Sunday, October 02, 2005

TALVEZ

Vir aqui numa escapadinha, ler o que escrevi e o que me escrevem faz mesmo mudar.
Faz afirmar que tudo mudou mesmo.
Dizer que o ano 2000 foi/é um grande ano
e que a seguir é melhor
e a seguir ainda melhor
e que os nossos gestos
todos
e as palavras todas
e tudo tudo tudo vale mesmo.
A gente é que às vezes tem assim uma saudade que mais parece dum futuro ou dum sonho
uma saudade que confunde o tempo, que confunde os tempos.
e isso está mal, talvez.
Talvez é uma palavra óptima.
Diz imensas certezas, desta forma única que nós pessoas conseguimos dizer uma certeza.

Quando é que eu afirmava a alegria como a Catarina quando escreve «mudou literalmente tudo. Nasceu o R.»? E no ano 2000.
Quando é que eu afirmava o orgulho feliz de M&M quando escreve « também os meus pais apanharam com as mangueiras com um líquido azul. Em Coimbra.»

É que a vida e as histórias dos meus pais, cheias de lutas e de alguns ideais, tiveram o sabor real de muitas, muitas faltas. (Hoje, porque veio uma senhora para engomar as camisas do M, lá estou eu à espera que a outra seque, para lha passar de manhã. Mas é um dia; a mãe do meu pai, secava a ferro de brasa e de noite as camisas dos rapazes, que pela manhã eram os mais bem vestidos de Campo de Ourique; a minha mãe fez a quarta classe quando o meu pai morreu, porque até aí, não valia a pena)
Não quero dizer bem de tantas faltas.
Gostava que a gente acreditasse mesmo que alguma coisa muda. Por nossas mãos. Também.
Gostava ainda de deixar aqui uma pergunta do meu neto Francisco que me parece mostrar essa mudança «A avó acha que há inferno ?» E como eu não respondesse, ele afirmou mesmo «Eu também acho que não. Se Deus existe e se é tão bom, não há inferno»
E ainda desse rapaz, quando viu as primeiras imagens da guerra do Iraque, bem pequenito «Esta guerra está mal. Como é que sabem que estão a matar os maus?»

ALGUMA COISA MUDA MESMO.

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