Thursday, December 29, 2005

QUARENTA E TRÊS ANOS DE ESTARMOS JUNTOS

Guarda palavras como «sempre»
E o sorriso.
Guarda
«À espera de Godot»
E o bebedouro no Príncipe Real.
Guarda
A vida
Sempre de mãos dadas
Chiado abaixo e depois Chiado acima.
Guarda este feitio teimoso que parece ousadia.
Guarda
O meu corpo companheiro
Guarda-me inteira
E sempre adolescente.

E perdoa o mau génio.
A impaciência
E a mania «de que sou tão perfeita»
Ou de que só «eu sei fazer contas»
Perdoa esta memória tantas vezes cruel de que até me orgulho.

Guarda o eléctrico 28
E o Jardim da Estrela
E o 2º andar do autocarro 9
Viagem sempre até ao fim da linha

Olha, guarda só o sorriso
E a minha mão na tua
Guarda esse jeito eterno do teu corpo no meu.
Sempre
Sempre.

Wednesday, December 28, 2005

«COISA PROIBIDA E ESCURA A PRIMAVERA

Ontem tivemos uma alegria enorme - os oitenta anos da Maria Irene, em festa de afectos e ternura.
Hoje, outra alegria grande - o presente do Nuno para o tio Manel - uma fotografia do casamento dos avós, trabalhada por ele no computador e emoldurada de memórias.
Agora, já bem noite, falei-te ao telefone «Chorei tanto, Teresinha.» E a mim a doer-me esta incapacidade de não poder senão ouvir-te.
E a vida a tecer-se assim.
A Primavera como «coisa pribida e escura».

Tuesday, December 27, 2005

A VER SE ESTAS CARAS MUDAM

Afinal, gostei muito do Natal.
Uma canseira, é certo. O possível/impossível orçamento ultrapassado.
E uma vontade enorme de dizer, como uma vizinha que encontrei na Aloma a comprar aqueles doces inconfundíveis «É tudo para ver se estas caras mudam. É que anda tudo tão murcho.»
Os gestos, as mensagens, os telefonemas, o cuidado multiplicam-se. E ultrapassa-nos.
A ver se estas caras mudam mesmo.
Para quem ler este blog, uma forcinha muito grande aqui da minha janela «a ver se estas caras mudam».

Monday, December 12, 2005

CASAL VENTOSO

Voltei ontem ao Casal Ventoso.
Cinquenta anos depois desse tempo em que acreditava que podíamos mesmo mudar o mundo.
Quando o ano 2000 era tão longe.
Ontem fui mesmo lá. e no jeito de que gosto, fiquei só a ouvir uma irmã que tem a minha idade.
Mora ali. Disse-me que não há-de conseguir mudar nada.
A droga continua.
As raparigas, crianças quase, subsistem da prostituição. Partem manhã cedo para o Intendente. Algumas tem filhos bebés.e os pais na cadeia. Vivem às vezes com as avós.
Fiquei de ir. Depois do Natal.
Para ensinar a escrever o nome.
Para ajudar a fazer uma renda ou assim.
Quero morrer a acreditar que pelas minhas mãos, também alguma coisa há-de poder mudar.
Não é o Natal um menino que nos é dado?
E muda tudo.

Friday, December 09, 2005

UM SORRISO COMPANHEIRO

Não parece fácil dizer o Natal num país em depressão.
Como acendemos luzes?
Ontem sentei-me no café, um destes tantos de Campo de Ourique.
Geralmente falo demais.
Mas foi o meu silêncio que disse Natal. Porque ouvi.
Ouvi por ali a vida.
A dor. A ausência. E alegrias, poucas.
E esbocei um sorriso, que quero companheiro.

Thursday, December 08, 2005

VIDA FEITA DE NADAS

A vida vai-se fazendo de nadas.
E de tudo.
Paragens iinesperadas.
Encontros.
Desencontros.
Difícil dizer assim Natal.
Quero o sabor fresco das palavras frágeis. Como «menino» ou «uma luz qualquer. pequenina talvez».
Não quero a «maior árvore de Natal».
Dizer «esperança» até ao fim.
Tenho e procuro razões para isso.
E parece tão difícil. Sem porquê.

