Monday, February 16, 2009

ENTRE A PRECE E O LOUVOR

É verdade que estou ainda com uma gripe ( as gripes atacam mais aos fins de semana, o que não se pode explicar)
É verdade que fiz duas sopas
lavei roupa
estendi roupa
apanhei roupa
experimentei uma receits de bolo de noz a ver se melhoro algumas competências culinárias
escrevi um texto pequeno (e o que me vinha à cabeça eram aquelas horas poucas, em que cheia de febre estava «para ali na cama» e só dormia ou não dormia e como isso me é desagradável)

Mas não vou para a cama sem escrever que há 45 anos levámos a Maria a baptizar.
Um embrulhinho branco, redondinho como ela
E como isso foi bom e tão bonito!

Quando levei os meus filhos a baptizar, sabendo que os quería cristãos, na verdade, não sabia nada ou quase nada.
Bem que logo ali rezámos com eles o Pai Nosso. Mas é tão tarde que a pouco e pouco vamos entendendo aquele «seja feita a Vossa vontade». Tão tarde e sempre de forma tão incompleta.

E reparo que escrevo sempre estas postasgens entre a prece e o louvor.
E assim me vou deitar.
Entre a prece e o louvor.

Wednesday, February 11, 2009

PORQUE GOSTO TANTO DO UNÚTIL

Às vezes, muitas vezes, pergunto-me se tenho direito a tanta coisa inútil com que teço a vida e de que gosto muito.

Coisas como fazer pegas de cozinha, casaquinhos minúsculos de bebés, andar aí pelo bairro porque é bom, ser uma avó que mais ou menos só serve para brincar e ser feliz, ser a mulher do Manel sem lhe cozer as meias, nem arrumar a carteira, nem a secretária, viver esta relação como um tempo de namoro, gostar de ver com ele um filme (ou também sem ele), discutir ideias e raramente estar de acordo, surpreender-me e sorrir (sorriso bem aberto) quando o vejo ao longe,fazer um chá para as amigas, ainda que os meus bolos geralmente caiam no chão, mas depois dá-se-lhes uma voltinha, tenho prática, escrever postais, mesmo postais,
por toda este gosto pela inutilidade, não resisto a transcrever do Pe Tolentino Mendonça o artigo que hoje encontrei. E fiquei bem contente. como se ainda precisasse que alguém me dissesse que o inútil vale.
E qual é a utilidade de um abraço forte?
De um beijo?
De uma mensagem para dizer Bom Dia?
De uma boa relação?
E as bananas que a A. foi comprar para o Manel só porque ele disse que gostava?
E os afectos?

Sei, sei mesmo que somos salvos e libertos pelo inútil.
A propósito, este sol.

Vou ao Jardim da Estrela. Devagar.
E agora alguns o tal artigo:

«O elogio do inútil

Porque é o inútil tão importante? Porque o inútil é o subtrair-se à ditadura das finalidades que acabam por nos desviar de um viver autêntico. E a inutilidade é um viver perto do ser. Ela dá-nos acesso à polifonia da vida, na sua variedade, nos seus contrastes, na sua realidade densa. A polifonia da vida é a sua inteireza, a sua globalidade. A renúncia à exclusividade do útil para abraçar o inútil abre-nos a ela.

Jesus é o Mestre do inútil! Quando lemos os Evangelhos a partir desta chave, encontramos o seu desenho contínuo nas palavras de Jesus. Ele reconduzia cada um a fazer do obstáculo uma oportunidade para o encontro: e, no fundo, para uma abertura fundamental a uma vida segundo o próprio ser. Por isso em Lucas 12,22, Jesus desafia os discípulos:

“É por isso que vos digo: não vos preocupeis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer, nem quanto ao vosso corpo com o que haveis de vestir, pois a vida é mais que o alimento, e o corpo é mais que o vestuário. Reparai nos corvos, não semeiam nem colhem; não têm despensas nem celeiros, e Deus alimenta-os. Reparai nos lírios, como crescem. Não trabalham nem fiam, não são úteis; pois eu digo-vos: bem Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles”.

Temos uma vida espiritual muito burocrática. Vivemos como funcionários e quando morremos passamos a defuntos, isto é, aqueles que já não tendo função continuam a ser descritos a partir de uma função. R
Revemo-nos nos versos que Alexandre O’Neill escreveu em «Adeus português»:

“... nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver”.



Muitas vezes a oração surge ainda como espaço útil, e não como o lugar da abertura gratuita e essencial, (...). Não escapamos ao calculismo. Vivemos também aí, a nível da vida espiritual, de pé atrás. Como Sara, a mulher de Abraão, ficamos escondidos atrás do pano da tenda a sorrir baixinho, ironicamente, porque não acreditamos que seja possível a promessa. Adaptamos, mesmo a nível espiritual, um pragmatismo cheio de utilidade. Há uma página no Diário de Sebastião da Gama que nos aponta o dedo:

“A gente tem vergonha de beijar tudo; de amar as flores; de dar um passeio. Se beija uma árvore, é parvo; se traz uma flor na mão é maricas; se se enternece é fraco; se vai a qualquer parte para passear e ver o mundo, faz constar que foi em viagem de estudo ou em viagem de negócios; temos vergonha de ser sinceros, de que nos creiam parvos, ou maricas ou fracos, ou lúdricos, ou estroinas; e então perdemos o melhor da nossa vida; as nossas intenções, as nossas intenções mais belas”.

