Thursday, October 27, 2005

A OUTRA MEIA

A nossa casa nunca foi arrumada.
Nunca.
A minha mãe dizia que «isto mais parece um acampamento de ciganos» ( coisas de mãe).
Também não gosto desta confusão.
Mas não consigo arrumar muita coisa... Chego a ter dores de cabeça!
Disseste sempre que me vinhas ajudar, que até gostavas.
Quando adoeceste, dessa forma brutal, dizias que eu tinha que esperar.
E eu a saber que não ia acontecer.
Na véspera daquele «nunca mais», disseste-me que ias ao hospital, que nem sabias ..
E tu a saberes.
E eu ...
Tenho tantas saudades tuas!
Quero dizer-te uma pequena vitória que hoje consegui.
Olha, na confusão que são as meias do Manel, lá encontrei «a outra», a azul que não aparecia nunca.e ficou tudo certinho. Aos pares.
E eu a lembrar-me de ti.

Tuesday, October 25, 2005

A OUSADIA PRUDENTE DO MEU TAXISTA

Há pessoas capazes de enfrentar com distância prudente os tumultos do quotidiano.
Ontem espantei-me com um taxista.
Íamos tendo mesmo um acidente pela a pressa, o atropelo de um condutor com um carrão (novo, muito novo).
O condutor incauto desatou a disparatar, um berreiro mesmo.
E o taxista (novo também) que me transportava «Olhe, nem respondo. Ando aqui doze horas. Só posso ignorar.»
E serviu-me de lição para o resto do dia.
Quero para mim esta sabedoria prudente do meu condutor.
E quase nunca sou capaz.
Mas quero.
Para poder viver.
Viver bem.

Sunday, October 23, 2005

O NOSSO AVÔ

Os meus netos começaram a fazer anos.
Além de serem todos rapazes (seis!), fazem anos de seguidinha; desde ontem até ao princípio de Fevereiro...
Emoções quase compactadas!
Ontem foi o Manuel. Um super-príncipe, cheiinho de caracóis. E loiros!!!! Pricipezinho!
O Pedro, quase da mesma idade, veio de Évora, com mala e tudo, para os anos do primo.
Hoje fui passeá-lo, melhor, cansá-lo pelas ruas do meu bairro.
E eu, a descobrir e a contar as ruas e as histórias.
E ele zangado com o barulho de um avião
«Que não podia ser, que o nosso avô estava a dormir.»

Pedro, e vocês todos, gosto tanto que vocês me queiram companheira.
Igual.


Thursday, October 20, 2005

TRIGÉSIMO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DE MATRIMÓNIO???? A GENTE AINDA TEM MEMÓRIA!

Hoje o prof. Cavaco Silva anuncia a sua candidatura «há muito anunciada».
A Sic notícias afirmou ontem ,pelo menos duas vezes, «no dia do seu trigésimo segundo aniversário de casamento».
Céus! Eu lembro-me desse casamento! Moravam aqui mesmo em Campo de Ourique! Bem perto de mim! Lembro-me de muitas coisas e a memória nem sempre ajuda. às vezes incomoda muita gente, como os elefantes.
Mas por favor, corrijam. São 42 anos de casamento!
De quem é o engano?
Da Sic?
Do prof Cavaco e da mulher?
Ou 42 anos é demais como imagem?

Realmente, porque é que estou sempre nestas refilices? A minha mãe chateava-se tanto!

Mas o nosso povo não tem lá muita capacidade de contar dois mais dois.

Tuesday, October 18, 2005

ROMA

O nosso amigo P foi para Roma.
Tenho saudades de Roma.
Julgava que Roma era branca. Que ao menos a praça de S. Pedro era branca.
E não.
Aquele tom assim meio amarelado que não sei dizer.
Tenho saudades das ruas.
E de tudo ser tão grande, tão maior.
E de, quando já estava a habituar-me, começar a entender como tudo é bonito. Naquele tamanho inesperado!.
E as lojas como não deve haver noutro sítio. (Aninhas, temos que lá ir. Só nós, claro)
As pontes.
As praças.
As pessoas-estátuas por todo o lado.
E o café Greco.
É claro vi o papa e sinceramente impressionei-me (João Paulo II)
De certo modo, estamos sempre nos lugares que amamos.´
Gosto de ter saudades de Roma.

