Thursday, November 30, 2006

DIA DE SANTO ANDRÉ


Pois. Foi uma discussão grande cá em casa.
Que o rapaz se havia de chamar Pedro. Depois que não. Que já tinha um primo «Pedro».
Depois, o pai, que lhe chamássemos «Simão» e eu «que horror! Nome de macaco».
Depois, por mim o nome dos dois avós «Luis Pedro», mas não foi aceite, parecia uma pepineira.
Enfim o pai disse ANDRÉ e eu «que não gostava».
Vieram então as razões todas «nome grego que significa homem, nome de um grande apóstolo».
Lá aceitei.
Passado pouco tempo apareceu uma telenovela com uma personagem «André» e eu mesmo chateaada.
Mas ficou-lhe bem. Ficou-lhe mesmo muito bem.
E fiquei a saber desde essa altura em que o nosso rapaz nasceu que 30 de Novembro é o dia de santo André.
Viva!

Tuesday, November 28, 2006

DENTISTA E IMENSO MEDO

Hoje vou ao dentista.
Cheia de medo.
Quero fugir.
Digo a mim própria que posso viver sem dentes.

E o relógio a passar.
E eu a empatar.

Lá vou eu.

Monday, November 27, 2006

AUSÊNCIA DE PALAVRAS

Tanto tempo sem escrever aqui, ontem foi por causa da Net que se avaria.
Tem sido difícil viver sem «estas janelas»
Agora voltei.
Respiro.
E volto a ler-vos. A procurar-vos. A dizer-me.
Vivo nestas palavras.

MÁRIO CESARINY

No dia da sua morte, quero para mim estas palavras de Mário Cesariny, quero-as muito para mim

«Despe-te de verdades
Das grandes primeiro que das pequenas
Das tuas antes que de quaisquer outras
Abre uma cova e enterra-as
A teu lado
Primeiro as que te impuseram eras ainda imbele
E não possuías mácula senão a do teu nome estranho
Depois as que crescendo penosamente vestiste
A verdade do pão a verdade das lágrimas
(…)
Depois as que ganhaste com o teu sémen
Onde a manhã ergue um espelho vazio
E uma criança chora entre nuvens e abismos
Depois as que hão-de pôr em cima do teu retrato
(…)»

Sunday, November 12, 2006

TÃO PRÓXIMO O NATAL...

Começo a saber que o Natal está próximo.
Não por causa do presépio que desembrulhamos devagar, figura por figura
Não por causa do espanto dos meus netos com as luzes da árvore e das ruas
Não por causa da nossa história, Manuel, cuja data começou aqui. Lembraste que me trouxeste o esquilo pequenino de peluche, que ainda existe e resiste, como nós?
Começo a saber que o Natal está próximo.
Montras cheias de tudo e de nada.
«Em ordens de comprar» e as listas infindáveis e o stress de «o quê para quem».
Começo a saber que o Natal está próximo.
Quero para mim a coragem de fugir deste Natal.

Para saber de verdade que o Natal está próximo.
O Natal.

Saturday, November 11, 2006

SOL

Dia de S. Martinho.
E SOL

IR POR AÍ
PELAS RUAS
E SORRIR
Aprendesse eu «a cortar a minha capa ao meio e a partilhá-la.»
Enquanto não,
segue o sorriso.

SOL

A LIVRARIA DO KING

Reabriu.
Enquanto esteve sem livros, aquelas prateleiras vazias, sem livros e sem gente, sem nada onde poisar o nosso olhar, sem nada que as nossas mãos pudessem tocar, aquilo não sei o que parecia. Os cemitérios têm mais vida. Têm nomes, datas, histórias adivinhadas.

REABRIU A LIVRARIA DO KING
E, mesmo com o orçamento apertado, tive o prazer de umas compritas. Marcadores de livros magnéticos, tão giros...

OS MEUS OLHOS SÃO AZUIS E NÃO POSSO MUDÁ-LOS

Ontem para fugir àquela inércia estúpida da noite «fomos ao cinema».
«Estou cansada. queres mesmo?»
«Se não formos, vamos ter mesmo pena.»
Fomos. Bem bom.
Filme em francês e tudo. «Em Paris»
A pincípio não nos pareceu fácil começar a gostar. depois, como a coca cola .... Apanhadinhos.
Retive uma conversa entre duas personagens
«É preciso cuidar bem da tristeza com que nascemos.»
«Nascemos com uma tristeza?»
«Nascemos com uma tristeza. Como com a cor dos olhos. Os meus são azuis e não posso mudá-los.»

Wednesday, November 08, 2006

ARROZ DOCE E SANTIDADE

Para a festa de Todos os Santos vieram os filhos e os netos. Alguns amigos, também.
O tal cozido, este ano encomendado. Afadiguei-me feliz
Outra vez as toalhas. E a loiça. Terrina e tudo. Outra vez aquele arroz doce de que não sei a receita. Só as palavras da minha mãe «Deitas o arroz na água e vais vendo».

Com alguma dificuldade, experimentei esse olhar que não me diz a quantidade exacta dos ovos nem do arroz. «Não é difícil, vais vendo», assegurava.

Quando os vi todos à mesa, lembrei-me.
Com canela eu tinha escrito no arroz doce «Bem vindos todos os Santos».
E o mais velho dos meus netos, adolescente e incrédulo «Nós?! Santos, avó?!»

Olhei-vos ali à mesa, chamados todos à santidade, talvez sem o saberem.

E quis dizer a cada um, como dizia a bisavó deles: «Não é difícil, vais vendo.» Cada dia, a santidade.