Tuesday, November 29, 2005

VOLTAR À BAIXA

Hoje voltei à Baixa.
Ao Chiado.
A propósito de comprar velas para o Natal naquela casa única do Loreto.
E fui à Brasileira. E sentei-me como sempre numa mesa bem perto de outras tantas caras conhecidas que sempre por lá vi.
Encontrei um escultor, Virgílio Domingues (não tenho a certeza), que foi professor de um dos meus filhos.
Perguntou-me que idade tinham eles.
E confessou-me a confusão que lhe fazia ver antigos alunos que já são avós.
Também a mim.
Recomendei-lhe (e recomendei-me) que não fizesse contas.

Enquanto a gente tiver sol. E ruas.
E pessoas...

Voltar à Baixa é mesmo bom.

Friday, November 25, 2005

COMO MUDÁMOS

HOJE NÃO ESCREVERIA O TEXTO ANTERIOR.
O QUE A GENTE MUDOU!

E ACREDITAMOS?

ACREDITAMOS, SIM SENHOR.

25 DE NOVEMBRO

PARA NÓS FOI MESMO TRISTE.
O 11 DE MARÇO ERA A ESPERANÇA.

VOLTEI À LEITARIA ECILA

Voltei ontem à Leitaria Ecila. Ao fim de cinquenta e um anos.
Passava muitas vezes no passeio estreito. Mas mal espreitava.
um medo enorme desse reencontro com o que não podia mais voltar.

Hoje «A leitaria Ecila» chama-se «chaq.b».
E, tive um pretexto - os anos do meu neto António, o mais pequenino. Um bom chá, faria jeito.
E, - surpresa! -, quando entrei «Teresinha, tu por aqui...». A senhora que atende, brincou toda a infância comigo. Tive vergonha de lhe perguntar o nome, que não sei.
Fui-me ficando sem pressa.
A cada pessoa que chegava, a senhora dizia «A Teresinha era a dona desta loja». E lá vieram histórias. Contadas devagar.
E o espanto. O leite transportado em carroças da quinta onde mais tarde foi construído o Hospital de Sta Maria.
E a festa de andar de carroça. De Campo de Ourique ao Campo Grande.
E outras.

A leitaria vende todos os chás. Raríssimos. Fantásticos.
Experimentem.
É na R. Silva Carvalho,116 em Campo de Ourique, claro.
E-mail:cha.qb@netabo.pt

Thursday, November 24, 2005

PROFESSORES

Vi/Ouvi «Prós e Contras» com a Ministra da Educação.
Gosto dela.
E quero dizer que uma aula de substituição pode ser muito boa.
E que as dei muitas vezes. Sem decreto. Com gosto. Ao princípio os alunos não gostam. O pátio é sempre mais divertido.
O trabalho numa escola não tem fim.
O tempo não chega nunca, nem que seja para apenas falar, estar de outro modo...
Esta guerra toda parece-me «só para chatear». Posso estar enganada, mas admito-o com dificuldade.
A verdade é que a escola só existe por causa dos alunos.
E os nossos alunos precisam de tudo. E merecem. Eles são «a nossa gente».
E a nossa vida.

Wednesday, November 23, 2005

QUE COTA!

Como é que eu publico o mesmo texto duas vezes?

Que burrinha...

SorrY

OS DEDITOS DOS MEUS NETOS

Vou subir a um escadotezito e tirar de lá de cima o presépio enorme.
Veio da infância do Manuel e do António.
Todos os anos lhe acrescentamos qualquer coisa.
Dantes íamos aos Armazéns do Chiado.
Naquele fantástico eléctrico 28, que ainda existe e ainda para lá vai.
Comprávamos mais uma ponte. Mais um moinho com velas. E imensos carneiros. De todos os tamanhos.
E a festa continuava a comermos fantásticas torradas lá nos Armazéns.

Hoje, volto a comprar mais umas peças no mercado de Campo de Ourique.

E não há quem não goste do presépio.
Eu sem jeito nenhum e o Manel sempre a inventar como pôr mais umas luzes ou aquele espelho a parecer um rio.

O melhor de tudo são os olhos dos meus netos.
Como eram os dos meus filhos.
E os deditos dos mais pequenos.
A apontar.

Eles sabem a esperança.

DE VOLTA

A Leitaria Ecila esteve silenciada.
E eu cheia de saudades.
Às vezes, entre tarefas outras, parece que não há nada de jeito para escrever.
E há sempre a vida.
Assim. Em pedacitos.
Nesta janela/porta que é tão boa.
Cá estou.
Obrigada, Aninhas, pela forcinha que ontem mandaste. Em jeito de metáfora.

Tuesday, November 08, 2005

OUTRO CASAL VENTOSO

Quando eu tinha uns quinze anos e nada nos separava do Casal Ventoso, numa das muitas idas que lá fazia, vi (vi para sempre) esta situação que tento dizer - uma senhora inválida numa cama, tratada por uma filha quase criança e deficiente, num quarto sem tecto.
Esse quarto sem tecto, exposto a todas as intempéries não me largou nunca. Felizmente. E peço a Deus memória até ao fim.
Ontem o Manuel teve lá uma reunião no âmbito do ICNE.
Do que me contou, fica este sentimento de impossibilidade. Esta angústia da minha/nossa impossibilidade. Ou distracção voluntária.
As paredes têm tecto.
Mas como chegar lá?
E dói.

A MARCHA

Há vinte anos, passámos cá em casa um vídeo de uma curta metragem chamada «A Marcha». Na altura impressionou-nos muito, mas tentámos o tal olhar distraído, de qualquer coisa, longe, muito longe.
Mal que nos chegaram as notícias de Paris, o Manuel e eu dissemos «Tal qual a marcha».
E é.
Ontem vi «Prós e Contras». Maria José N Pinto, Barata Moura, D. José Policarpo, António Pinto Leite.
E gostei.
Continuamos a procurar e a lutar.
Às vezes, com pouca esperança.
Mas lutamos.
Há-de valer.
Tem que valer.

Sunday, November 06, 2005

LAÇOS

Um grande bem haja a todos os que escrevem um comentário neste blog.
Assim vamos criando laços, contando histórias, fazendo história.
Bem bom!

AS FESTAS DE ANOS E OUTRAS QUE NÃO SÃO FESTAS

Vamos lá ver se temos um intervalozinho.
Uma paragem, pequenita que seja.
Os rapazes continuaram a fazer anos - o Pedro em Évora no dia 4, o João Maria em Lisboa no dia 5 e hoje, o Henrique.
Vá lá príncipes dêem-nos um espacinho, uma pausa.
Hoje também em Campo de Ourique, o cortejo histórico com a figura de Nuno Álvares e outras dessa época que Fernão Lopes tão bem nos conta e que saíu com tão pouca graça.
Gostava - não gostava - de ser menos exigente.
Chateio-me muito com este género «épater le bourgeois», tão em voga e tão aceite.
Ninguém percebia quem era quem, mas os cavalos da GNR faziam muita vista.
Que pena as pessoas não serem o mais importante!
Cavalos.
Imagem.
Porquê «só para fazer vista»?
E o povo gosta?
Tenho muito mais pena ainda!

Tuesday, November 01, 2005

A leitaria Ecila

Começamos hoje a festejar.
Em dia de Todos os Santos, um cozido à portuguesa. Com todos.
Eu a descascar legumes até esta hora.
Cansada. E contentíssima.
Quero assinalar esta festa.
E a confusão que vaI na nossa casa.
Foi sempre assim. Em casa dos pais do Manel.
Em casa dos meus pais.
Agora, sem eles (ou com eles) sentamo-nos à mesma mesa, a mesa que era deles e já vinha tão detrás.
Pomos a uso os mesmos pratos e até os copos de cristal.
Viva este gosto que temos!
Disto os nossos filhos lembram-se. «A mãe sempre faz o cozido?»
E os nossos netos vão lembrar-se também.
E assim se faz a nossa história.
E também a história.
Para todos os que lerem este blog, um dia de todos os Santos com festa, muita festa.

Thursday, October 27, 2005

A OUTRA MEIA

A nossa casa nunca foi arrumada.
Nunca.
A minha mãe dizia que «isto mais parece um acampamento de ciganos» ( coisas de mãe).
Também não gosto desta confusão.
Mas não consigo arrumar muita coisa... Chego a ter dores de cabeça!
Disseste sempre que me vinhas ajudar, que até gostavas.
Quando adoeceste, dessa forma brutal, dizias que eu tinha que esperar.
E eu a saber que não ia acontecer.
Na véspera daquele «nunca mais», disseste-me que ias ao hospital, que nem sabias ..
E tu a saberes.
E eu ...
Tenho tantas saudades tuas!
Quero dizer-te uma pequena vitória que hoje consegui.
Olha, na confusão que são as meias do Manel, lá encontrei «a outra», a azul que não aparecia nunca.e ficou tudo certinho. Aos pares.
E eu a lembrar-me de ti.