É preciso perceber como a inutilidade abre clareiras ao próprio ser e como precisamos delas para poder experimentar a plenitude.»

José Tolentino Mendonça

in O elogio da inutilidade

30.05.2008

Thursday, February 05, 2009

ENTRE TRINTA E UM DE JANEIRO E CINCO DE FEVEREIRO
















Dia Trinta e Um -
O André em Sta Marta. Aquela horrível notícia já «postada». «Pai, disseram que tive um enfarte.»
Eu fui andar.
Acontece que quase sempre me encontro com alguém.
Desta vez, na retrosaria e a propósito de lãs, destes trabalhos «este fio melhor que aquele para bebés», a senhora começou e de repente, já era a vida. «Desculpe estar a falar-lhe destas coisas todas, mas sabe, às vezes com os meus amigos é mais difícil, não posso dar parte de fraca, nem chorar». E eu, sem resposta.
O que é que se responde ao sofrimendo?

À noite - Um telefonema amigo e cheio de sabedoria duma amiga da minha mãe.
Que idade terá?
E que importa?

Dia Um -
Missa pela manhã.
O envolvimento maior de ser um amigo a celebrar.
À tarde - No hospital. «E a Teté?»
Fim da tarde - Outra vez à missa com o Manel. Sermos dois é um grande bem.
E dei pessoalmente os parabéns à Élia, grande Mestra, que fez anos.

Dia Dois - Nossa Senhora das Candeias
Teria feito anos a minha sogra (detesto esta palavra, já disse eu e já disse a Ana). Sempre lhe chamei «Mãe». Com gosto.
À tarde levei os Marias à catequese e doía-me de cada vez que falavam do pai. No fim do jantar, «Vá vamos ter com a mãe?» «Então não é o pai que nos vem buscar?»
Rapazes...

Dia Três -
Aniversário do nosso querido neto mais velho. O Bernardo. Dezoito anos. Já é maior.
Viva Bernardo!
Parabéns
Agarra a tua vida. Toda, meu amor. (ainda te vejo tão bebé , coisas de avó, já sabes)
Também eu recebi mensagens de parabéns de muita gente (que reencaminhei para a tua também super Mãe). Destaco a da tia Ana «Viva o Bibas.Viva a avó Teté com um neto maior em todos os sentidos.»
Na reunião da Bíblia, na paróquia, toda a gente fez uma acção de graças por este rapaz e um pedido de saúde para o André. E isto ajuda muito! A querida Maria do Céu «que ia já acender uma vela e fazer uma novena a Nª srª das Candeias. Fantástica.

Dia Quatro-
O André fez o cateterismo. O Manel, experiente e cuidadoso, telefona-lhe manhã bem cedo. Faz-lhe serenamente algumas recomendações.

Tentei que o Manel achasse que devíamos ir logo, logo. E ele «Mas para quê se não podemos entrar antes do meio dia?». Sempre mais ajuizado o meu marido.
Antes de sairmos de casa já a Ana nos telefonava. «Que já tinha acabado. E parecia que tinha corrido bem.»
No autocarro 74, porta a porta, de Campo de Ourique a Santa Marta, telefona-me o pe Vítor Gonçalves, grande amigo. « Vamos tomar um café». E também o André «Se eu lhe levava folhados da Aloma». Já não ia a tempo. Lá arranjei uns maus substitutos na Smarta. E o André zangado. Bom sinal.

Realmente o cateterismo tinha corrido sem problemas.
Gastei todo o meu saldo de telemóvel em mensagens.
A amizade compensa e merece tudo. E ainda p'ra mais uma boa notícia.

Deitei-me para a «sesta» lá para as quatro. Dormi até ao jantar.

Dia Cinco - O André voltou para casa.
Foi com a Ana buscar os meninos.

Louvado seja Deus!

E TOMA JUIZO, RAPAZ.
A gente tem que colaborar.

Hás-de ensinar isto bem ensinadinho aos vossos Marias. De certeza.

E AGORA, AO MESMO TEMPO QUE AGRADEÇO A TODOS OS AMIGOS, VOU TENTAR PÔR UMA IMAGEM EM HONRA DO BERNARDO E OUTRA EM HONRA DO ANDRÉ

Sunday, February 01, 2009

PATRIMÓNIO

O melhor património, Mãe, (e já o tenho aqui dito) foi essa coragem,
Esse viver a vida de frente e de pé
Sem queixas.

Ontem, quando soube do problema do André e vi o Manel «voar» para o hospital, achei que talvez fosse melhor dar-me um tempo para me encontrar e me «reconstruir».
Pedi ao Manel «Dá-me notícias, que eu vou andar». Eu bem sabia que tinha medo duma lágrima, dum vacilar qualquer. Andei pelo bairro.

Mas falava forte a tal coragem da minha mãe. Ela havia de me ter dito. «Que disparate, Teresinha. Vais e vais já. E nem uma lágrima.»
Também a minha cunhada Gaby quando da primeira operação do Manel me falou assim. «Vai. Aguenta-te».
E o que eu lhes agradeço.

Afinal é com surpresa que reconhecemos que guardamos em nós um tesouro de coragem. E isso é vida. Vida sempre.

À tarde fui.
Que bom foi ouvir o André perguntar ao pai «E a Teté?»
E eu estava lá.

Esta postagem é qualquer coisa entre uma prece e uma acção de graças.
É mesmo.