Sunday, March 21, 2010

POESIA


Pois deste dia gosto.
Gostamos, Manel.
Gostamos.

E de tudo aquilo a que ela tem dado sentido,
vida,
alegria e tristeza misturadas,
indizíveis.

De súbito lembrei-me que me ofereceste, assim a medo, um livro de poemas em francês como sempre gostei «Toi et Moi»
e escreveste «Um poeta só fala poesia a outro poeta»
Viste «para lá da imagem»
Viste talvez para lá do DNA, «isso» de que me falou hoje o André e pode ser que justifique a impulsividade, «o feitiozinho».
Justifica.
Não lhe dá razão.

E é muito bom sabermos que tanto da nossa vida
ou toda a nossa vida
tem sido poesia

E é a poesia que toca a eternidade.

Monday, March 08, 2010

UMA FLOR NÃO CHEGA MESMO


Nunca gostei deste dia,
chamado «Dia Mundial da Mulher».
Nasceu por razões cheias de sentido e hoje ainda tão actuais.
Mesmo assim irrito-me.
Julgo que em 2003 escrevi este texto para a RR.
E aí vai.
Como um grito, porque o que sonho mesmo é a igual dignidade. MESMO IGUAL.
Aí vai.
Para todos as mulheres. Para todos os homens.

«Hoje, Dia Mundial da Mulher, trago-Te Senhor, todas aquelas de cujas vidas ninguém fala. Lembram-me a talvez Tua Mãe. Têm o seu jeito.

A esta hora, ainda não esboçaram um gesto de descanso.
Para elas, tudo começa muito, muito cedo.
Ao sair da cama, pedem-Te coragem. Há tanto que fazer!
Coisas de nada que sustentam a vida toda
e a vida de todos.
Coisas assim como comprar o pão, preparar o café, arrumar uma loiça que ficou da véspera.
E sempre a olhar o relógio.
Acordar os filhos e o marido com uma carícia ou com um grito. Ele há dias...
Levar as crianças para a escola num transporte colectivo, sem lugar. Com um sorriso. Hão-de vir as saudades dia fora. Dia longo...
O escritório e o trabalho amontoado. «Será que o Joãozinho está com febre?» Mas ali são os telefones, os chefes e as reuniões...

Também há escadas para limpar. E casas. Casas de outras mulheres, as casas das «senhoras». E cuidar de outros meninos. «Senhor, será que o Joãozinho está com febre?»

E tratam os mais velhos. Só elas sabem olhar nos seus olhos e neles ler a solidão e o mêdo. Mudam-lhes as fraldas e acariciam-lhes os cabêlos, como manhã cêdo tinham feito aos seus meninos.
Regressam tão cansadas!
Finalmente tranquilizam-se: o Joãozinho não tem febre.

E quando, findo o banho e o jantar, os filhos adormecem, segredam-lhes uma história, uma prece e uma benção.
Depois é urgente recomeçar outros trabalhos. Adiantar a comida do dia seguinte e a roupa que se amontoa p'ra passar.

Já uma da manhã!
Num rádio qualquer, ouvem vozes ou músicas. A essa hora tanto faz. É só para fazer companhia. O corpo não dá mais e nada parece já fazer sentido.»