Tuesday, October 25, 2005

A OUSADIA PRUDENTE DO MEU TAXISTA

Há pessoas capazes de enfrentar com distância prudente os tumultos do quotidiano.
Ontem espantei-me com um taxista.
Íamos tendo mesmo um acidente pela a pressa, o atropelo de um condutor com um carrão (novo, muito novo).
O condutor incauto desatou a disparatar, um berreiro mesmo.
E o taxista (novo também) que me transportava «Olhe, nem respondo. Ando aqui doze horas. Só posso ignorar.»
E serviu-me de lição para o resto do dia.
Quero para mim esta sabedoria prudente do meu condutor.
E quase nunca sou capaz.
Mas quero.
Para poder viver.
Viver bem.

Sunday, October 23, 2005

O NOSSO AVÔ

Os meus netos começaram a fazer anos.
Além de serem todos rapazes (seis!), fazem anos de seguidinha; desde ontem até ao princípio de Fevereiro...
Emoções quase compactadas!
Ontem foi o Manuel. Um super-príncipe, cheiinho de caracóis. E loiros!!!! Pricipezinho!
O Pedro, quase da mesma idade, veio de Évora, com mala e tudo, para os anos do primo.
Hoje fui passeá-lo, melhor, cansá-lo pelas ruas do meu bairro.
E eu, a descobrir e a contar as ruas e as histórias.
E ele zangado com o barulho de um avião
«Que não podia ser, que o nosso avô estava a dormir.»

Pedro, e vocês todos, gosto tanto que vocês me queiram companheira.
Igual.


Thursday, October 20, 2005

TRIGÉSIMO SEGUNDO ANIVERSÁRIO DE MATRIMÓNIO???? A GENTE AINDA TEM MEMÓRIA!

Hoje o prof. Cavaco Silva anuncia a sua candidatura «há muito anunciada».
A Sic notícias afirmou ontem ,pelo menos duas vezes, «no dia do seu trigésimo segundo aniversário de casamento».
Céus! Eu lembro-me desse casamento! Moravam aqui mesmo em Campo de Ourique! Bem perto de mim! Lembro-me de muitas coisas e a memória nem sempre ajuda. às vezes incomoda muita gente, como os elefantes.
Mas por favor, corrijam. São 42 anos de casamento!
De quem é o engano?
Da Sic?
Do prof Cavaco e da mulher?
Ou 42 anos é demais como imagem?

Realmente, porque é que estou sempre nestas refilices? A minha mãe chateava-se tanto!

Mas o nosso povo não tem lá muita capacidade de contar dois mais dois.

Tuesday, October 18, 2005

ROMA

O nosso amigo P foi para Roma.
Tenho saudades de Roma.
Julgava que Roma era branca. Que ao menos a praça de S. Pedro era branca.
E não.
Aquele tom assim meio amarelado que não sei dizer.
Tenho saudades das ruas.
E de tudo ser tão grande, tão maior.
E de, quando já estava a habituar-me, começar a entender como tudo é bonito. Naquele tamanho inesperado!.
E as lojas como não deve haver noutro sítio. (Aninhas, temos que lá ir. Só nós, claro)
As pontes.
As praças.
As pessoas-estátuas por todo o lado.
E o café Greco.
É claro vi o papa e sinceramente impressionei-me (João Paulo II)
De certo modo, estamos sempre nos lugares que amamos.´
Gosto de ter saudades de Roma.

