Saturday, July 29, 2006

DETESTO ARRUMAÇÕES

Detesto arrumações.
E nunca mudei de casa, imaginem.
Roupa, vai depressa embora, à excepção do casaco de pele da minha mãe. Que não uso. Não quero para nada. E lhe ficava tão bem. E que não diz comigo…
Mas as fotografias.
As cartas de namoro.
Os postais, que acho «tão giros». Que volto a ler todos os anos.
E os livros.
O primeiro livro de poemas que o Manuel me deu «Toi et Moi».
E a biblioteca que o Manuel herdou do tio Luís. E os livros do tio João embaixador. E os que encontrámos no chão nas quintas abandonadas em Tibaldinho…
E uma quantidade de malhas e de rendas que começo e quase nunca acabo.

Neste mês de arrumar, vivo quase sufocada.
Ao mesmo tempo, é mesmo tudo tão giro.
Nesta balbúrdia não faço nada.
Nas minhas mãos, todos os anos, se dedilha a vida.
Devagar pego em cada peça. Miro-a e remiro-a.
E torna-se sagrada.
Cada ano.

No comments: