Tuesday, May 02, 2006

PARA DIZER O MEDO

Não gostei, mas fui. Operação às varizes.
O corredor.
E a maca.
Muitas horas.
E medo.
Racionalmente sem razão.
Sessenta e cinco anos aproximam-me cada vez mais do medo.
Cada vez mais da morte.
E eu ali no corredor.

Durante aquelas horas todas, pensei muito no Manuel cá em baixo.
Fui pedindo que lhe dessem recados.
Estendia assim a mão.
Procurei mostrar-me forte.
Rezei. Quis rezar o terço, mas confundi-me entre um Pai-Nosso e as Ave- Marias todas seguidas, que não conseguia contar.
Agarrei-me todo o tempo a uns lenços de papel.
Serenidade…

Agora, de volta, este medo ainda me possui. Tenho pesadelos.
Tento alguns passos na rua, mas ainda lhe não pertenço.
Entro num café do meu bairro, eu e um livro. Geralmente Lobo Antunes, tão perto do que sinto.

Talvez amanhã, a rua esteja mais firme.
E os rostos tenham nomes.
Outra vez.

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