Monday, October 17, 2005

UMA CHUVINHA BRANDA NO NOSSO SOBRESSALTO

Tantas vezes me surpreendo com a vida. E dificilmente.
Deixo-vos as palavras do José Manuel Pureza, que dizem melhor do que eu este sentir
«As notícias brutais, com rosto concreto, o de um familiar ou de um amigo), fazemparar a nossa história. Invariavelmente, reagimos a elas com indignação: isto não podia acontecer - os resultados assustadoresdo nosso último exame clínico, o acidente grave do colega, a morte do filho mais novo do vizinho, o desemprego inesperado da sobrinha. O fluir da vida certinha, sem sobressaltos, planificada nas páginas das agendas, leva-nos a pairar de um dia para o outro. E, de repente, há como que um violento trambolão que nos magoa. Não suportamos ser despertados para a fragilidade da nossa condição. Revoltados, chamamos a isso injustiça. Mas, lá no fundo, não é senão humanidade.»
Hoje, na cidade, uma chuvinha branda em salpicos de paz.

Wednesday, October 12, 2005

NA FERREIRA BORGES

Encontrei-te aí, entre as folhas finalmente suaves da rua mais bonita do meu bairro.
Uma chuvinha.
E tu também a mais bonita, desde os bancos do já desparecido colégio Figueiredo, na Quatro de Infantaria. Alta e esguia. E os teus olhos azuis. E o sorriso.
Eu, a pergunta habitual «Se tudo estava bem contigo». Que sim, «mas um enervamento constante. Ver o meu marido assim».
«Assim», não te perguntei «como» e não sei o que é.
«Assim» é a tua dor.
E eu a ouvir-te. Só a ouvir-te.
Num envelope usado dei-te o meu telefone.
Que falasses mesmo, que cuidasses de ti.
Continuámos pela Ferreira Borges. Cada uma no seu sentido.
Tu, com esse sorriso nos olhos azuis, disseste a tua noite na rua mais bonita do meu bairro.
Ficou a tua noite no meu dia.

Monday, October 10, 2005

TERESA

Obrigadíssima, Anónima, pelas palavras e por me chamar de Teresa. é o meu nome e gosto dele. E depois o nome que nos deram vai sendo pertença e cola-se com a vida toda, toda.
Lá na escola, onde ainda vou com gosto, às vezes uma colega que me não conheça diz «a senhora». Faço um berreiro. E um pedido forte para que me chame «Teresa».
Obrigada mesmo.

AQUI E ALI A FESTA MAIS ESCASSA DO QUE A CHUVA

Que bom se tenha feito por aí a fests, M&M!
Résteas de esperança, num país onde parece vencer a desonestidade (com tempo de antena!).

Sunday, October 09, 2005

BELA EXPERIÊNCIA

Boa! A tua experiência resultou, Z
Obrigada pelas palavras.

A festa é que não é.
Este país revelou-se imoral.
Ordem de não cruzar os braços.

FIRMEZA

23H47

Estou a ouvir o eng Sócrates.
A firmeza pode parecer teimosia.
Mas é firmeza.
E precisamos tanto de firmeza!

O que é que se está a pensar lá dentro das janelas deste bairro?

COMO ACREDITAR?

20h23
Como acreditar'
Como dizer a esperança?
E quero dizer a esperança.
Quero.

CHUVA / FESTA

Chove. Uma chuva miudinha que apazigua.
E hoje vamos ter a festa no meu bairro.
Eleições... Quaisquer que sejam os resultados, a gente mexe-se.
E vai.
«Ir» é sempre um verbo que diz a esperança.

CHUVA / FESTA

Chove. Uma chuva miudinha que apazigua.
E hoje vamos ter a festa no meu bairro.
Eleições... Quaisquer que sejam os resultados, a gente mexe-se.
E vai.
«Ir» é sempre um verbo que diz a esperança.

Saturday, October 08, 2005

SILÊNCIO DE REFLEXÃO???

Acordei cedo.
O comando liga-me à Sic Notícias.
Palavras muito breves sobre um sismo.
Logo a seguir. Futebol. Futebol. Futebol.
Gostava de não ter nada contra o futebol, mas até tenho. Uma espécie de anestesia para iludir a gente.
E a festa? A festa que congrega?

O notíciário das 7 da manhã silenciou as pessoas. A gente. As histórias da gente, umas «mais» que outras.
E a vida, a vida mesmo, não tem voz.
E não tem vez.
Porquê?

Sei que muitos se interrogam como eu.
E alguém pode ajudar numa resposta?

