta.
E todos os dias a minha ansiedade salta para a balança.
Isto depois de ter visto que já não cabia em nenhum espelho
E depois do Manel me ter dito que tinha casado com metade de mim (o que é verdade)
E depois de um dos meus filhos ter declarado «A minha mãe está uma sereia. Cara de mulher e corpo de baleia.», o que também é verdade.
E depois de até ter medo de cair da cama abaixo.
Cá estou eu.
Em dieta.

Thursday, February 16, 2006

UMA CHUVA MIUDINHA

O dia trouxe hoje uma chuva miudinha.
Quero para mim esta serenidade que me devolve prazeres simples. Ler o jornal em casa, coser talvez uns pontos nas meias do Manel, tomar um chá quentinho.
O dia com um ritmo ao meu jeito. Pareido ou igual aos dias na Beira, em Tibaldinho, onde as horas não trazem nenhuma obrigação.
Chuva bendita!

Tuesday, February 14, 2006

EM CAMPO DE OURIQUE MORREU A MARIA DE LOURDES

Toda a gente conhece a Maria de Lourdes.
Em Campo de Ourique, fez os véus de casamento de quase todas as noivas (fez o meu, claro).
E chapéus. Lindos. Sabia o que ficava melhor a cada uma.
Pela vida fora, foi uma presença indizível.
Sonhava a sopa ou o bolo de que cada um gostava mais.
E trazia-o a nossa casa, a qualquer hora.
Com uma coragem que não sei, enfrentou a morte da Carminho (a sua filha) há três anos.
Há dez meses que o marido está internado no hospital.
Ela, sempre sorriso, sempre palavras de ânimo para cada um.
Uma força.
Ontem, morreu brutalmente.
Uma embolia pulmonar.
Agora a vida continua.
Ela também nas nossas vidas.
Não há palavras para lhe agradecer.

Wednesday, February 08, 2006

Às vezes apetece não chegar a tocar o outro.
«Não tocar» mesmo nem a nós.
Apetece antes um«toque e foge».
Mas viver pede que a gente «toque» mesmo.

Com coragem.

Monday, February 06, 2006

GRIPE, ANGINAS E NOVAS COMPETÊNCIAS

Este silêncio todo tem sido gripe a atingir ora um ora outro.
No meio disto tudo, uma nota positiva:
O Manel fez uma sopa.
Boa mesmo.
Aos sessenta e oito anos!!!
Está de parabens.
E eu também.
Tenho a certeza que lhe vou passar alguns almoços e jantares.
Yes!!!

Sunday, January 29, 2006

REQUIEM

Levámos esta manhã o teu corpo a enterrar.
Dolorida obra de misericórdia!

No carro, olhei no telemóvel o teu número.
Gostamos de telemóveis.
Neste tempo que anunciou a tua morte, usámo-los muitas vezes.
Eles foram o meio quase certo de ouvir a tua voz.

Conversávamos
E ainda que soubéssemos tão bem o que queríamos dizer, escondíamos o medo e a dúvida em palavras banais.
E em risos.

Vi no telemóvel o teu número e não quis apagá-lo.
Que tolice irracional.
Agora não precisamos mais deste objecto.

É que estás sempre, sempre em linha.
E escutas.

Olha, envia-nos como puderes uma mensagem qualquer que nos garanta
que é mesmo verdade
a tua vida plena.

Faz-nos mais esse gesto de amor,
Como os outros muitos que tiveste.

Tuesday, January 24, 2006

DÚVIDA

«Das mãos dadas talvez o fogo nasça...»

TERNURA

Hoje,
dizer só a ternura.
Deixa que os meus braços te abracem.
Que sejam réstea de luz
que inscreve «sempre» em nós.
Eternidade.

Saturday, January 21, 2006

JOÃO GIL

Li mesmo agora o blog do João Gil.
Julgo identificar-me.
Alguém que me ensine.
Ensine mesmo.

VÉSPERA

E eu aqui a enpatar tudo, a ver se «amanhã» sai do calendário.
Eu aqui.

Thursday, January 19, 2006

F PESSOA

Às vezes, quando a vida não é lá muito fácil, vem-me com insistência o verso Pessoa, que quero para mim
«Aqui ao leme sou mais do que eu...»
Para me lembrar que é de pé que se vive, que se escolhe, que se enfrenta o dia.

Thursday, January 12, 2006

VOU AO CASAL VENTOSO

Hoje vou ao Casal Ventoso.
Só para me sentar por lá.
Só para estar.
Ouvir, quem sabe.
Surpreender-me.
A rua Maria Pia divide o nosso bairro. Espécie de porta de castelo ensombrado
E hei-de encontrar, adormecida princesa.
Talvez, adormecida a vida.
Adormecida, a esperança.
Lá vou eu.

Sunday, January 08, 2006

QUE BOM PARA O EGO

Ontem, à saída da missa, uma senhora muito nova veio ter comigo «se eu dava aulas na Bartolomeu de Gusmão?»
«Dei, reformei-me há pouco tempo» ( e aquele «nunca mais» a doer-me cá dentro).
«É que sou professora de alguns alunos seus. Falam muito de si. E com tanta amizade.»
E num sorriso cúmplice «Olhe, que nunca lhes fiz a vida fácil!»

Trocámos os telefones.
E um dia destes, num qualquer café de Campo de Ourique, vamos havemos de encontrar-nos.
Para falarmos dos rapazes.
E dizermos afectos.

Parece haver todos os dias uma razão para dizer que a vida vale mesmo a pena.

MAIS UMA RAZÃO DE DIZER ALEGRIA

Ontem o Bernardo veio visitar este blog e escreveu um comentário.
Só posso agradecer-lhe as palavras e a ternura.
O Bernardo é o nosso neto mais velho.
Estranhamente surpreendida, tenho compreendido como o Bernardo cresce. Um rapaz!
Atento ao mundo. Com um sentido crítico que vai amadurecendo. E bem.
Julgo que ele já que a vida se faz também com as nossas mãos.

O Bernardo é nosso neto.
E um grande, grande companheiro.

Friday, January 06, 2006

A leitaria Ecila

Hoje Dia de Reis.
Gorda como estou, lá fui comprar o super bolo rei da pastelaria Aloma.
Por imensas razões.
Memórias.
E aquele cheirinho.
E ainda quente....
E depois a festa na pastelaria.
Imensa gente a comprá-lo.
Sem pensar na crise. Que bom!