Monday, October 17, 2005

UMA CHUVINHA BRANDA NO NOSSO SOBRESSALTO

Tantas vezes me surpreendo com a vida. E dificilmente.
Deixo-vos as palavras do José Manuel Pureza, que dizem melhor do que eu este sentir
«As notícias brutais, com rosto concreto, o de um familiar ou de um amigo), fazemparar a nossa história. Invariavelmente, reagimos a elas com indignação: isto não podia acontecer - os resultados assustadoresdo nosso último exame clínico, o acidente grave do colega, a morte do filho mais novo do vizinho, o desemprego inesperado da sobrinha. O fluir da vida certinha, sem sobressaltos, planificada nas páginas das agendas, leva-nos a pairar de um dia para o outro. E, de repente, há como que um violento trambolão que nos magoa. Não suportamos ser despertados para a fragilidade da nossa condição. Revoltados, chamamos a isso injustiça. Mas, lá no fundo, não é senão humanidade.»
Hoje, na cidade, uma chuvinha branda em salpicos de paz.

Wednesday, October 12, 2005

NA FERREIRA BORGES

Encontrei-te aí, entre as folhas finalmente suaves da rua mais bonita do meu bairro.
Uma chuvinha.
E tu também a mais bonita, desde os bancos do já desparecido colégio Figueiredo, na Quatro de Infantaria. Alta e esguia. E os teus olhos azuis. E o sorriso.
Eu, a pergunta habitual «Se tudo estava bem contigo». Que sim, «mas um enervamento constante. Ver o meu marido assim».
«Assim», não te perguntei «como» e não sei o que é.
«Assim» é a tua dor.
E eu a ouvir-te. Só a ouvir-te.
Num envelope usado dei-te o meu telefone.
Que falasses mesmo, que cuidasses de ti.
Continuámos pela Ferreira Borges. Cada uma no seu sentido.
Tu, com esse sorriso nos olhos azuis, disseste a tua noite na rua mais bonita do meu bairro.
Ficou a tua noite no meu dia.

Monday, October 10, 2005

TERESA

Obrigadíssima, Anónima, pelas palavras e por me chamar de Teresa. é o meu nome e gosto dele. E depois o nome que nos deram vai sendo pertença e cola-se com a vida toda, toda.
Lá na escola, onde ainda vou com gosto, às vezes uma colega que me não conheça diz «a senhora». Faço um berreiro. E um pedido forte para que me chame «Teresa».
Obrigada mesmo.

AQUI E ALI A FESTA MAIS ESCASSA DO QUE A CHUVA

Que bom se tenha feito por aí a fests, M&M!
Résteas de esperança, num país onde parece vencer a desonestidade (com tempo de antena!).

Sunday, October 09, 2005

BELA EXPERIÊNCIA

Boa! A tua experiência resultou, Z
Obrigada pelas palavras.

A festa é que não é.
Este país revelou-se imoral.
Ordem de não cruzar os braços.

FIRMEZA

23H47

Estou a ouvir o eng Sócrates.
A firmeza pode parecer teimosia.
Mas é firmeza.
E precisamos tanto de firmeza!

O que é que se está a pensar lá dentro das janelas deste bairro?

COMO ACREDITAR?

20h23
Como acreditar'
Como dizer a esperança?
E quero dizer a esperança.
Quero.

CHUVA / FESTA

Chove. Uma chuva miudinha que apazigua.
E hoje vamos ter a festa no meu bairro.
Eleições... Quaisquer que sejam os resultados, a gente mexe-se.
E vai.
«Ir» é sempre um verbo que diz a esperança.

CHUVA / FESTA

Chove. Uma chuva miudinha que apazigua.
E hoje vamos ter a festa no meu bairro.
Eleições... Quaisquer que sejam os resultados, a gente mexe-se.
E vai.
«Ir» é sempre um verbo que diz a esperança.

Saturday, October 08, 2005

SILÊNCIO DE REFLEXÃO???

Acordei cedo.
O comando liga-me à Sic Notícias.
Palavras muito breves sobre um sismo.
Logo a seguir. Futebol. Futebol. Futebol.
Gostava de não ter nada contra o futebol, mas até tenho. Uma espécie de anestesia para iludir a gente.
E a festa? A festa que congrega?

O notíciário das 7 da manhã silenciou as pessoas. A gente. As histórias da gente, umas «mais» que outras.
E a vida, a vida mesmo, não tem voz.
E não tem vez.
Porquê?

Sei que muitos se interrogam como eu.
E alguém pode ajudar numa resposta?

Thursday, October 06, 2005

TESTAMENTO

No domingo, dia 9, dia de eleições autárquicas, quero
ir pelo meu bairro, ver imensa gente, não dizer em quem voto, e dizer sem dizer.
Quero andar aí pelos cafés.
Não há cravos para comprar, rosas talvez no jardim da Parada.
Quero convocar os amigos para uma sopa e para os primeiros resultados.
Quero ficar nervosa à espera desses resultados.
Quero passar este frenesim aos meus netos.
E que eles se lembrem de mim assim.

ONTEM

Ontem, o M e eu fomos ao palácio da Ajuda.
Comemoração do 5 de Outubro.
Aquela bendita República.
Aquela, que teve à volta umas revoluções de que a minha mãe falava a medo.
Imensa gente.
Uma exposição que se via muito mal.
O dr. Sampaio numa sala conversava o mais que podia.
Um discurso notável, já esperava.
E eu a lembrar-me das greves académicas.
E dessa figura fraca que ele tinha e dessa força e dessa honestidade enormes.
Como ontem.
Como sempre.
Parabéns, dr Sampaio.
É que é preciso ser asssim.
Vertical.
Coente.

Sunday, October 02, 2005

TALVEZ

Vir aqui numa escapadinha, ler o que escrevi e o que me escrevem faz mesmo mudar.
Faz afirmar que tudo mudou mesmo.
Dizer que o ano 2000 foi/é um grande ano
e que a seguir é melhor
e a seguir ainda melhor
e que os nossos gestos
todos
e as palavras todas
e tudo tudo tudo vale mesmo.
A gente é que às vezes tem assim uma saudade que mais parece dum futuro ou dum sonho
uma saudade que confunde o tempo, que confunde os tempos.
e isso está mal, talvez.
Talvez é uma palavra óptima.
Diz imensas certezas, desta forma única que nós pessoas conseguimos dizer uma certeza.

Quando é que eu afirmava a alegria como a Catarina quando escreve «mudou literalmente tudo. Nasceu o R.»? E no ano 2000.
Quando é que eu afirmava o orgulho feliz de M&M quando escreve « também os meus pais apanharam com as mangueiras com um líquido azul. Em Coimbra.»

É que a vida e as histórias dos meus pais, cheias de lutas e de alguns ideais, tiveram o sabor real de muitas, muitas faltas. (Hoje, porque veio uma senhora para engomar as camisas do M, lá estou eu à espera que a outra seque, para lha passar de manhã. Mas é um dia; a mãe do meu pai, secava a ferro de brasa e de noite as camisas dos rapazes, que pela manhã eram os mais bem vestidos de Campo de Ourique; a minha mãe fez a quarta classe quando o meu pai morreu, porque até aí, não valia a pena)
Não quero dizer bem de tantas faltas.
Gostava que a gente acreditasse mesmo que alguma coisa muda. Por nossas mãos. Também.
Gostava ainda de deixar aqui uma pergunta do meu neto Francisco que me parece mostrar essa mudança «A avó acha que há inferno ?» E como eu não respondesse, ele afirmou mesmo «Eu também acho que não. Se Deus existe e se é tão bom, não há inferno»
E ainda desse rapaz, quando viu as primeiras imagens da guerra do Iraque, bem pequenito «Esta guerra está mal. Como é que sabem que estão a matar os maus?»

ALGUMA COISA MUDA MESMO.

Saturday, October 01, 2005

CUMPLICIDADES

Não resisto a dizer sem jeito uma grande ternura à visitante deste blog M M (acho que não está bem ) e também à C (autora de o meu filho e eu ).
É que mudámos mesmo o mundo.
É que o sonho anda por aí nos vossos gestos. Nas músicas. Nos sonhos.
É que o ano 2000 é mesmo diferente.
Melhor.
Bom, muito bom fim de semana ( estou com uma estúpida alergia, deve ser fruto das arrumações que tento e que uma vida inteira nunca tinha feito).