Thursday, October 06, 2005

TESTAMENTO

No domingo, dia 9, dia de eleições autárquicas, quero
ir pelo meu bairro, ver imensa gente, não dizer em quem voto, e dizer sem dizer.
Quero andar aí pelos cafés.
Não há cravos para comprar, rosas talvez no jardim da Parada.
Quero convocar os amigos para uma sopa e para os primeiros resultados.
Quero ficar nervosa à espera desses resultados.
Quero passar este frenesim aos meus netos.
E que eles se lembrem de mim assim.

ONTEM

Ontem, o M e eu fomos ao palácio da Ajuda.
Comemoração do 5 de Outubro.
Aquela bendita República.
Aquela, que teve à volta umas revoluções de que a minha mãe falava a medo.
Imensa gente.
Uma exposição que se via muito mal.
O dr. Sampaio numa sala conversava o mais que podia.
Um discurso notável, já esperava.
E eu a lembrar-me das greves académicas.
E dessa figura fraca que ele tinha e dessa força e dessa honestidade enormes.
Como ontem.
Como sempre.
Parabéns, dr Sampaio.
É que é preciso ser asssim.
Vertical.
Coente.

Sunday, October 02, 2005

TALVEZ

Vir aqui numa escapadinha, ler o que escrevi e o que me escrevem faz mesmo mudar.
Faz afirmar que tudo mudou mesmo.
Dizer que o ano 2000 foi/é um grande ano
e que a seguir é melhor
e a seguir ainda melhor
e que os nossos gestos
todos
e as palavras todas
e tudo tudo tudo vale mesmo.
A gente é que às vezes tem assim uma saudade que mais parece dum futuro ou dum sonho
uma saudade que confunde o tempo, que confunde os tempos.
e isso está mal, talvez.
Talvez é uma palavra óptima.
Diz imensas certezas, desta forma única que nós pessoas conseguimos dizer uma certeza.

Quando é que eu afirmava a alegria como a Catarina quando escreve «mudou literalmente tudo. Nasceu o R.»? E no ano 2000.
Quando é que eu afirmava o orgulho feliz de M&M quando escreve « também os meus pais apanharam com as mangueiras com um líquido azul. Em Coimbra.»

É que a vida e as histórias dos meus pais, cheias de lutas e de alguns ideais, tiveram o sabor real de muitas, muitas faltas. (Hoje, porque veio uma senhora para engomar as camisas do M, lá estou eu à espera que a outra seque, para lha passar de manhã. Mas é um dia; a mãe do meu pai, secava a ferro de brasa e de noite as camisas dos rapazes, que pela manhã eram os mais bem vestidos de Campo de Ourique; a minha mãe fez a quarta classe quando o meu pai morreu, porque até aí, não valia a pena)
Não quero dizer bem de tantas faltas.
Gostava que a gente acreditasse mesmo que alguma coisa muda. Por nossas mãos. Também.
Gostava ainda de deixar aqui uma pergunta do meu neto Francisco que me parece mostrar essa mudança «A avó acha que há inferno ?» E como eu não respondesse, ele afirmou mesmo «Eu também acho que não. Se Deus existe e se é tão bom, não há inferno»
E ainda desse rapaz, quando viu as primeiras imagens da guerra do Iraque, bem pequenito «Esta guerra está mal. Como é que sabem que estão a matar os maus?»

ALGUMA COISA MUDA MESMO.

Saturday, October 01, 2005

CUMPLICIDADES

Não resisto a dizer sem jeito uma grande ternura à visitante deste blog M M (acho que não está bem ) e também à C (autora de o meu filho e eu ).
É que mudámos mesmo o mundo.
É que o sonho anda por aí nos vossos gestos. Nas músicas. Nos sonhos.
É que o ano 2000 é mesmo diferente.
Melhor.
Bom, muito bom fim de semana ( estou com uma estúpida alergia, deve ser fruto das arrumações que tento e que uma vida inteira nunca tinha feito).

Friday, September 30, 2005

UM SILÊNCIO

Este blog ficou silencioso.
Um bocadinho.
Eu nem tanto.
O tal feitiozito...
Não tem sido muito fácil esta falta de horário obrigatório, das campainhas, das entradas nas aulas. Era tudo uma espécie de 1ª Companhia. E eu sempre a perguntar aos meus alunos «Quando é que isto deixa de ser uma tourada?». Mas acabava sempre tudo muito bem. Uma cumplicidade enorme.

