Wednesday, January 17, 2007

MARIA LARANJINHA


«Temos uma menina! Tão bonita e tão gordinha! Pesa um quilo e trezentos.»
Meia a dormir de uma anestesia (a nossa menina tirada a ferros, coisas doutros tempos… ), eu conseguia mesmo assim perceber que aquela conversa não batia certa.
Quando a avó Alice chegou como sempre antes do horário permitido, lá consegui pedir-lhe «Mãe, vá ver a menina, deve estar na estufa. Pesa um quilo e trezentos.»
E a minha mãe «Que não, tão linda, pesa três quilos e cem».
Meu querido Manuel a alegria da vida dita no primeiro choro da nossa Maria ao romper da manhã e as duas noites em branco não conseguiam deixar que dissesses as palavras certas.
Foi assim que mostraste a felicidade.
Foi então a vez da avó Céu «Tão redondinha! Parece uma laranjinha!»

E deste modo ficaste, querida filha, «a Maria Laranjinha».

Vou pedir ao pai que ponha aqui uma «fotografia histórica» que com estas palavras e outras, muitas, te hão-de dizer PARABÉNS no dia de hoje
e sempre.

Saturday, January 13, 2007

OS MAIORES PORTUGUESES

Quase choro.
Feliz.
Tocamos a eternidade.
VIEIRA DA SILVA
NATÁLIA CORREIA
MIGUEL TORGA
GIL VICENTE
LOBO ANTUNES
(estamos no intervalo. Vou deixar de os mencionar)

Dizemos assim a vida.

Tuesday, January 09, 2007

O PRINCÍPIO E O FIM

Deixo-vos de e José de Mendonça, a Oração da Manhã emitida ontem na RR, de que gostei tanto, tanto::

«Estarás no princípio e no fim,à porta da nossa casa e à janela dos caminhos,
na partida e nos regressos.
A nosso lado, farás cada trilho,como companheiro que vai permanecendo até se tornar um de nós,
tornando suave a difícil pausa
e uma descoberta cada desvio.
Brilharás como a estrela da manhã
e serás o ponto mais silencioso da noite
quando mesmo o assobio do tempo se suspende.
Então pousarás sobre nós o teu imenso olhar,como uma mãe ou um pai
que se levantam na casa recolhidaapenas para vigiar o precioso filho que dorme.
E quando acordarmos já tu penteaste de verde os longos cabelos das árvores,
e ensinaste ao pássaro cantor a sua alegria.»

Wednesday, January 03, 2007

AQUELA SENHORA QUE CONHEÇO DO CAFÉ

Pois fui com ela à consulta. E eu com os exames na mão, a lê-los. «Um cancro no esófago«.
Ela a dizer me que era muito corajosa. A repetir. Que faria tudo o que fosse preciso. Eu incomodada, estranha com aquela coragem dita, repetida.
Foi quando o médico com jeito (jeito como ??) esclareceu «que não tinha boas notícias, que seria melhor repetir ali no hospital todos os exames. E que só depois haviam de tomar uma decisão.»
E ela a insistir na coragem com o olhar, a dizer que o «senhor doutor é muito simpático. Sabe, foi tudo por causa da zona». E a contar-lhe como é que não conseguia comer. E «que aquele chá da ervanária é que ajudava ...»

Hoje veio cá a casa. »Que tinha que sair. que estava sol». E trazia um presente. Um embrulho enorme, cheio de pegas que fizera.
Amanhã lá vai repetir um dos exames.
E a ensinar-me, a ensinar-nos que os dias, que a vida só se faz de afectos.