Wednesday, October 12, 2005

NA FERREIRA BORGES

Encontrei-te aí, entre as folhas finalmente suaves da rua mais bonita do meu bairro.
Uma chuvinha.
E tu também a mais bonita, desde os bancos do já desparecido colégio Figueiredo, na Quatro de Infantaria. Alta e esguia. E os teus olhos azuis. E o sorriso.
Eu, a pergunta habitual «Se tudo estava bem contigo». Que sim, «mas um enervamento constante. Ver o meu marido assim».
«Assim», não te perguntei «como» e não sei o que é.
«Assim» é a tua dor.
E eu a ouvir-te. Só a ouvir-te.
Num envelope usado dei-te o meu telefone.
Que falasses mesmo, que cuidasses de ti.
Continuámos pela Ferreira Borges. Cada uma no seu sentido.
Tu, com esse sorriso nos olhos azuis, disseste a tua noite na rua mais bonita do meu bairro.
Ficou a tua noite no meu dia.

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