Sunday, January 29, 2006

REQUIEM

Levámos esta manhã o teu corpo a enterrar.
Dolorida obra de misericórdia!

No carro, olhei no telemóvel o teu número.
Gostamos de telemóveis.
Neste tempo que anunciou a tua morte, usámo-los muitas vezes.
Eles foram o meio quase certo de ouvir a tua voz.

Conversávamos
E ainda que soubéssemos tão bem o que queríamos dizer, escondíamos o medo e a dúvida em palavras banais.
E em risos.

Vi no telemóvel o teu número e não quis apagá-lo.
Que tolice irracional.
Agora não precisamos mais deste objecto.

É que estás sempre, sempre em linha.
E escutas.

Olha, envia-nos como puderes uma mensagem qualquer que nos garanta
que é mesmo verdade
a tua vida plena.

Faz-nos mais esse gesto de amor,
Como os outros muitos que tiveste.

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