Sunday, April 06, 2008

PARA LER E PENSAR

Porque inteiramente de acordo, transcrevo parte do artigo de Fr Bento Domingues publicado no domingo, dia 6, no jornal «Público» com o título Educação e cidadania,

«1. Alguns professores mostraram-se mais à vontade na televisão e na rua do que na escola. Nas televisões e na rua, foram expeditos a descompor o primeiro-ministro, a ministra, o ministério e os encarregados de educação. Na escola, queixam-se de não conseguirem dar aulas por medo dos alunos. Estes gozam de um estatuto que os torna indomáveis. Se, ainda há pouco, os professores eram considerados responsáveis pelo insucesso escolar, agora, a indignação voltou-se contra os alunos e os pais: cada turma deveria ter um segurança e cada professor um guarda-costas, sem recorrer aos psicólogos, aliados naturais da permissividade.
Alegrou-me ver, na televisão, o Prof. José Gameiro, psiquiatra, resistir à histeria criada em torno de um telemóvel – um dos novos símbolos mais estimados de adolescentes e jovens – transformada em arma política. Em relação à boa disciplina e segurança, tenho a referência da minha escola, nos começos dos anos 40 do século passado: nada de falinhas mansas; o marido da professora era um legionário de mão pesada, a quem ela recorria com frequência. A delicadeza dos pais sublinhava: “só se perdem as que caem no chão”.
2. Tenho, no entanto, alguma dificuldade em acreditar que alunos, professores, pais, funcionários e responsáveis do ministério se encontrem bem identificados nas imagens registadas nas últimas semanas. Aproveitando a onda, os professores queixosos talvez não sejam o único espelho da escola em Portugal.
Os meios de comunicação, em alguns casos, ainda não se libertaram da triste sina que lhes colaram: uma boa notícia não é notícia. Depois de terem colaborado na liquidação do ministro da saúde, acabaram por tecer os maiores elogios às medidas que ele tinha tomado, lamentando a sua saída como vítima de uma política eleitoralista...
Por outro lado, dizer que, em Portugal, é sempre assim, que nunca sabemos valorizar o que temos, que estamos sempre na cauda de tudo até na cauda do reconhecimento dos nossos méritos, alarga a maledicência, mas não cria alternativas. Os problemas não estão, isoladamente, na família, na escola, nos meios de comunicação, no futebol, na sociedade civil ou no Estado, nem se podem atribuir todas as graças e desgraças à globalização. O recurso a bodes expiatórios, fixando-se só em algumas pessoas, grupos, corporações, instituições, etnias, acaba por ter culpados de turno, mas não gera correntes diversas de cidadania responsável, que respeitem o princípio da boa medida e do bom senso.»

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