E a propósito de tourada, esta cena no país...
Na 4ªfeira eu, no«Meu Café» surpreendida pelo Manuel M Carrilho, sem me perguntar nada, a dar-me imensos papéis, sorrisos, a Bárbara uma pulseira rosa. Ninguém ouve ninguém. Um despachar de palavras...palavras.
Sinceramente acho que lutei pelo 25 de Abril.
Imenso sonho. A certeza de que pelo menos no ano 2000 (que era tão longe!) não havia mais guerras.
Nem pobres.
Nem injustiças.
o meu pai a apoiar. Sempre.
Todas as greves académicas. Alguns sustos...Uma mangueira à minha frente no Campo de Santana com azul de metilino (não sei se se escreve assim).
E só não fomos presos na cantina, porque perdemos o autocarro.
Mudámos o mundo?
Mudámos «quase». de certeza.

E agora, no dia 9????

E agora????

Wednesday, September 28, 2005

ONTEM, MÃE

Ontem voltei à escola. Tentativa de vencer um rio sem ponte.
Ontem tentei a ponte.

Ontem calámos o teu nome, mãe.
Calámos - não calámos? - esta ausência/presença para sempre.

Ao fim da tarde, caminhámos e fomos à missa. «Queres que vá dizer o nome da tua mãe?» O Manel disse que não.

Ontem.
Sempre.

Mãe.



Tuesday, September 27, 2005

E ...

e O Manuel e eu a namorarmos no Ruacaná, até às 11h da noite (limite máximo para voltar para casa.. namoro nos anos 60 só assim... mais umas escapadinhas muito secretas que não confessámos nem confessamos)
O Paulo e o Jorge tinham nascido. Lá estavam numas alcofas.
Hoje vamos lá almoçar imensas vezes.
Sempre bom.

A ALOMA REABRIU!
IGUAL!
OS MESMOS PASTÉIS MAIS PEQUENOS... A CRISE, MAS TÃO BONS...

Monday, September 26, 2005

O VERDE GAIO E OS PAVÕES DO JARDIM DA PARADA

Lembro-me sim dos pavões do Jardim da Parada. Um barulhão à noite... Do Verde Gaio a levar comida a casa, não me lembro mas sei que sou desse tempo.
Sou até do tempo da fava rica. Uma panela enorme, à cabeça de uma senhora que subia as escadas do nosso prédio. Era o cheiro do meu acordar. Um cheiro horrível, delícias do meu pai.
E o quartel com magalas e tudo. Eu a fazer esse caminho, de casa para a leitaria, da leitaria para casa, miúda, tão miúda, muito direita, muito rápida. A garantir à minha mãe que ninguém se metia nunca comigo. Mentira, mãe...

E o Canas! Eu, felizmente inconciente, curiosa, dezasseis anos, a distribuir à porta desse café os papéis da candidatura do Delgado. Os meus pais deixavam, incentivavam até. Hoje agradeço-lhes muito. Talvez eu nunca tivesse tido a coragem de o deixar aos meus filhos.

Tantas, tantas ruas,
recantos,
gente por onde nos entra o sonho. E faz a vida.
Para sempre.
Para sempre mesmo.

Bem-hajam.

É que não vai dar para desistir da esperança.

Friday, September 23, 2005

PENSAR CHATEIA E DÁ MUITO TRABALHO

Pensar chateia. Dá trabalho.
Li as achegas ao meu comentário de ontem.
É a Comincação Social.. Mas a gente tem vindo a deixar.
Estou tão zangada.
Pensar dá um trabalho enorme. As imagens passam. Sem que a gente se pergunte «o que é que achaste?» ou diga que não pode ser.
É vulgar, entre nós, A essa pergunta «O que é que achaste?» haver um vazio e assim «Jà nem me lembro, não liguei.»
E como é que num país sem dinheiro para nada, o consumo das revistas cor de rosa, não pára de aumentar?
A gente deixa mesmo.
Bom, vou começar o dia.
Parece que estou a ficar radical.
E não me arrependo. Mesmo nada.

Thursday, September 22, 2005

ESTOU ZANGADA

Não gosto de zanga-me. E não desisto de causas.

