Digo-tos, Senhor,
esses setecentos migrantes
que atravessavam o mar rumo a Itália.
E que naufragaram.
Bem sabes
que eram homens e mulheres
como eu.
Eram teus filhos
Eram meus irmãos.
Vinham guiados pelo sonho
de uma luz ou de uma estrela que rompesse a escuridão dos dias.
Guiados pela esperança de
uma mão solidária e de um pão repartido.
Guiados pelo vislumbre de um
lugar à mesma mesa.
Eram vítimas de guerras.
Vítimas de uma vida
sufocada,
perseguida e faminta.
De uma vida ferida e expIorada.
E o que procuravam,
Senhor, era apenas uma vida melhor.
Não procuravam uma vida
fausta nem riqueza.
Nem poder.
Apenas uma vida melhor.
O seu lugar, o seu quinhão
no mundo que para todos criaste.
Igual.
Atravessaram esse mar de esperança,
E naufragou a esperança
num grande mar de morte.
E naufragou a esperança
num grande mar de dor,
Digo-tos, Senhor, a esta
hora.
Digo-tos sempre.
E entrego-te na noite as minhas
mãos
que por dom de todos se
fazem companheiras.
1 comment:
Sem palavras.
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