TERESA
Quando eu era pequenita não gostava do meu nome. Não o detestava,
mas não gostava muito.
Tenho quase a certeza que mo deram por
causa da mãe da tia Ester que se chamava Teresa. Essa razão também não me
agradava nada.
Os meus Pais tinham no oratório uma imagem de santa
Teresinha de Lisieux e no meu quarto havia um quadro de moldura azul assim
piroso, também com a mesma santa cheia de rosas e olhar submisso.
E era dessa submissão que me falavam como virtude.
Um dia, um padre carmelita pediu até à minha Mãe se me
deixava vestir de santa Teresinha para eu ir na procissão. E lá fui. Cheia de
medo de me portar menos bem.
Esta santa assim não dava comigo.
Foi muito mais tarde que o Manuel, entusiasmado, me trouxe um
livro e esse sim revelava uma Teresinha de Lisieux revoltada e insubmissa e não
menos santa por isso.
E foi também por essa altura que tanto me
interessei por Teresa de Ávila. Pela sua lucidez. Por tantas noites. E por
tantas dúvidas.
Uma santa capaz de pensar, de se interrogar e de
sofrer a condição humana.
O meu amigo pe Mário Teixeira, com quem
sadiamente tive tantas brigas, disse-me um dia ou mais que um dia «Tu e Teresa
de Ávila»
Ficou em casa dele o vídeo da sua vida que me
quis dar.
Dela quero lembrar e quero viver "Nada te
turbe, nada te espante. Tudo passa.(…). Só Deus basta!"
Ao longo dos anos o meu nome tem
vindo a fazer sentido.
No domingo passado, Teresa de Calcutá foi proclamada
santa pelo Papa Francisco.
Dessa lutadora pelos mais pobres de entre os pobres,
transcrevo as palavras
«Tantas questões não respondidas vivem em mim. Temo
revelá-las por causa da blasfémia. Se houver Deus, por favor perdoe-me.»
Sim, gosto muito do meu nome.
Teresa.
A dúvida, a dor, a noite, a firmeza de alcançar a fé.