Wednesday, September 13, 2006

REQUIEM PARA O SENHOR RODRIGUES DA ALOMA E PARA O PADRE MESSIAS DE TIBALDINHO

De vocês dois, a vida.
Coisas como, sem que eu pedisse, o senhor Rodrigues sabia já o que eu queria «os folhados da Aloma para o André» ou os copos que, pequenito, ele partiu e «o André vai pagar quando receber o primeiro ordenado». E sempre essa pergunta, esses cuidados «E a Maria? E o Bernardo?». Coisas outras, como o cafezinho que a minha mãe tomava ali de pé, linda, bem penteada, de casaco de astrakan, ritual cumprido antes da missa do meio dia.

Do padre Messias, lá em Tibaldinho, os pratos que cada ano me trazia «um presente para a senhora» e eu sem lugar para os pôr. No centro da mesa da casa de jantar, quando vinha, iam-se substituindo, um dia, um, no outro dia, o outro.
O que é que agora fazemos aos pratos?
E os almoços em que os dois festejávamos os anos? O Manel com uma paciência de santo, lá ia buscá-lo, lá ia levá-lo ao seu paçal de eremita. Esses almoços de três lugares, sempre com um de nós em frente da cadeira vazia. Nunca lhe disse isto, mas era incómodo.
De repente, saltava-lhe um entusiasmo enorme, o mesmo com que fez a vida, o mesmo que lhe permitiu lutar até ao fim com esse cancro estúpido, a que nunca deu o descanso.
Saltava-lhe esse entusiasmo pela música para as crianças, pelos bordados, pelas novas tecnologias para a agricultura.

Fazem-nos falta hoje. Fazem-nos falta sempre.
A vida de vocês dois valeu e vale muito. Muito.

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