Desistir não desisto.
Mas estou zangada.
Fátima Felgueiras. Uma multidão de apoiantes. Entusiasmados.
Onde é que eu estou.
Sempre refilei com muitas coisas. Um amigo até já me ofereceu simbolicamente um livro de reclamações.
Filas enorme nas paragens de autocarro. Autocarros que não são para pessoas.E tantas coisas.
Pronto, refilo
A minha mãe não percebia e irritava-se. Dizia. «Para que é que dizes essas coisas? Não resolves nada.»
Não acredito, mãe. Não acredito que não resolva nada.
E agora Fátima Felgueiras. E campanha em directo. Paga também por mim.

Estou mesmo muito, mas muito zangada.

Usemos a cABEÇA E SEMPRE QUE POSSÍVEL AS PALAVRAS.

Wednesday, September 21, 2005

NÃO À REFORMA

Ontem foi fantástico.
Tenho andado sem jeito a ver o é que faço ao tempo da reforma... Não é deprimida. É a tentar os meus passos doutro jeito. E com saudades, verdade.
Mas ontem um amigo escreveu-me um email em que dizia «Tu não tens reforma possível. Covence-te disto.» Fiquei tão contente, mas tão contente...

Este Blog tem sido também um espaço de alegria. Outra janela... E isso é muito bom!

Monday, September 19, 2005

AINDA AS JANELAS

Também são histórias
e são laços
e são gente as janelas que dão para a frente.
A esta hora, vejo a tua, Mariana.
Há luz na sala.
O que é que estarás a fazer? Já nem te lembras daqueles verbos enormes...
No ano passado foste minha aluna e foi tão giro quando escreveste um texto sobre a tua rua e de repente descobrimos que moravas mesmo em frente de mim.
No dia seguinte toda a turma sabia «que a professsora teve visitas ao fim da tarde» e «que o marido da professora é aquele senhor que passa o dia no computador».

Tenho saudades tuas. Tenho saudades de vocês todos.
E da escola.

Qualquer dia, antes que chova, convocas a tua turma toda e vêm lanchar no meu quintal.

OK?

CAMPO DE OURIQUE

O meu bairro é Campo de Ourique.

Está na cara , não está?

Sunday, September 18, 2005

PALAVRAS

Ainda bem que as janelas das traseiras não reproduzem frases.
Agora mesmo eu disse este non sense
«Queres que eu ponha o pulso ao pé dos pés?»

Manel - O quê?

Eu- Sim, o pulso elástico ao pé dos pés elásticos.

Bem, ...

As janelas das traseiiras não contam tudo.

JANELAS DAS TRASEIRAS

No meu bairro sabemos quase tudo pelas janelas das traseiras. Sobretudo à noite. Dá mais tempo.
Se nasce uma criança, se alguém está doente, há mais luz nas janelas das traseiras.
A semana passada recebi no voice mail esta mensagem «Não se aflijam se não virem a minha luzinha. É que vou uns dias para fora.»

Hoje a luzinha voltou. Telefonei-lhe.

As janelas das traseiras são laços.
São gente.
São notícia.
São ternura.

E isso é muito, muito bom.

Saturday, September 17, 2005

INÍCIO

Obrigada, André...
Obrigada, Aninhas...
E fica por aqui a expressão escrita dos agradecimentos, que são tantos!

Para o/a visitante que não sabe como me há-de chamar, tudo serve e isso é bom, porque tenho imensos nomes o que também é bom.
Eles vão ajudando a contar as histórias de que tem sido fe vai sendo feita a vida. Não vou explicar todos hoje. Mas, com a memória da Leitaria Ecila, Teresinha é o que melhor se lhe cola.

Mãe do André, mãe da Maria, Avó Teté para os cachopos (menos para o António que ainda não sabe dizer, claro), a mulher do Manel, a Teresa Frazão, a setora, a professora (gosto muito deste nome).
E calha tão bem este Blog, agora que eu pedi reforma (65...tem que ser) e ainda não me habituei.
E fica por aqui hoje. Estou tão contente com este espaço de encontro e troca, porque tem sido isso a minha vida toda.

Não tenho o humor do André,
mas quero ter uma palavra para cada um.

Thursday, September 15, 2005

Ecila

... foi o nome da leitaria onde passou a meninice. As histórias das pesagens, dos rótulos de água mineral trocados, dos clientes, do bairro que ainda é o seu. Este blog é para a mãe escrever o que lhe der na gana. E ganas, sabemos nós que não faltam por aí...
Dê-lhe vida e boa sorte.