Saturday, October 11, 2014


FIO QUE DESLIZA

Não consegui encontrar imagens das quintas que o meu avô cultivava no Campo Grande.
Também nelas vivi, criança e menina.
Feliz e livre.
Uns quatro anos mais tarde já não havia quintas,
Não mais esses lugares onde crescera entre papoilas, vacas, hortaliças.
E aí voltei entusiasmada e estranha, quando entrei na faculdade, o primeiro ano de Letras, de Direito, de Medicina, no Santa Maria.
Para vir para Campo de Ourique tomávamos um autocarro (verde) numa paragem na grande rua.
Entrei num mundo outro, que estranhei e amei.
Num caderninho de poemas de 58 leio esta estranheza em metáfora de autocarro.
 Assim :
" Que estranho é estar impaciente
à espera que passe um autocarro verde.
Como se ele não tivesse que vir
e não fossemos levados como os outros
e sentados depois num banco sempre igual p´ra cada um,
um banco que não é azul,
mas verde
como a realidade verde
dum autocarro-vida que desliza.»

Bom seria voltar a esta unidade.
A infância, uma quinta.
A juventude, a novidade de uma paragem de autocarro-vida que desliza.
Que sempre desliza.

 E agora volto a esta malha, prece de afecto e de ternura. E julgo que desvendo o mistério.
 Fio / Vida que desliza e se firma.
 Sempre em pontos de afecto.
 Lançado na infância
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