Thursday, May 18, 2006

BOA TARDE, SENHOR COSTA

Não perca esse bom hábito, senhor Costa, de estar aí à porta da sua casa.
Todas as tardes.
Peço-lhe, por favor, que não perca esse hábito.
Quando a sua mulher morreu, deixou de ter aquela companhia, que já era difícil, mas que era companhia.
Passou então a estar mais tempo à porta.
Vai falando assim com todos nós.
E cada um de nós, pode também falar consigo.
O senhor faz-nos falta, senhor Costa.

Até já dei comigo a ver a roupa que usa. Um dia o pull over estava menos limpo e eu a pensar que não podia ser, que tínhamos que lhe dar «uma forcinha» para que se cuidasse
No dia seguinte, o senhor já estava bem, com aquele fato azul, gravata e tudo.
Boa, senhor Costa! Boa, mesmo!
«Olá, senhor Costa. Como vai?»
«Vamos andando. Que remédio.»
«Enquanto vamos andando, é mesmo bom»
«É verdade, é verdade»

Esteja por aí todas as tardes, senhor Costa.
Faz-nos falta.
Falamos.
Existimos.
Neste bairro, ainda somos gente.

No comments: